Batushka tem Noite de Liturgia em São Paulo

Fabrique Club, São Paulo/SP (18/05/2018)

Sexta-feira, 18 de maio. Friozinho em SP. Clima propício para a noite ritualística que estava por vir. Um culto. Uma missa. Negra? Talvez.

Antes e depois do show, dentro da casa uma fila gigante para comprar merchandising oficial da banda. De impressionar.

O show estava marcado para 21:00 hrs., porém apenas às 21:30 hrs. alguma movimentação começou no palco, mas apenas no tocante ao cenário. Esperava-se que fossem acesos os incensos e afins, porém, conforme apurado, ocorrera um incidente em um show recente, quando um fã pulou ao palco e na confusão o palco quase incendiou por conta dos incensos. Então, por precaução, não foram acesos. (Os alérgicos agradeceram).

Os ceca de 400 presentes se amontoam próximo ao palco do Fabrique quando às 21:45 hrs. começa a soar uma introdução mecânica, porém só exatamente às 22:00 hrs os primeiros sinos de Litourgiya, o álbum de estréia e até o presente único álbum da banda, começam a soar.

Os membros se posicionam um a um. Com suas roupas de sacerdotes, com os rostos cobertos. Ninguém sabe quem são exatamente. Sabe-se que são poloneses e que tocam em bandas conhecidas. E que eles são incríveis. Quem esteve lá pode comprovar.

O clima é denso. Pesado.

Para se entender o que se passou, é necessária uma breve explicação sobre liturgia e sobre a banda. Conforme o dicionário de nossa língua pátria, liturgia trata-se do “conjunto dos elementos e práticas do culto religioso (missa, orações, cerimônias, sacramentos, objetos de culto etc.) instituídos por uma Igreja ou seita religiosa, sacramentos, objetos de culto etc.) instituídos por uma Igreja ou seita religiosa.” E assim se deu o show, um ritual ininterrupto; Todos os elementos que compõem uma liturgia são o pano de fundo para o black metal melódico, com uma pegada puxando para o “atmosférico”, mas com espaço ainda para o bom e velho tradicional black metal com vocais berrados e riffs rápidos e devastadores, com a adição de um vocal barítono fazendo contraponto, além do coral que dá ares ritualísticos ao conjunto.

Todos esses elementos, sozinhos, não trazem nada de novo. Porém, somados, se sobressaem, inovam e encantam numa época em que o “mais do mesmo” é abundante. Batushka parece com… Batushka. E assim foi o show.

O coral se posicionou. Coral este formado por três cantores locais (paulistanos). Em seguida os músicos foram entrando um a um, até que o vocalista entrou com uma espécie de cálice, saudou a todos, recitou algo e em seguida, após proferir “Batushka, Litourgiya”, se posicionou em seu púlpito dando início à liturgia, tal e qual ao disco, na mesma sequência, e na íntegra.

Yekteniya I foi executada com maestria. Platéia atônita. E assim seguiu-se o show, tecnicamente perfeito.

Yekteniya II vem como um arrebatamento e finaliza com seus riffs melódicos, quase doces, para depois a tempestade cair sobre o palco. Yekteniya III começa suave, alguns doces acordes antecedem o caos, um caos que prende, que hipnotiza com uma sequência de vocais barítonos, berrados e o coral. O público responde, tenta acompanhar a letra (ou cântico?). Essa música tem um refrão que soa engraçado aos ouvidos mais atentos, e que ficou mais engraçado com o público tentando acompanhar. Algo que soa como “shuá, shuá”. E o público em peso parecia cantar “shuá, shuá”. Se inicia Yekteniya IV, que possui ares de missa negra em seu começo. O “pastor” recita seus versos e logo chama um black metal dos mais viscerais. E assim segue a missa, ou o show.

Mais sinos, acordes de guitarra e os vocais rasgados chamam Yekteniya IV, executada com maestria, assim como Yekteniya V, para na sequência o pastor pedir que todos ficassem em silêncio enquanto a intro de Yekteniya VI soava. A intro contém apenas vozes, foi aí que o coral começou a dar umas desafinadas (foram várias). Mas nada que comprometesse o show e sua grandiosidade.

A atmosférica Yekteniya VII soa e parece que proporciona um quase transe nos presentes. A execução é brilhante.

Antes da última música, Yekteniya VIII, o vocalista pegou um quadro que continha o mesmo desenho da capa do disco, quadro este que esteve o tempo todo exposto em seu “púlpito”, ergueu-o e exibiu a todos. Após a execução da mesma, por sinal uma das que contém elementos mais “black metal oldschool”, cumprimentou os músicos, ainda de forma ritualística e se retirou, sendo seguido um por um.

E assim, simples assim, sem firulas, sem delongas, por durante exatos 47 minutos a banda surpreendeu. E ao mesmo tempo foi previsível: afinal todos previam que seria inesquecível. E assim foi.

(Marly Cardoso)