Steve Harris traz o “rugido do leão” para o Rio de Janeiro

Circo Voador, Rio de Janeiro/RJ (09/11/2018)

Verdade seja dita, ninguém teria ouvido falar no British Lion se este não contasse com Steve Harris no baixo. Ainda que o reconhecimento viesse, o caminho a ser percorrido seria muito mais longo e tortuoso, sendo necessárias muitas séries C até uma eventual subida para a segunda divisão. Mas Harris não mentiu quando, às vésperas da presente turnê, afirmou que a banda era muito melhor ao vivo. Em sua primeira passagem por solo carioca, os ingleses conseguiram mostrar que não são apenas o seu padrinho de luxo — ou “the boss” — e mais quatro. E por mais que uma centena de fãs carregasse o Eddie na peita, o respeito prevaleceu e não houve gritos de “Maiden, Maiden” ou pedidos de músicas da donzela na hora e meia que teve início com pontualidade britânica às 22h.

O abre-alas trouxe This Is My God e a diferença é tremenda: ao contrário do que se ouve no CD, o baixo galopante de Harris assume a dianteira. Já o vocalista Matt Polley, que em estúdio arrisca lá suas elevações de cosmo, ao vivo é como se apresentasse uma edição econômica de si. Essa fragilidade vocal reverbera inclusive em sua movimentação sobre o palco, abreviadíssima em comparação a dos colegas, que vez ou outra até exageram na agitação — sobretudo o guitarrista Grahame Leslie, que é física e fanfarronisticamente parecido com Janick Gers. A impressão que se tem é que Polley usa o pedestal como muleta ou barra de segurança e que qualquer escapolida daquele metro quadrado resultasse numa descarga elétrica ou fizesse sua tornozeleira eletrônica apitar.

Graças ao setlist.fm, já sabíamos o que esperar na sequência: a outros números do álbum de estreia lançado em 2012, misturam-se canções do vindouro Us Against the World, cuja capa já ilustra o pano de fundo utilizado na apresentação. E graças a vídeos de shows anteriores postados na Internet, meia dúzia já sabia cantarolar novidades como Father Lucifer, Bible Black e outras quatro, que sinalizam uma reavaliação musical, saindo das raias do genérico — apesar da predileção pelo tom de mi menor, o tom universal do metal pesado britânico — em direção a uma abordagem menos rudimentar, com mais fraseados de guitarra em harmonia e uma temática mais obscura, em severo contraste com Chosen Ones, por exemplo, que chupa a introdução de Fox on the Run do The Sweet e deixa um pouco de baba ainda para Rockin’ in the Free World de Neil Young.

A reta final trouxe as já conhecidas Judas — excelente letra — e, sem deixar o palco, o bis tomou forma com A World Without Heaven e o brado de esperança Eyes of the Young, com direito a um membro da equipe técnica registrando em vídeo o gotejo derradeiro. Aos gritos de British Lion, British Lion, Harris e cia. deixaram o palco com a certeza de que por mais vazia que a casa estivesse — nem a chance única de ver o fundador do Iron Maiden de tão perto motivou o headbanger carioca a desembolsar quase 200 reais no ingresso —, o rugido do leão foi ouvido muito além da Pedra do Rei.

(Marcelo Vieira)