Review de ‘Future Warriors’, do Atomkraft: histórico!

Em 1985, num dos mais célebres textos já produzidos pela crítica musical, Mark Putterford deu a nota 0.1 a Future Warriors, álbum de estreia do Atomkraft. Para a Kerrang!, ele escreveu que a banda, à época formada por Tony Dolan (baixo e vocais), Rob Matthew (guitarra) e Ged Wolf (bateria), “soa como um canteiro de obras na manhã de segunda-feira” e acrescentou que “em um mundo ideal, a Neat Records responderia por atentado ao pudor por permitir que esse bando de idiotas lançasse um disco pela gravadora”.

Curiosamente, a resenha em questão pode ser lida na íntegra onde menos se esperaria: no verso do pôster que acompanha a presente edição em CD de Future Warriors, mais novo título da série Rare Archives, fruto da vitoriosa parceria entre Voice Music e Rock Brigade Records.

O formato é aquele já consagrado: slipcase, encarte recheado com letras e fotos, bonus tracks e som masterizado para ouvidos exigentes por Fabio Golfetti.

https://youtu.be/XEnGr02IOmc

A história do Atomkraft teve início em 1979; muito antes de o saudoso Malcolm Dome ter utilizado a nomenclatura thrash metal para definir o som de bandas estadunidenses da pesada dos anos 1980, como Metallica e Slayer, e também antes de o Venom – do qual Dolan se tornaria vocalista e baixista em 1989, permanecendo até 1992 – lançar Welcome to Hell (1981) e virar do avesso a cena metálica do Reino Unido a ponto de inspirar toda uma molecada do lado de cá do Atlântico.

O que se ouve em Future Warriors é o resultado de cinco anos de amadurecimento a duras penas como coadjuvantes de um movimento em que grana e prestígio eram exclusividade dos protagonistas. Podendo estar matando ou roubando, Dolan e os outros optam por expressar sua raiva de maneira lícita e saudável, seja prevendo o fim do mundo (Starchild, Burn in Hell), seja batendo no peito com orgulho da própria imundice sonora (Total Metal, presente também na versão demo de 1983).

Ingrediente fundamental à receita, Matthew – que segundo Putterford está para a guitarra como Herodes para os recém-nascidos – compensa sua limitação técnica com um timbre que parece a combinação de encordoamentos velhos com a total supressão dos médios em seu amplificador.

Na bateria, a exemplo do que faria no Tysondog, Wolf prefere a segurança do básico ao risco do ousado. O mesmo pode-se dizer do baixo, embora pareça que Tony está tocando com um martelo no lugar da palheta, o que, convenhamos, é indiscutivelmente adequado ao sujeito que até hoje atende pela alcunha de “Demolition Man”.

(Marcelo Vieira)