Creedence une gerações no Tom Brasil

Quando soube da vinda do Creedence Clearwater Revisited novamente a São Paulo, fiquei imensamente feliz, pois teria a oportunidade de assistir a um dos ícones musicais que fizeram história e entraram para o Hall da Fama do Rock’n’roll e embalaram a adolescência de muita gente.

O baixista Stu Cook e o baterista Doug “Cosmo” Clifford são amigos há seis décadas e se conheceram quando tinham 13 anos. A música é a cola que os uniu e os conduziu a se tornarem parte do fenômeno que foi o Creedence Clearwater Revival original de 1967-1972.

Essa cola se manteve quando eles formaram Creedence Clearwater Revisited em meados dos anos 1990, pouco depois de terem sido introduzidos ao Hall da Fama do Rock’n’roll e ainda está presente hoje, com Stu e Cosmo, como o núcleo que conduz o quinteto com a ajuda do cantor/guitarrista Dan McGuiness, o guitarrista Kurt Griffey e o multiinstrumentista e vocalista Steve Gunner.

Durante seu set de 90 minutos, eles homenagearam 16 músicas que Stu e Cosmo ajudaram a criar há quase 50 anos. O lugar escolhido para o show foi o Tom Brasil, no dia 25 de outubro, com a produção da Top Link Music e tendo como banda de abertura a Dr. Pheabes, de São Paulo.

Aos poucos o público foi chegando e o que me chamou a atenção, apesar de já esperar por isso, foi o encontro de gerações presente. Via-se grupos de famílias a cada canto. Avós com netos, pais com filhos. Como se não houvesse décadas de distância entre eles, estavam lá, curtindo um som atemporal e muitos deles com saudade de algo que não viveram. Difícil não se contagiar com tanta emoção saindo do olhar de cada um ― e lindo de se ver, em uma época que a boa música já não rola mais nos meios populares de comunicação.

O Dr. Pheabes subiu ao palco com um pouco de atraso. Mesclou músicas de seus três álbuns, com ênfase no último, Army of the Sun, lançado em maio último. Com um público fiel, eles fizeram uma apresentação limpa, honesta, acompanhados de seus fãs a cada hit. Em determinado momento, o microfone do vocalista Eduardo Parrillo falhou e a produção imediatamente o substituiu, sem prejuízo ao espetáculo.

Com um currículo de grandes shows, fizeram um set de 45 minutos, agradando aos presentes. Destaco a presença de Rafael Agostino ( tecladista da Armored Dawn), que abrilhantou a apresentação do Dr. Pheabes, tocando guitarra e teclado.

Passado um pouco das 22h, sobem ao palco os veteranos da banda Creedence Clearwater Revisited. Com os primeiros acordes da Born on the Bayou, algumas senhoras tentam chegar a grade, próxima ao palco, para vê-los melhor, se movimentam e deixam seus netos para trás, provando que idade está na cabeça.

Ao mesmo tempo, vejo adolescentes cantando junto e se “descabelando” ao som da banda. É o rock que vive e revive a todo instante dentro de cada um de nós, independente de espaço/tempo, nos unindo numa força inexplicável!

Seguiram com mais clássicos e ovacionados a cada uma das músicas. Em Suzie Q, destaco a performance do maravilhoso guitarrista Kurt Griffey, solando sua guitarra com uma habilidade totalmente inesperada para quem toca uma sonoridade tão básica quanto a do Creedence Clearwater Revisited. Solos de guitarras incrivelmente deliciosos que fizeram com que não sentíssemos o tempo passar.

Dan McGuiness, parece muito com John Fogerty em sua juventude, além de ter uma voz semelhante, o que era esperado. Cook falou entre a maioria das músicas para apresentá-las e apresentou os membros da banda. Nesse instante, Clifford saiu de trás da bateria e aproximou-se de um microfone dirigindo-se à multidão presente no Tom Brasil. Falou sobre amizade e longevidade enquanto flexionava o bíceps (bem avantajado, por sinal) para uma multidão que gritava. Stu e Clifford se abraçaram em uma expressão de alegria e amor que refletia a camaradagem que existe entre eles. 

Essa conexão um com o outro foi aparente durante toda a apresentação, interferindo beneficamente nas performances de todos os outros membros da banda. O efeito foi contagioso e se espalhou para a multidão.

Disse, também, que a idade está na cabeça das pessoas e que ele, apesar de já ter passado dos 70 anos, se sentia com 20 e poucos, e até o final do show estaria com uns 14 anos e seria um virgem novamente, arrancando risos dos fãs.

A cada música, mais a galera se animava e é certo que, se tocassem por mais tempo, continuariam dançando, cantando e aplaudindo. Não tem como, Creedence Clearwater Revisited é assim, energia do começo ao fim, com hits conhecidos por todos. Para o encore, sem delongas, mandaram mais três músicas, entre elas Travellin’ Band, fazendo-nos agitarmos ainda mais

Um show que vai deixar saudades e lavou a alma com muito rock’n’roll.

(Texto: Janita Santana, fotos: Leandro Almeida)