Moonspell traz magia lusitana ao palco do Rio de Janeiro

Circo Voador, Rio de Janeiro, RJ , 25/04/2018

Em sua primeira passagem solo pelo Rio de Janeiro (a outra foi em meio ao Rock in Rio), os portugueses do Moonspell subiram ao palco para tocar clássicos de sua carreira e divulgar o ótimo e muito bem criticado 1755, sobre o Grande Sismo de Lisboa, que destruiu a cidade quase que completamente, além de abrir os primeiros estudos sobre sismologia como conhecemos hoje e inspirando os embriões do pensamento iluminista e a filosofia do sublime.

Conceitos à parte, o público, que compareceu em larga escala, pode de cara já notar mudanças na iluminação do Odisseia, o que traria um efeito visual mais assombroso para a apresentação. Resta agora saber se é algo que estará fixo na casa a partir de agora ou um adendo cenográfico da junção das produtoras MGB e No Class, que vêm fazendo um grande trabalho nos shows pelo Rio de Janeiro.

Começando às 21h30, o vocalista Fernando Ribeiro sobe ao palco com uma lanterna e declamando uma versão mista de Em Nome do Medo, que abre o novo álbum e já tinha aparecido em um registro anterior da banda, o mediano Alpha Noir/Omega White, e sendo um dos destaques do álbum à época. O público cantava o refrão marcante da canção, já mostrando para o grupo que a noite seria intensa. A banda executa 1755 e In Tremor Dei, dando continuidade ao conceito do novo álbum.

Fernando Ribeiro mostra toda a sua versatilidade como vocalista e intérprete em músicas como a épica Vampiria, do primeiro álbum Wolfheart (1995) e em momentos mais intensos como Alma Mater,aonde desce para cantar com o público e toda a cenografia do palco vibra em vermelho e verde, exaltando as cores da bandeira do país de origem da banda e intensificando toda a áurea nativo-cultural que o álbum evoca.

Momentos marcantes como a integração das músicas Opium e Awake! Logo no começo do show e todos os artifícios cenográficos de Todos os Santos trazem o público para dentro do show, no qual Fernando Ribeiro é um espetáculo à parte.  Além de vocalista, o dito cujo também é escritor e verbaliza de forma intensa toda a comoção que a música do Moonspell traz consigo, outros momentos carregados dessa intensidade são as execuções de músicas como Breathe e Mephisto, nesta última com uma interpretação singular de toda a banda.

Outro momento singular e bastante específico para os brasileiros é a execução de Lanterna dos Afogados, originalmente executada pelos Paralamas do Sucesso. De volta com a luminária cenográfica, Fernando Ribeiro coloca uma aura negativista em cima de uma execução mais mórbida e carregada da canção, resultando em fechamento de ciclo do novo álbum de forma estupenda e mostrando que a nossa música é reconhecida de todas as formas e jeitos possíveis.

Encerrando a apresentação com o clássico Full Moon Madness, o Moonspell faz um show que superou qualquer expectativa e mostrou porque mesmo após mais de vinte anos, continua carregando uma legião com a sua magia luterana por onde passa. Ainda mais, lançando um material tão singular e bem feito como o último registro de sua carreira até o momento. Os pertencentes a Terra Brasilis ficam no aguardo de uma nova passagem dos herdeiros da Santa Terrinha (ou, de acordo com Fernando Ribeiro, nem tão santa assim).

(Luiz Mallet )