Dogma ao vivo em São Paulo: review e galeria de fotos
23/7/2024, Casa Aurea
São Paulo-SP
No dia 23 de julho, terça-feira, o Casa Aurea foi palco dos shows das bandas Dogma e The Heathen Scÿthe, duas grandes revelações do Heavy Metal mundial e nacional que têm se destacado em diversos aspectos, especialmente em sua estética e sonoridade. A primeira a se apresentar foi a banda brasileira, que não só entregou uma performance fervorosa, mas também proporcionou uma experiência imersiva para o público. A plateia se envolveu do início ao fim com as temáticas ocultistas e pagãs pós-apocalípticas presentes nas letras de suas músicas, conceito lírico que deu origem ao termo “Post-Apocalyptic Pagan Metal”.
No entanto, o sexteto não se limita a uma única influência, transitando desde o Heavy Metal mais clássico até o mais moderno, o que torna a banda verdadeiramente diferenciada e especial. Como mencionado anteriormente, a banda se destaca não apenas pelo seu som, mas também por seu visual, que pode ser apreciado em seus videoclipes.
Durante a performance, tanto os fãs antigos quanto os novos encheram a banda de elogios, especialmente o vocalista Tato DeLuca, que demonstrou todo seu talento incorporando o personagem Da’at, líder do Clã Visari, interagindo com todos enquanto segurava sua foice e usava a icônica cabeça de bode em seu pedestal. O repertório incluiu algumas músicas do EP de estreia, que ganharam uma intensidade extra ao vivo, como “Into the Fire”, “Welcome (to the dead)” e a música que intitula a banda, “The Heathen Scÿthe”, que foram executadas de forma impecável pelos experientes Paulo Roveri e Bruno Luiz (guitarras), Fernando Giovaneti (baixo), Marcus Dotta (bateria) e Flavio Sallin (teclado).
Além disso, foram incluídas algumas canções inéditas, as quais serão lançadas em breve, com destaque para “Siras, Etar, Besanar”, que tem um início marcante e que levou o público a cantar junto desde o começo. “Rune & Blood”, outra música nova, marcou o encerramento do show, que proporcionou não apenas uma experiência musical singular, mas também teatral e envolvente. Sem muita demora, apesar do atraso de vinte minutos, as freiras da Dogma logo tomaram seus lugares no palco, levando todos ao êxtase logo que iniciaram o show com “Forbidden Zone” e “Feel the Zeal”. Desde o lançamento do álbum homônimo no final do ano passado, a banda tem sido aclamada pela sua imagem enigmática e as letras que incentivam pela busca da liberdade sem se prender aos valores cristãos.
Esse conceito lhes rendeu o apelido de “Ghost de Saias”, como era de se esperar, devido ter uma certa semelhança com a banda sueca liderado pelo vocalista Tobias Forge. Há dois dias, elas se apresentaram para um amplo público no Odin’s Krieger Fest, no Carioca Club em São Paulo, dividindo o palco com a banda italiana Wind Rose. Apesar do show extra não ter atraído muita gente, o que não surpreende em plena terça-feira, os verdadeiros fãs da Dogma e aqueles que perderam a oportunidade de vê-las no domingo puderam apreciar de pertinho toda a sua performance, visual (que com certeza faria qualquer católico ou evangélico sentir um frio na espinha) e o seu Hard ‘N Heavy explosivo, que funcionou tão bem ao vivo quanto no disco.
O repertório foi basicamente formado pelas músicas do primeiro álbum, tocado na íntegra e na ordem cronológica. A plateia reagiu de maneira exultante, com aplausos e elogios ascendentes. Muitas canções foram entoadas com entusiasmo, como “My First Peak”, que recebeu uma calorosa recepção graças aos seus ô, ô, ô no refrão, e “Made Her Mine”, antecedida por uma dança exorbitante, performada por uma menina que estava caracterizada com o mesmo visual da banda. Mais adiante, “Carnal Liberation” proporcionou um show de luzes e cores vibrantes devido ao seu ritmo acelerado. Na cativante “Free Yourself”, a vocalista Lilith exibiu todo o seu charme, enquanto a intensa “Make Us Proud” contou com a participação marcante de The Dark Messiah dividindo os vocais com Lilith no refrão.
Perto do final, as guitarristas Lamia e Resalka, a baixista Nixe e a baterista Abrahel fizeram uma homenagem às lendas do Metal com um medley incrível que incluiu sucessos como “Walk” (Pantera), “The Trooper” (Iron Maiden), “Master Of Puppets” (Metallica), “Symphony Of Destruction” (Megadeth), “South of Heaven” (Slayer) e “Laid to Rest” (Lamb of God), incendiando o íntimo Casa Aurea. A mesma energia contagiante foi sentida na emblemática “Father I Have Sinned”, o primeiro single e uma das últimas músicas a ser tocada, levando a plateia ao delírio máximo.
Em suma, o show foi extraordinário e extremamente cativante, superando todas as expectativas em termos de performance, presença de palco e aspecto musical, deixando todos os presentes satisfeitos e na expectativa de revê-las em breve. Diferentemente de outras bandas, elas mantêm a nacionalidade e identidade, principalmente, preservada. Algo que deve ser destacado, tanto que não houve agradecimentos e nem a tradicional foto no final da apresentação. Elas se comportaram e interagiram de acordo com o que achavam melhor, sempre que notavam alguém filmando com o celular, faziam questão de olhar diretamente para as lentes, especialmente a baixista Nixe, que lançou um olhar amedrontador para quem vos escreve quando a filmei executando “The Dark Messiah”, música que marcou o encerramento do show.
O único ponto negativo da noite foi a iluminação do palco, muitas vezes escura durante a maioria das músicas, ao contrário do show da The Heathen Scÿthe, que estava impecável nesse sentido. Os fotógrafos enfrentaram um desafio para capturar ótimas fotos, mas cada um fez o melhor possível. Fora isso, não há do que reclamar! Que as irmãs retornem o mais breve possível para nos abençoar e conquistar os quatro cantos do mundo com a sua ideologia, disso não tenho dúvidas.
Por Gabriel Arruda; Fotos: Amanda Vasconcelos