Savatage e Opeth ao vivo em SP: review e galeria de fotos

Na segunda-feira (21/4/2025), o Espaço Unimed, em São Paulo, vibrou com o tão esperado retorno solo do Savatage aos palcos brasileiros após quase uma década. A apresentação, que sucedeu o sucesso estrondoso no Monsters of Rock, foi mais que um bis: uma poderosa reafirmação da energia e da mística que envolvem a banda.

Se o grafite famoso no subúrbio carioca sentencia que “Só Jesus expulsa demônios das pessoas”, o “Jesus” do Savatage, cantado em uníssono em “Jesus Saves”, pareceu fazer o oposto, invocando uma legião dos mais desajuizados, entregues à catarse sonora. O palco apresentava um interessante contraste visual. De um lado, o guitarrista Chris Caffery personificava o rockstar com suas poses marcantes, enquanto, do outro, o colega Al Pitrelli mantinha uma postura mais reservada, concentrado em seu espaço à direita.

A expectativa sobre qual álbum seria mais explorado pairava no ar, e o vocalista Zak Stevens a atiçou ao anunciar “The Wake of Magellan”. No entanto, a canção seguinte era “Sirens”, um clássico que se encaixou perfeitamente em seu timbre operístico, evidenciando a versatilidade vocal do frontman. A primeira grata surpresa da noite veio com “Another Way”. Na sequência — agora, sim —, “The Wake of Magellan” cumpriu seu papel de engajar a plateia, especialmente durante o refrão cantado a plenos pulmões.

A afinidade de Zak com a obra conceitual de 1997 ficou clara quando ele a mencionou como seu álbum favorito, antes de apresentar “The Hourglass” – uma adição significativa ao setlist mais conciso do Monsters of Rock. Ao todo, foram dez músicas a mais, dobrando a dose de metal entregue dois dias antes.

Curiosamente, foi desse disco, que outrora podia ser encontrado até em postos de gasolina e mercadinhos de bairro, que emanou uma parcela significativa do repertório. “Turns to Me” e a instrumental “The Storm” foram momentos em que Al Pitrelli brilhou intensamente, roubando a cena com sua maestria nas seis cordas. Outro destaque para o guitarrista mais reservado foi em “This Is the Time (1990)”. O refrão, que proclama “This is the one place to be” (“Este é o lugar para se estar”), ressoou como a síntese perfeita da experiência vivida por mim e pelos milhares de privilegiados no Espaço Unimed: um acontecimento simplesmente histórico.

Se os olhos são o espelho da alma, os de Zak e Chris irradiavam pura alegria. Os sorrisos constantes que trocavam eram contagiantes e refletiam a satisfação de estarem novamente juntos no palco. As escolhidas para o grand finale foram as apoteóticas “Power of the Night” e “Hall of the Mountain King”. E, tal como profetizado na letra da faixa-título do primeiro grande álbum de estúdio do Savatage, a loucura tomou conta da capital paulista, selando uma noite memorável para os fãs do metal.

 

Na abertura, o Opeth mostrou, ou ao menos tentou mostrar, como transcender o rótulo de música feita para músicos. Sempre bem-humorado, o vocalista e guitarrista Mikael Åkerfeldt (com seu grave à la Vincent Price) comentou a predominância de camisetas do Savatage na plateia: “A julgar pela quantidade, presumo que vocês não curtam a nossa barulheira”.

Ledo engano. Diante de um público com a energia de uma torcida organizada, os suecos não precisaram de muitas palavras além da música para conquistar a atenção. O setlist passeou por diversas fases da banda, buscando agradar tanto os apreciadores do prog gutural quanto aqueles que se identificam com uma sonoridade mais próxima do rock progressivo clássico, no estilo de Jethro Tull.

Embora muito se fale sobre o gênio de Mikael Åkerfeldt e o currículo do guitarrista Fredrik Åkesson, a performance do ainda recém-chegado baterista Waltteri Väyrynen merece destaque, especialmente em um ambiente fechado como o Espaço Unimed, que proporcionou uma nitidez sonora ausente na apresentação do Monsters of Rock. Se a seção central de “Paragraph 7” gerou uma onda de palmas, a melancolia de “In My Time of Need” arrancou lágrimas. E, como definiu o próprio Åkerfeldt, no show dos “Gremlins do Rock” houve até um incidente curioso: a expulsão de um “adolescente de 50 anos” pela segurança por brigar em pleno show. Bem-feito.

Texto: Marcelo Vieira; Fotos: Leandro Almeida