Roger Waters desfila clássicos do Pink Floyd e carreira solo em SP

Allianz Park, São Paulo/SP (09/10/2018)

Roger Waters apresentou ontem no Allianz Parque em São Paulo o primeiro show de sua turnê sul-americana “Us + Them”, que ainda passará por seis cidades brasileiras.

A apresentação, que combinou os maiores clássicos do Pink Floyd e canções de sua carreira solo, contou com toda a grandiosidade e plenitude que poderíamos esperar do perfeccionista Roger Waters. O sistema de som quadrifônico instalado estádio aliado a toda tecnologia audiovisual do espetáculo, dava a nítida sensação ao público de estar dentro do tema de cada canção tocada, como nos relógios do tempo de Time, o som das gralhas em Brain Damage e os aviões de Another Brick In The Wall II, momento no qual doze crianças alunas do Projeto Axé subiram ao palco para uma coreografia usando roupas de prisioneiras.

Os músicos de sua banda são impecáveis e recriam perfeitamente todos os acordes do antigo grupo de Roger. Praticamente sem se dirigir a plateia de forma direta, durante as quase três horas de show o público recebeu mensagens como “Porcos dominam o mundo” e “Trump é um porco” pelo imenso telão atrás do palco, além de imagens nada elogiosas ao presidente americano.

Durante o intervalo de 20 minutos, mais frases de impacto: “Resistir”. “Resista contra o que ou quem?”. E suas repostas: “Neo-fascismo”, “poluição”, “lucros de guerra”, “Mark Zuckerberg” etc.

E foi a partir da volta do intervalo que a música ficou em segundo plano. Qualquer fã médio de Roger Waters sabe que ele escreveu sobre autoritarismo, guerra, morte e poder durante toda sua vida, mas o co-fundador do Pink Floyd não estava preparado para a quantidade de vaias que recebeu assim que #EleNão apareceu escrita no telão e exibir uma imagem em que comparou o presidenciável brasileiro Jair Bolsonaro a políticos como Donald Trump, Marine Le Pen, Viktór Orban e Vladimir Putin, descritos como “neo-fascistas”. Provavelmente recebendo as primeiras vaias de sua gloriosa carreira, que duraram cerca de 5 minutos, vindas de todos os lados da arena, um Roger Waters visivelmente incomodado disse algumas palavras sobre não aceitar regimes ditatoriais, e vendo que as vaias não cessaram, encerrou dizendo que não sabia muito bem o que acontecia no país. Assim, introduziu sua banda e apresentou as derradeiras músicas Mother e Confortably Numb, que a despeito do clima gerado minutos antes, não tiveram o mesmo impacto que canções tão fantásticas mereciam ter ao vivo.

Vale ressaltar que em momento algum Roger Waters pronunciou palavras de repúdio ao candidato Jair Bolsonaro ou mencionou a hashtag EleNão, ele provavelmente confiou no que sua produção achou adequado para o momento.

(Marianna Franco)