Review do I Am Morbid com The Troops of Doom em SP

19/11/2022, Fabrique, São Paulo-SP

Muitas eram as expectativas para o retorno de David Vincent ao Brasil. Contextualizando a situação, a última vez que o ex-Morbid Angel veio ao país foi com sua antiga banda, que consagrou seu nome no cenário do metal extremo mundial, porém no distante ano de 2013. Desde então, houve 2 tentativas de vindas ao país com o seu projeto I Am Morbid, onde o baixista e vocalista executa os maiores sucessos do Morbid Angel. Essas tentativas ocorreram em 2017 e 2019, mas por motivos nunca totalmente esclarecidos, foram canceladas. 

Porém em 2022, quase 10 anos depois, David Vincent enfim anuncia um retorno ao Brasil com diversas datas na agenda, e com um detalhe extremamente importante, que é o retorno da parceria entre ele e o lendário baterista Pete Sandoval, ambos responsáveis pelo vocal/baixo e bateria, respectivamente, dos maiores clássicos do quarteto americano. 

Álbuns como “Altars Of Madness”, “Blessed Are The Sick” e “Covenant” foram extremamente impactantes quando apresentados ao mundo e hoje em dia, cerca de 30 anos depois, continuam impressionando os ouvintes pela junção de muito peso, velocidade e técnica em um único som. Para acompanhar as duas lendas, tivemos os guitarristas Bill Hudson (brasileiro) e Richie Brown. 

Com esse line-up de peso, o I Am Morbid estava pronto para chegar ao Brasil em novembro de 2022, acompanhado do novo porém já querido The Troops Of Doom, a nova empreitada musical de Jairo Guedes (ex Sepultura, ex The Mist) que traz um Death Metal old school na linha dos primeiros lançamentos do Sepultura, onde ele fazia parte da banda, ao lado de Marcelo Vasco (guitarra), Alex Kaffer (baixo e vocal) e Alexandre Oliveira (bateria). Pra quem curte metal extremo, não há do que reclamar. 

Infelizmente as 3 primeiras datas dessa turnê foram canceladas devido a um furacão que passou pela Flórida, porém as demais datas – incluindo São Paulo – foram mantidas. 

 

Para a surpresa de muitos, os shows ocorreram cedo. As portas do Fabrique Club, na Barra Funda, se abriram por volta das 17hs e, sem atrasos, o The Troops Of Doom subiu ao palco às 18h. Mesclando músicas de seus dois primeiros EPs “The Rise Of Heresy” (2020) e “Absence Of Light” (2021),  de seu primeiro álbum full lenght “Antichrist Reborn” (2022) e covers do Sepultura, o quarteto brasileiro entregou um show cheio de peso e energia do começo ao fim. 

No começo a plateia estava tímida, muitos ainda entrando na casa, porém conforme os minutos se seguiam, mais e mais fãs ”agitavam” ao som da banda. Riffs pesados e densos, uma bateria rápida e com blast beats, um vocal rasgado e sujo junto de um baixo grave são algumas das principais características do The Troops Of Doom. 

Sem dúvidas, um aquecimento digno do que estava por vir. Após o término do repertório (em torno de 45 minutos), a banda deixa o palco e as cortinas se fecham. É hora de trocar os equipamentos e preparar o palco para David Vincent e sua trupe. Sem atrasos, eles iniciam o show por volta das 19h15 e abrem os trabalhos com a clássica “Immortal Rites”, faixa de abertura do antológico álbum de estreia do Morbid Angel “Altars Of Madness” (1989). 

 

Sem enrolações, a emendam em outro grande clássico da antiga banda: “Fall From Grace”, do segundo álbum “Blessed Are The Sick” (1991).  Em seguida, com o público já alucinado, eles voltam ao “Altars Of Madness” e executam “Visions From The Dark Side”, já abrindo caminho para “Day Of Suffering” e “Blessed Are The Sick”. 

Após as 5 primeiras faixas, que mesclaram apenas canções dos dois primeiros trabalhos do Morbid Angel, foi a vez de pularmos para o trabalho seguinte, “Covenant” (1993) com uma trinca de muito peso: “Rapture”, “Pain Divine” e “Sworn To Black”. 

Vale mencionar o público acalorado e participativo durante quase todas as músicas do repertório, além claro da perfeita execução por parte dos músicos. O trabalho das guitarras de Bill e Richie merece todos os créditos possíveis. Continuando o som, foi hora de ir ao quarto álbum do Morbid Angel “Domination” (1995), com a pesadíssima “Eyes To See, Ears To Hear”. Em seguida, a banda tocou um clássico do primeiro álbum do Terrorizer (banda de grindcore oitentista que conta com Pete e David no lineup), intitulada “Dead Shall Rise”. 

Seguindo com os trabalhos, tivemos um breve solo de guitarra de Richie, que emendou em um dos maiores clássicos do Morbid Angel: obviamente estamos falando da alucinante “Maze Of Torment”, e pode-se dizer que essa talvez tenha sido a música com a maior participação do público durante todo o repertório. 

Após esse momento, o show tem uma breve pausa em sua brutalidade e Bill Hudson assume o protagonismo durante a execução da belíssima faixa instrumental “Desolate Ways”, composta pelo falecido ex-guitarrista do Morbid Angel Richard Brunelle no álbum “Blessed Are The Sick”. Engana-se você, caro leitor, se pensa que esse momento de calmaria se manteria ”vivo” por muito tempo. Era hora de tocar mais algumas coisas do “Domination”, e a banda trouxe a pesadíssima trinca de “Dominate”, “Where The Slime Live” e “Dawn Of The Angry”. Muitos blast beats depois, era hora do show se encaminhar pro final. 

Fechando o repertório com duas excelentes canções do “Covenant”: “God Of Emptiness” e “World Of Shit”, o I Am Morbid lavou a alma dos fãs que há tantos anos esperavam pela volta da banda ao Brasil, seja o Morbid Angel com sua formação atual ou o atual projeto dos ex-membros da banda. Inclusive, o próprio David Vincent disse ao microfone que há muito tempo não visitava ao Brasil, porém se desculpou por isso e prometeu que o show iria compensar a tal demora. E ele estava certo!

(Texto: Lucca Poli Ferreira, Fotos: Leandro Almeida)