Review: Warfare mistura metal com clima punk em ‘Pure Filth’

Nenhuma outra banda da New Wave Of British Heavy Metal promoveu melhor cruza entre o som tradicional de Black Sabbath e Judas Priest e a cartilha faça-você-mesmo contestatória e despojada do punk como o Warfare. 

Formado em 1982, o grupo reivindica para si o crédito de inventor do crossover e a paternidade do thrash metal, mas o grande diferencial que se ouve sobretudo em Pure Filth, que acaba de ser relançado no Brasil como parte da Neat Series – Rare Archives assinada por Voice Music e Rock Brigade Records, é o elemento punk caótico, de músicas curtas, rápidas e letras fortes. 

O porquê disso encontra-se no currículo do principal idealizador do projeto, o baterista e vocalista Evo Evans. No final dos anos 1970, Evans integrou o Angelic Upstarts, grupo notável pela associação à subcultura skinhead e pelo posicionamento político.

Com o Warfare, a música adquiriu contornos mais metálicos — tanto que a Neat Records logo se dispôs a oferecer um contrato de gravação —, mas o fundo temático e a atitude debochada permaneceram inalterados. 

Que o digam a letra de Burn the Kings Road — sobre tacar fogo na rua que é símbolo da Swinging London dos anos 1960 — e a dedicatória sincerona presente na última página do encarte: “Obrigado a todos que nos ajudaram. Ódio puro àqueles que não o fizeram. Queimem no inferno!” 

Ser benquisto na cena rendeu ao Warfare padrinhos de peso nas figuras de Algy Ward, do Tank, que produziu o disco — com exceção da faixa Noise, Filth & Fury, produzida pelo engenheiro de som residente da Neat e do Impulse Studios, Keith Nichol —, e de Cronos, Mantas e Abaddon, do Venom, que se juntam a Evans, ao guitarrista Gunner e ao baixista Falken na barulhenta e completamente sem noção Rose Petals Fall From Her Face

Talvez a melhor definição do que se ouve em Pure Filth seja a dada por Malcolm Dome nas páginas da Kerrang!: “O trio pula alegremente da beirada sem a ajuda de um paraquedas.” 

O milagre do voo dura exatos 37 minutos e termina com os cornos no concreto, respirando fuligem e amaldiçoando as circunstâncias que são o próprio Armagedom. Com isso, mais um ponto para o Warfare: a atemporalidade de sua crítica social.

(Marcelo Vieira)