Review: Black Crowes faz história com show em SP após 27 anos

Após 27 anos sem retornar ao Brasil, tivemos, na terça-feira chuvosa de 14 de março de 2023, o tão esperado show do The Black Crowes no Espaço Unimed, na Barra Funda, em São Paulo. Incrivelmente, a chuva deu uma trégua nas horas antes e pós o show, que, diga-se de passagem, entrou para a história. 

Uma hora após a abertura dos portões, às 20h30, começou o show da banda paulistana Hurricanes para esquentar o público. Ao subirem no palco, já deu para notar o estilo setentista da banda e a pegada forte de sua primeira música, “Through The Lights”. 

Com certeza, foi a banda brasileira mais apropriada para abrir o show, pelo fato de o The Black Crowes ser uma das principais influências para eles, de acordo com o vocalista Rodrigo Cezimbra, que estava muito emocionado em sua apresentação completamente contagiante. Quem não os conhecia, provavelmente voltou para casa com mais uma excelente banda para a lista. Confesso que estou aguardando o lançamento de “How Do You Love?” após sua apresentação.

Após uns 20 minutos das 7 músicas tocadas pela Hurricanes, começa a tocar “Are You Ready” do Grand Funk Railroad até às 21h30 cravadas no relógio. Quando o The Black Crowes sobe ao palco tocando “Twice as Hard”, a plateia começa a cantar e pular com a primeira música do seu primeiro álbum, “Shake Your Money Maker”, de 1990, que foi tocado na íntegra seguindo a ordem original. 

 

O mais absurdo, do início ao final do show, foi a qualidade da banda ao executar as músicas. Em alguns momentos, curtindo o som de olhos fechados, percebi o quão perfeito estava a sonoridade de tudo, dos instrumentos aos backing vocals. Parecia que eu estava dentro do estúdio escutando eles gravando as músicas lá na década de 90. Em uma palavra, impecável. 

Na sequência do álbum, fomos contemplados com “Jealous Again”, “Sister Luck”, “Could I’ve Been So Blind” que deixou o público ainda mais animado. Os méritos de toda a empolgação vão para a banda, os irmãos Chris e Rich Robinson, Sven Pipien (baixo), Nico Bereciartua (guitarra), Joel Robinow e Erick Deutsch (teclados) e Brian Griffin (bateria) e as duas backing vocals, que infelizmente não descobri seus nomes para mencioná-las aqui. 

Em “Seeing Things”, com sua pegada mais calma e tomada pelos teclados de Joel e Erick, ficou claro o quanto Chris Robinson ainda canta bem e com gosto. Em diversos momentos, ele soltou a voz e seu timbre poderoso fez com que muitos o ovacionassem. 

Continuando o álbum “SYMM”, veio o cover de “Hard to Handle” do Otis Redding e mais uma vez Chris cantando demais. “Thick n’ Thin” e “She Talks To Angels”, um dos grandes sucessos da banda, fez muitos fãs cantarem juntos em alto e bom tom, deixando ainda melhor a atmosfera do show. Para finalizar o álbum, tocaram “Struttin’ Blues” e “Stare It Cold”. 

Acabando a pedrada do “Shake Your Money Maker”, ainda sem entender o quão bem eles estavam tocando, veio junto à inesperada “Sometimes Salvation”, uma das quatro músicas que eles tocaram do álbum “The Southern Harmony And Musical Companion” de 1992. 

Entre as outras três, veio “Wiser Time” do “Amorica” de 1994, considerada por muitos como uma das melhores músicas da banda, e fez novamente muitos fãs cantarem alto. Voltando para 92, foi a vez de “Thorn In My Pride”, onde no finalzinho dela houve algum problema no som deixando-o meio rasgado, mas foi resolvido ainda antes de “Sting Me” e em seguida a tão esperada “Remedy”. 

Não deu outra, no que ela começou a tocar, subiu aquela arrepiada que vai até a cabeça e aquela sensação satisfatória de empolgação. Do começo ao final dela, praticamente todos os presentes estavam cantando com vontade, apreciando o som e os backing vocals clássicos de “Remedy” das duas cantoras que estavam com a banda. 

Por fim, após uma saída rápida da banda do palco, eles voltaram com a “Virtue And Vice” do “By Your Side” de 1998 como bis da noite, mostrando a todos os fãs que, por mais que eles não tenham vindo ao Brasil nos últimos 27 anos, o show deles continua tão excepcional como nas gravações do primeiro álbum. 

Foi um show que fugiu à regra de muitos e com certeza agradou além da expectativa de todos que tiveram a oportunidade de estar presentes para assistir esse show, que foi uma verdadeira lição do que é uma banda realmente boa ao vivo.

Por Conrado Takayama