Dee Snider faz show pra fã “de verdade” no PR

No último dia 21 de março, o belíssimo cartão postal de Curitiba, o Ópera de Arame, fãs se preparavam para entrar e tomar seus lugares para presenciar um dos frontmans mais respeitados da cena do metal: Dee Snider, com seus 64 anos de idade, um ícone entre gerações.

O show não teria como dar errado: músicas novas, músicas antigas, banda entrosada e vocalista performático. A promessa foi cumprida. A casa de show lotou quando Snider pôs os pés no palco.

As bandas de abertura conhecidas no meio curitibano, The Secret Society e Devinsin, tiveram que se contentar com um público que só tinha um objetivo: ver o ex-vocalista do Twisted Sister. A casa de show, infelizmente, não ajudou muito.

O Ópera de Arame não é uma casa “perfeita” para show de rock/metal por terem bancos impossíveis de se remover. É óbvio que, em gêneros assim, ninguém fica sentado. E Dee Snider chegou voando no palco com sua calça branca, regata e óculos escuros, já colocando a voz para funcionar em Lies Are A Business, do álbum da turnê For The Love of Metal.

Apesar de a turnê ser, teoricamente, para enaltecer o novo álbum, fica claro ao longo do show que Dee Snider tem um propósito único: agradar os fãs e dar a eles o que eles querem. Com uma energia lá em cima, Dee chegou esclarecendo “Eu não sou o Dee Snider, eu sou ‘fucking’ Dee Snider. Eu não falo português, mas eu falo heavy metal.”

Com nada mais nada menos que seis músicas do Twisted Sister, uma do Widowmaker (banda que Snider confessou “não ser muito famosa”) e um cover do AC/DC para fechar com chave de ouro, fica evidente que a banda quer animar e proporcionar o melhor da música, mesmo deixando as músicas autorais “de lado”. As seis músicas do álbum For The Love of Metal não seriam nem de longe o destaque da noite ― e Snider sabia disso.

O peso de ter sido um frontman de uma das maiores bandas de metal no entanto não intimida o vocalista. Em outros casos, músicos até falam para os fãs não pedirem músicas de bandas anteriores porque “são momentos diferentes da carreira e não faz sentido relembrar o passado”.

É uma postura que, para nossa alegria, é ignorada por Dee Snider, que misturou os clássicos com as atuais ao longo do setlist. Depois de Tomorrow’s No Concern do novo álbum, iniciou-se a saga do Twisted Sister com You Can’t Stop Rock‘n’roll. É praticamente impossível – e até feio, eu diria – ficar parado com a animação do garotão de 64 anos que não parava de pular.

Ah, frontmen simpáticos. Dá gosto de pagar para ver um show que o vocalista não tem medo de olhar, tocar e conversar com a plateia. Privilegiados são aqueles que pegaram a pista Premium e puderam ficar aos pés da banda: no Ópera de Arame, o público fica grudado no palco, tendo até que tomar cuidado para não atrapalhar a performance dos músicos. É tão perto que até levamos “chuvas” de suor! Snider batia na mão da galera, apontava para as pessoas, cantava de maneira íntima e dava o melhor de si, do início ao fim.

A banda também não ficava atrás: os irmãos Charlie e Nicky Bellmore (guitarra e bateria, respectivamente) estavam na vibe do show, especialmente quando Dee fez piadas com ambos na hora da introdução da banda, arrancando risos da dupla e da plateia. O guitarrista Nick Petrino estava definitivamente curtindo aquele momento, visto que não parava de se mexer e bater a cabeça com seus longos cabelos cacheados.

A atração à parte ficou com o baixista Joakin Agnemyr, que veio diretamente da Suécia para o show com a ausência do baixista oficial, voando 18 horas até chegar à capital paranaense. Dee enfatizou umas 3 vezes essa informação ao longo do show, colocando o garoto em pedestal e pedindo para o público reconhecer o esforço Agnemyr por ter vindo de tão longe.

Voltando ao show, American Made, Burn In Hell e Roll Over You aqueceram o público para uma das canções mais aguardadas da noite. We’re Not Gonna Take It, clássico lançado em 1984, fez o público vibrar e pular. Snider, que adora o contato com o público, até pediu para a banda parar de tocar e tirou o retorno porque “queria ver Curitiba cantar”. O público, claro, fez muito bonito, arrancando suspiros do cantor que demorou para colocar o retorno, aproveitando o coral o máximo possível.

Adiante, Ready To Fall, do Widowmaker proporcionou mais um momento de piadas, com Dee perguntando quem tinha ouvido à banda e agradecendo muito por esses poucos que conheciam o antigo projeto. The Price veio para acalmar um pouco os ânimos e vangloriar grandes músicas que faleceram aquela semana: Randy Rhoads (Quiet Roat, Ozzy Osbourne), Bernie Thormé (Gillian, Atomic Rooster, Desperado, Ozzy Osbourne, GMT, René Berg) e A.J. Pero (Twisted Sister, Adrenaline Mob). Momento emocionante, em que Dee pediu para que as luzes da casa fossem apagadas e somente as luzes dos celulares do público ficassem prestando aquela belíssima homenagem.

Mais além, a segunda grande música esperada, I Wanna Rock manteve a tradição de fazer o público cantar o mais alto que conseguisse. Ponto alto da noite e sem dúvidas honrosamente performado por todos é o tipo de música que toda banda deveria ter. Energética, inconfundível e inesquecível.

Já chegando ao fim da noite e os fãs sem dúvidas querendo mais, a música título For The Love of Metal e Highway to Hell fecharam a noite tão celebrada e importante para o público curitibano. Mantendo os perfis simpáticos, a banda atendeu alguns fãs pós-show, agradando ainda mais seus seguidores com esse afeto único.

(Texto e fotos: Victória Heloise)