Confira entrevista exclusiva com Max Cavalera e Zyon, do Soulfly

Não é a primeira nem muito menos a segunda vez que temos a oportunidade de conversar com Max Cavalera em uma de suas passagens por Barcelona. Porém sim, foi a primeira vez que o mesmo veio acompanhado de seu filho, Zyon, que aos poucos vai se soltando e ocupando uma posição de destaque no cenário do metal mundial.

Como sempre, nosso bate-papo começa como uma entrevista mais profissional e termina de maneira informal ao melhor estilo mesa de bar. Ambos revelaram alguns detalhes do novo disco, Ritual que será lançado mês que vem (19/10) além de seus projetos como Lody Kong, Cavalera Conspiracy e o Soulfly Point Blank e pela conversa já deu para sentir que o disco novo promete.

ROCK BRIGADE: Começamos pelo disco novo, sabemos que sairá em Outubro. Poderiam contar alguns detalhes sobre o disco, as gravações ou será uma surpresa?

MAX – Tentamos guardar um pouco de segredo, fazer alguma surpresa. Acho que o esse álbum, que sai justamente no mesmo ano em que se completa vinte anos desde o primeiro. Então quando estávamos no estúdio, fazíamos umas jams do primeiro disco com frequência e que continua sendo um bom disco duas décadas depois. Tentamos recriar a atmosfera da época, um pouco do que faltou no ultimo disco do Soulfly (Archangel). E também trabalhei muito com o Zyon desta vez, já havia trabalhado antes já que está há algum tempo na banda mas nunca como agora. Estávamos sempre numa jam, o que para mim é foda e fiquei muito satisfeito porque ele ajudou com boas ideias, totalmente envolvido e totalmente diferente de antes.

ZYON – Sim, foi realmente muito bom porque enquanto estávamos escrevendo e numa casa de montanha no Arizona, longe da cidade e fazia muito calor também. Então nos encontrávamos suando o tempo inteiro durante a jam e dava a sensação de um trabalho duro porém satisfatório porque tínhamos umas vistas maravilhosas da cidade ao fundo, o por do sol, as montanhas e tudo isso criou uma atmosfera perfeita, Max tinha um monte de riffs irados, escrevia o dia inteiro, passávamos o dia lá criando musicas juntos. Quando finalmente juntamos a banda, tudo foi mais simples porque tínhamos um bom material adiantado e uma vez juntos arrematamos o serviço.

MAX – Gosto de fazer coisas assim. Nos juntamos primeiro, eu e Zyon, para quebrar o gelo das musicas e sentir o que pode ser bom e o que não, o que pode se tornar uma boa música, algo que tenha potencial. Deixávamos muita coisa no estúdio aonde gravamos de maneira oficial(Califórnia) porque o Josh Wilburn (produtor) vinha conosco. Foi muito interessante porque eu buscava as musicas mais rápidas, queria algo mais thrash e death metal e Josh estava buscava as musicas mais tribais como o Soulfly do principio. Então tivemos algumas quedas de braço mas isso é bom, é assim que boas musicas são feitas quando você não concorda totalmente com o que está sendo feito. Esse jogo de ceder um pouco e pedir algo em troca, se torna um compromisso maior, aumenta o nível até conseguir o equilíbrio perfeito. Josh é um fã do Soulfly e fez o disco como tal, não somente como um profissional mas como um fã. Justamente por causa disso acho que este disco tenha essa magia do principio, do primeiro disco da banda combinado com os discos mais recentes e o Thrash e Death Metal que tanto curto. Um pouco como aconteceu com o ultimo Cavalera Conspiracy, aquela volta às raízes. Há uma musica que o Randy (Lamb Of God) canta, Dead Behind The Eyes, que trabalhei um bom tempo com o Zyon, tocava para ele coisas como From The Past Comes The Storm e Beneath The Remains e disse a ele, “vamos fazer uma música desse estilo”, todas as partes de baterias juntas e isso não é fácil de fazer, esse “inter kit” demora um tempo e ele se dedicou bastante. No final fizemos e Dead Behind The Eyes é uma versão renovada de From The Past Comes The Storm (Schizophrenia), com novos elementos, incluindo elementos industriais. Na verdade é que não ficamos apenas num estúdio. Até em minha casa foram gravadas algumas músicas, pode não parecer muito profissional mas funcionou muito bem.

ZYON – Uma outra coisa que influenciou bastante foi que pouco antes da composição do Ritual fizemos a turnê do Nailbomb, então ficou aquela vibe da turnê e decidimos adicionar toda a influencia do Nailbomb como sintetizadores e alguns samplers, nada massivo mas para de alguma maneira preencher alguns espaços disponíveis. Até mesmo para ele (Max) que quando fez o ultimo disco do Cavalera Conspiracy com a influencia do Morbid Visions, no final essa vibe também está no Ritual.

ROCK BRIGADE: Está justamente aí, uma das perguntas marcadas. A turnê do Soulfly tocando Nailbomb.

MAX – A turnê do Nailbomb muito boa, muito divertida. Fomos a todos os buracos possíveis para tocar Nailbomb, lugares que só cabiam cem pessoas enlouquecidas por não acreditarem que pudessem presenciar aquilo. Esperamos poder repetir a experiência aqui na Europa e ao Brasil porque Nailbomb é um disco especial na minha vida. Foi criado de uma maneira muito louca mas resistiu ao passar do tempo, você escuta e continua atual e muito mais agora com todos esses políticos como Trump à solta pelo mundo por exemplo. Então foi uma grande influencia para o disco novo do Soulfly, trouxemos muita coisa dessa turnê para o estúdio. Fomos da turnê para as jams nessa cada da qual falamos, daí para o estúdio e foi como o Zyon disse, a vibe continuou. Havia um cara, Nick, que cuidava das partes eletrônicas e demos espaço para ele trabalhar, o resultado foi impressionante especialmente na musica que já estamos tocando nessa turnê, The Summoning, no final dela tem umas coisas parecidas ao bom e velho Nine Inch Nails, Ministry e Nailbomb. Tem essas partes eletrônicas e também coisas bastante orgânicas, tribais que fizemos com os índios Navajos no Arizona e foi sensacional.

ZYON – Foi legal mesmo. Na verdade eu estava gripado e foi a maior viagem porque fizeram todo um ritual para curar a gripe. Nos benzeram, dançamos com eles, foi realmente louco.

MAX – Recentemente tocamos no aniversario de 150 anos do tratado (1898) e fomos os convidados especiais porque o vice presidente adora o Soulfly e o Sepultura e nos convidou para estar lá. Nessa ocasião conhecemos um dos últimos Code Talkers da segunda guerra mundial e que faleceu mês passado. Nós o conhecemos, tiramos fotos e tal. Ele já estava em cadeira de rodas e uma semana após nossa visita ele faleceu aos 94 anos, loucura. Foi uma grande noite, no final do set havia um monte de crianças Navajas no palco, umas vinte mais ou menos, cantando Eye For An Eye, foi realmente legal. Foi um dos shows mais memoráveis que fizemos. Zyon estava doente mas ainda assim foi um grande show. E depois, fomos até Tuba City e encontrei pessoas da tribo, percussionistas e gravamos algumas coisas com um gravador muito antigo que tenho, algo bem underground com um microfone Radio Shack de uns dez dólares, queria que fosse assim, bem underground, é o tipo de situação que não pode ter modernidade, não pode ser High Tech. É o espirito que conta, é captação real. Então depois de tudo gravado, levei para o estúdio e dei para o Josh para que ele pudesse encaixar em alguma parte do disco, a introdução do disco terá uns cânticos Najajos e há uma música chamada Blood On The Street, que conta a historia de uma garota Navaja que foi assasinada pela policia, gosto desse tipo de controvérsia nas musicas, como Manifest, típica musica que poderia encaixar num disco como Chaos A.D. e o álbum vai estar muito bom com toda essa vibração da tribo, algo que para mim é muito interessante, como brasileiro expor algo de uma tribo Norte Americana, a ideologia e todos os rituais e o mais importante dos rituais que foi essa celebração da qual fomos convidados.

ROCK BRIGADE: Definitivamente será um dos melhores discos do Soulfly. Participações especiais nele?

MAX – Sim! Teremos Ross do Immolation que é uma banda que adoro e sua voz brutal estará na música Under Rapture e parece duas musicas em uma única, a primeira parte mais groove com algo de blast beat que pedi ao Zyon para tocar e Ross entra com sua voz, foi insano, algo muito Death Metal. E anteriormente já disse que o Randy também participa.

ROCK BRIGADE: Muita gente acha que o Zyon é novo na banda, como o novo baterista mas a grande verdade é que ele vem participando da banda há anos. Uma voz aqui e ali, a gravação de Refuse / Resist há alguns anos e oficialmente se tornou o baterista. Quão importante foi toda essa introdução na banda?

MAX – Fomos fabricando o Zyon desde antes de nascer com os batimentos cardíacos como introdução de uma música né?!

ZYON – Sim, essa foi uma das coisas mais importantes, o fato de sempre estar por perto e rodeado de musica. Não havia escolhido tocar bateria até completar uns 16 anos de idade, estava apenas curtindo, conhecendo a todos os artistas que encontrávamos em turnê, alguns se tornaram meus amigos, coisa de família. Até que um dia comecei prestar atenção em alguns músicos e os bateristas me chamavam mais atenção. Passei alguns shows sentado junto a de Bill Ward (Black Sabath)…

ROCK BRIGADE – O que deixou meu irmão com uma baita inveja… Zyon – Então quando realmente decidi me dedicar a bateria, tudo foi mais fácil.

MAX – Sim, e lá se vão dois álbuns completos e vai melhorando a cada dia. A cada noite ele tenta algo diferente e as pessoas gostam de vê-lo tocando, tentando achar seu próprio estilo, algo que gosto bastante porque está melhorando na vida real, não tenta coisas no ensaio e logo em turnê faz o básico, ao contrario, melhora na estrada. Para uma pessoa que nunca teve aulas de bateria, ele tem um estilo bastante enérgico, algo como um baterista pronto para tocar ao vivo.

Zyon – Não gosto de fazer a mesma coisa a cada noite, tocamos as mesmas musicas mas não tenho o mesmo sentimento a cada noite pela mesma musica, seria algo muito robótico. Gosto de tentar coisas novas, se tenho alguma ideia diferente, tento encaixar ali no momento, se der errado peço desculpas mas muitas vezes dá certo Um dos shows que cobri do Soulfly foi no Secret Place na França (Montpellier), que é um cubículo e em pleno verão foi uma das noites mais quentes da qual tenho memória de haver fotografado um show.

ROCK BRIGADE: Naquela ocasião, seu filho Igor estava no baixo. Afinal, ele não quis continuar como baixista da banda?

MAX – Ele tem sua própria banda, o Lody Kong. Estão gravando disco novo e o Igor adora estar com sua banda. Acho que num futuro teremos uma banda em família, só a gente. Gostaria de fazer um disco com eles, algo bem punk rock e hardcore, sem se importar se vai vender ou não, se vai ter gravadoras e selos envolvidos. Para mim, como pai, tocar com meus dois filhos e gravar um disco com eles seria um sonho tornando-se realidade. Está na lista de desejos. Até porque o Igor canta com o Lody Kong, o que nos daria uma divisão de vozes, será algo bem legal de fazer.

ROCK BRIGADE: Zyon, alguma música que você adoraria tocar com o Soulfly e seu pai nunca coloca no setlist?

ZYON – Não, porque podemos tocar qualquer musica e Max sempre estará feliz, não tem muito isso de que “toque as que eu quero”, somos uma banda e sempre escutamos uns aos outros

MAX – Acho que é mais ao contrario, sempre quero tocar tudo e talvez eu escolha algumas que ele não goste tanto mas no final das contas tocamos assim mesmo, faz parte. Trocamos o setlist (um pouco) a cada noite, algumas noites tocamos Nailbomb, outras tocamos Refuse / Resist ou Babylon. Todas as outras coisas são coisas que tocamos com frequência, muita coisa dos primeiros discos nessa turnê como Bleed e No Hope No Fear, Fire, Porrada, Rise Of The Fallen, Prophecy, Blood Fire War Hate, a música nova que foi mencionada acima e além dos clássicos do Soufly que não podem faltar no set como Eye For An Eye, Primitive. Tentamos dar aos fãs o que eles querem ouvir. O que é maneiro é que a maioria dos fãs estão aqui por causa do Soulfly o que para mim tem um sabor de vitória porque finalmente estamos aqui especificamente para o Soufly, estou orgulhoso e otimista para o futuro.

ROCK BRIGADE: Algum show memorável que vocês tenham feito com o Soufly?

ZYON – Sim, num 4 de Julho em Londres com Motorhead, Black Sabbath, Faith No More e Soundgarden…

MAX – Alguns desses caras já não estão entre nós… é um mundo selvagem que vivemos e com todas estas coisas que acontecem. Fico feliz que Zyon tenha escolhido esse show porque também é um de meus favoritos. Também gosto muito de um festival que fizemos em Portugal, o Vagos Metal Fest. Estávamos no meio da turnê Return To Roots mas tínhamos este agendado e foi um show sensacional. Outro foi na França (Antibes) também na Eslovênia e no festival Copenhell. Tenho alguns bem memoráveis. Daqui a três dias faremos um na Polônia, um festival com 100 mil pessoas, será meu aniversario e estarei muito feliz, não posso imaginar a situação com milhares de polacos cantando parabéns, vai ser maneiro.

ROCK BRIGADE: Algum projeto novo com o Cavalera Conspiracy?

MAX – Eu e Iggor faremos o Arise e Beneath The Remains na América do Sul e Russia. Serão as musicas que mais gostamos dos dois álbuns num único show, uma fusão para criar um único monstro e que talvez num futuro passe por Europa. Segue a linha do Return To Roots mas uma ideia diferente por juntar os dois discos, algo mais original porque quase ninguém faz esse tipo de coisa. Geralmente escolhem um álbum em especifico como fizemos com o Roots mas juntar dois álbuns ainda é algo novo. Após essa turnê voltarei minhas atenções ao Soufly, lançamento do disco e ano que vem será uma grande turnê para apresenta-lo. Tentaremos montar um palco com temas do Ritual, com estátuas e algo mais, algo bem louco e interessante de ver mas deixo claro, nada High Tech, sem super produções, algo bem old school com estátuas de verdade. Lembro de ver o Jane’s Addiction há alguns anos e tinham coisas assim. São nossos planos para o próximo ano, talvez até uma turnê mundial.

ROCK BRIGADE: E o Lody Kong?

ZYON – Para mim o Lody é como se fosse minha banda principal mas como estou sempre em turnê com o Soulfly parece que esta é minha nova banda principal. Me sinto muito cômodo com o Lody Kong porque eu e o Igor escrevemos o material juntos de maneira frequente, produzimos nossos próprios vídeos e coisas assim. Então estamos amadurecendo e teremos um disco novo em breve, estamos crescendo como artistas e indivíduos além da banda. A cada ano as coisas vão melhorando. Assim que tenho sempre um olho posto no Lody e em 2019 teremos novidades

MAX – Escutei algumas musicas e posso dizer que é muito bom, ainda estão trabalhando nelas mas e tocaram algumas na turnê do Nailbomb. Para ele é legal porque ele sempre quis estar numa banda grande, o que agora mesmo ele tem com o Soulfly, e ao mesmo tempo tem sua própria criação com o Lody Kong onde pode fazer o que quiserem por conta própria

ZYON – Começamos do zero, não temos que seguir um formatos para agradar a fãs. Podemos fazer o que queremos e se alguém gostar pode seguir o que fazemos, um formato nosso, sem compromissos. Estamos sempre tocando e tentando encontrar o ponto certo. Alguma banda os chama atenção atualmente. Lembro que comecei a escutar Clutch quando o Iggor mencionou a banda há anos atrás no programa da MTV, Gás Total.]

ROCK BRIGADE: Também há uns anos quando te entrevistei ( Max ) e você falou do Nails, que é uma banda maravilhosa.

ZYON – Shit man!… essa é difícil (risos) Max – Eu descobri uma banda no Canadá chamada Indian Handcrafts, algo estilo Mastodon e Queens Of The Stone Age. Também Real & Ardor (Max estava com a camisa da banda) da Suíça, tocamos com eles num festival. Fizemos boas turnês com bandas como Cannabis Corpse, que é bastante divertido porque é uma banda de Death Metal que só fala de maconha. Bandas como Nile que já tem uma carreira consolidada e não é novidade para ninguém. Gatecreeper é uma banda legal, Genocide Pact também gosto muito. Gosto de ver que o Metal continua no bom caminho.

(Maurício Melo)