Megadeth faz o básico e agrada na volta ao Rio de Janeiro

Vivo Rio, RJ 01.11.2017

Há quem diga que feijão com arroz é a comida favorita dos brasileiros. É o básico, um combina com o outro e todos saem satisfeitos, sem enfeites, purpurina ou sabores exóticos. Dave Mustaine e seus capitaneados seguiram exatamente essa receita simples e certeira para a volta do Megadeth em terras cariocas (o último show havia sido a abertura para o Black Sabbath, em 2013). A banda desfilou todos seus best hits e encaixou quatro canções do novo álbum Dystopia, disco que rendeu para a banda o tão sonhado Grammy de melhor performance de metal.

O show começou com Hangar 18, como de praxe, e já colocou o Vivo Rio abaixo. O som não estava maravilhoso, mas não chegou a comprometer o espetáculo. The Threat is Real veio a seguir, uma das melhores do novo disco, com uma pegada thrash forte. Um destaque foi Trust, que evidencia o riff de baixo de David Ellefson. O baixista veterano é muito simpático no palco e traz um status quase igual ao de Dave Mustaine no coração dos fãs.

Porém, faltou um pouco de ousadia na coisa toda. Kiko Loureiro, o ex-Angra e que traz orgulho para o Brasil ao ostentar o posto de guitarrista de uma das bandas mais importantes do mundo, nem sequer trocou uma palavra com o público. Sua técnica é impecável e Mustaine chegou a dizer que ficou intimidado por ele, mas faltou abrir espaço para um “Muito obrigado, Rio, é um orgulho tocar aqui no Megadeth!” Ficou devendo.

Saindo do feijão com arroz, um gigantesco boneco claramente inspirado no soldado que está na capa de Dystopia entrou no palco para animar os fãs no maior estilo Eddie do Iron Maiden. Uma boa sacada que trouxe um elemento visual para a apresentação e rendeu muitos flashes dos presentes. A quase balada A Tout Le Monde foi cantada bem forte pelos fãs e foi um dos momentos mais emocionantes da noite. No final, a banda toda parou de tocar e só se ouvia o coro de vozes na plateia entoando a letra em francês.

O baterista novato Dirk Verbeuren, famoso pelo seu trabalho na banda sueca Soilwork, cumpriu bem sua função e segurou as pontas nas músicas mais rápidas. Aqui vale um destaque para a música título Dystopia que além de ser muito boa, funcionou muito bem ao vivo. O público cantou junto o riff principal e animou bastante, o que é raro tratando-se de uma música nova de uma banda clássica. Pelo visto, nem todos só querem ouvir os clássicos.

Foi um show focado na parte musical, sem muitas surpresas nem novidades. O Megadeth cumpriu tabela no Rio, mas não é preciso muito esfoço para agradar seus fãs conquistados em trinta anos de carreira. Dave Mustaine até pegou uma bandeira do Brasil arremessada pelo público e agradeceu o carinho dos fãs, mesmo que em seu jeito discreto.

A abertura, que na verdade foi um show quase com o mesmo tamanho da atração principal, ficou com a banda VIMIC, estrelada pelo ex-baterista do Slipknot Joey Jordison. Eles fazem um som mega pesado, com uma pitada doom metal. O vocalista Kalen Chase, dono de longos cabelos e barbas quase brancos de tão loiros, animou o público e cantou tanto rasgado quanto limpo. Destaque para as músicas Empty Handed e a que encerrou a apresentação: Simple Skeletons.

Joey está buscando uma nova sonoridade e parece estar em um bom caminho, apesar de ainda faltar um hit que arraste multidões. Sua bateria roubou a cena, adicionando quebradas interessantes e acompanhando os riffs e o teclado discreto, mas importante, de Matt Tarach. Valeu a abertura e a nova proposta.

(Gustavo Maiato)