Entrevista exclusiva com Rudy Sarzo

Rock Brigade: Existe um álbum, entre os muitos de que você participou, que você gostaria que fosse mais reconhecido pelos fãs?
Rudy Sarzo: Depois de ter um álbum em primeiro lugar [nas paradas da Billboard], o primeiro disco de estreia de heavy metal a chegar ao número 1 [nos Estados Unidos], o que mais eu poderia querer? Isso é uma bênção! Quando fizemos o disco [Metal Health], esperávamos vender 50 mil [cópias] para que pudéssemos fazer outro. A vontade era essa: fazer outro disco. E depois outro. E mais outro. Isso é o que importa para mim. Não se trata de correr atrás de gravar o melhor disco já feito; isso não seria honesto nem sincero de nossa parte. O que eu queria era fazer música e, quando faço música, meus ouvidos estão atentos ao que os outros músicos estão tocando. Essa é a música que vem de mim; é o resultado dessa conversa. É assim que vejo fazer música; é assim que sempre fiz e sempre farei. Esperávamos vender 50 mil cópias, ponto. Não fizemos o álbum pensando que ele entraria para a história. Na verdade, isso nunca passou pelas nossas cabeças.

Já que você mencionou o Quiet Riot, visto que Kevin DuBrow e Frankie Banali não estão mais entre nós, você vê sentido em a banda continuar sem os dois?
Trinta e oito anos atrás, quando Randy Rhoads faleceu, eu não tinha maturidade. Eu não sabia muitas coisas que sei agora. Hoje entendo a responsabilidade de cada músico que é deixado para trás quando seus companheiros de banda morrem. Cabe a nós manter sua memória e sua música vivas. Se não fizermos isso, acabou. Acaba também a autenticidade da coisa. Porque estávamos lá, fomos parte dessa criação, e trazemos isso conosco. Sei como é tocar Crazy Train com Randy Rhoads; eu estava lá. Às vezes participo de shows tributo ao Randy; shows completos com músicas que ele compôs e gravou, principalmente com o Ozzy [Osbourne].

“É provável que eu seja o único cara [presente] que chegou a tocar com o Randy Rhoads, portanto, é minha responsabilidade conferir essa autenticidade e compartilhá-la com todos que desejam celebrar a memória do Randy, seja o público ou os demais músicos.”

Você já esteve no Brasil inúmeras vezes como integrante de várias bandas diferentes. Lembro de ver você ao vivo pela primeira vez com o Dio em 2006 e, depois, você voltaria com Blue Öyster Cult, Queensrÿche e até mesmo solo. Qual dessas vindas para cá foi a mais especial?
Com certeza, [a vez com o] Dio. Ronnie James Dio é provavelmente o ser humano mais especial e mágico que já conheci e com quem já toquei. Todas as coisas maravilhosas que você ouve sobre Ronnie são verdadeiras. Aprendi muito com ele, não só sobre música, mas sobre ser um ser humano. Sinto muita falta dele. 

Unindo os tópicos das duas perguntas anteriores, recentemente você colaborou com a banda brasileira No One Spoke num tributo ao Ronnie, certo?
Sim, fui convidado pela banda para participar de uma versão de Rainbow in the Dark. Ronnie sempre ficava lisonjeado com esse tipo de homenagem vinda de outros músicos. O nome disso é gratidão. Ouvi o som da banda e achei incrivelmente diferente; era algo como uma cantora de ópera cantando a música do Ronnie, e ele adoraria ouvir isso. Então, eu basicamente participei como uma forma de agradecê-los, em nome do Ronnie, por gravarem essa música. 

Você sempre parece ficar um pouco emocionado quando fala sobre Ronnie. Tendo em vista que você trabalhou com ele e com Ozzy, quais são as principais diferenças entre os dois?
São dois tipos diferentes de gênio. Não estaríamos mencionando os dois na mesma frase se eles não estivessem juntos no alto escalão. Mas eles são muito diferentes ― o que é ótimo, pois não precisamos de clones.

“Ronnie Dio e Ozzy são tão diferentes quanto possível, mas que música maravilhosa eles criaram, tanto solo quanto com o Black Sabbath!”

Você tocou na que muitas pessoas consideram a melhor formação do Whitesnake de todos os tempos. Você acha que essa versão da banda poderia ter ido mais longe, durado mais tempo, gravado mais discos e feito mais turnês?
Quando essa versão da banda acabou, o grunge estava bem no comecinho. Então, não importa quão bom o álbum [seguinte ao Slip of the Tongue, de 1989] teria sido, pois o foco nos Estados Unidos estava no grunge. Não acho que teria sido apreciado como deveria. Então acredito que paramos na hora certa! [Risos]

Esse timing impediu vocês de serem varridos para debaixo do tapete! [Risos]
Você tem que levar em consideração que o Whitesnake era enorme em todo o mundo, exceto nos Estados Unidos, até que um certo empresário [John Kalodner] e uma certa gravadora [Geffen Records] se uniram e disseram: “OK, vamos criar uma versão do Whitesnake que seja apropriada para a MTV”, o que não era a intenção original [da banda] nos anos 1970, quando a [formação] original se reuniu.

Us Festival em 1983 com o Quiet Riot ou Donington Monsters of Rock com o Whitesnake em 1990?
Dois momentos muito diferentes, mas ambos inesquecíveis. Donington foi meio que a despedida, porque sabíamos que a banda ia se separar no final da turnê. Foi um ótimo show, mas com um gosto meio amargo. Já com Quiet Riot foi o começo. Tocar em um evento como o Us Festival não seria sucesso garantido; apenas fizemos um show para um monte de gente que tinha ido ver o Van Halen [risos]. Fomos adicionados [ao line-up] dois dias antes do show. Tocamos ao meio-dia. Não houve planejamento nem grandes ideias do tipo “vamos fazer isso ou aquilo outro”. “Ok, vocês querem fazer o show? É daqui a dois dias. Beleza, comprem as passagens aéreas, voem até lá, façam o show e depois deem o fora.” E foi isso que fizemos, porque tínhamos um show [marcado] em outra cidade no dia seguinte. Portanto, não houve celebração, nem festa, nem nada; foi apenas um grande show sobre o qual depois ficamos pensando: “Uau! É sério que tocamos para tanta gente assim?” [Risos]. Tudo passou num piscar de olhos!

Por fim, eu gostaria de saber se haverá uma continuação para o livro Off the Rails (2006), agora falando da sua carreira pós-Ozzy.
Estou trabalhando em um novo livro, sim. Um livro de colorir, que virá com lápis de cor [risos]. Escrevi o Off the Rails especificamente para esclarecer informações incorretas sobre o acidente que matou o Randy. Havia muitas teorias. O que acontece é que uma mentira se torna verdade se for repetida por tempo suficiente sem que ninguém a conteste. Escrevi o livro apenas para esclarecer tudo. Mas para fazer isso, precisei começar do início. Tinha um propósito específico em dedicar um ano e meio da minha vida para escrever o livro; fazer justiça ao meu colega de banda e amigo querido a quem devo minha carreira. Se não fosse por Randy ter me recomendado a Ozzy e Sharon [Osbourne], talvez você e eu não estivéssemos tendo essa conversa hoje.

(Por Marcelo Vieira / Fotos: Divulgação)