Entrevista: integrantes do Viper comentam novo álbum ‘Timeless’

Lançado no dia 23 de junho último, “Timeless” encerra o período de 15 anos sem lançamento de um álbum de inéditas pelo Viper. O disco, primeiro com Leandro Caçoilo nos vocais e Kiko Shred na segunda guitarra, conta com 11 faixas que trazem elementos das diferentes fases da banda.

Em entrevista exclusiva para a ROCK BRIGADE, Pit Passarel (baixo e vocais), Felipe Machado (guitarra), Guilherme Martin (bateria) e Kiko falam a respeito do novo trabalho e contam a história por trás de algumas músicas.

Rock Brigade: “Timeless” marca o retorno do Viper após 15 anos sem lançar um álbum de inéditas. Por que tanto tempo?

Pit Passarell: Bem, porque a gente teve muito trabalho a fazer durante isso, a gente fez o último disco, “All My Life” (2007), a gente teve os shows com o Andre Matos, junto numa turnê e a gente, sabe… não é que esqueceu? Mas o tempo foi passando, foi passando, a gente procrastinou, quando chegou aí, teve problemas de, ou a crise econômica, depois teve a pandemia, mas foi muito tempo mesmo, mas mesmo assim a gente nunca pensou, a gente é uma banda muito de querer tocar ao vivo, né? A gente falou “cara, falta um disco, né?”, aí tocou o sino, né?

Felipe Machado: Quando a gente pensa assim, que o último disco foi em 2007, parece que a gente ficou muito tempo e tal, 15 anos realmente é bastante tempo, mas a gente não ficou parado esse tempo todo né? O que aconteceu foi que logo depois do “All My Life”, quando saiu o disco, a gente fez uma turnê longa que durou 2-3 anos, tal, então já tamo falando aí de 2010, mais ou menos. Em 2012, a gente já começou a, 2011-2012, já começamos a trabalhar naquela turnê de volta com o André Matos, né? Que foi uma turnê também longa, que demorou até 2015, tal. E daí a gente lançou o disco ao vivo e lançou o DVD ao vivo, então quer dizer que não é que a gente não lançou nenhum disco, a gente não lançou disco de inéditas, mas a gente lançou esse trabalho ao vivo, que foi um trabalho muito legal e tal. Depois o André acabou saindo, a gente fez uma turnê junto com o pessoal do Shaman, tal, a gente acabou lançando uma regravação de “To Live Again”, a gente gravou… a gente lançou o single em homenagem ao André, “The Spreading Soul Forever”, então, quer dizer, olhando aos 15 anos, parece que realmente foi um tempo muito grande, mas foi um tempo mais ou menos… a gente não ficou parado, né? Parece que o tempo, assim, olhando no papel, parece mais do que realmente, foi um tempo de intervalo da banda, mas claro que é muito legal estar de volta com um disco de inéditas depois de tanto tempo, né?

Quanto desse tempo foi investido na composição e na gravação do “Timeless”?

Guilherme Martin: É, a gente teve um, teve um processo, um processo longo até a gente chegar onde chegou, até todas as músicas estarem prontas e a gente poder conectar uma música na outra até virar um disco que soasse, que soasse… junto, vamos dizer assim, coeso, demorou bastante. Demorou bastante porque, além do problema da pandemia, a gente, a gente tava todo mundo, cada um, separado, fazendo as coisas, a gente tinha… a gente tinha pouca música, vontade de ter um disco e um tracklist reduzido. Então, a gente achou que precisava ter mais músicas pra entrar num disco pra gente, realmente, fazer valer a pena esses 15 anos que a gente ficou sem ter lançado álbum novo, realmente fazer alguma coisa que realmente valesse a pena pro grande nome do Viper, né? Então a gente foi pra estúdio, a gente compôs músicas do zero, algumas músicas que já existiam, a gente resolveu dar vida pra elas, foi o processo de quase um ano e meio, de quando a gente decidiu ter… a gente tinha duas músicas, inclusive, a música “Timeless” que era o tema do disco, né, a gente resolveu… a partir disso daí, um ano e meio a gente compôs mais seis músicas em estúdio e o Leandro tinha mais uma que foi, que entrou no tracklist também, Felipe apareceu com uma quase no final das composições… então quer dizer, foi uma contribuição geral pra gente chegar onde tá aqui, mas não que necessariamente que a gente tenha feito tudo isso de uma forma… cada um teve a sua participação, não todo mundo junto, mas de certa forma…

PP: As minhas músicas já tavam todas prontas. As minhas músicas já tavam todas prontas, desde o primeiro dia, não foram compostas, as minhas já tavam prontas, desde o “All My Life” elas já tavam prontas. Mas é o seguinte, mas pra tá pronta a música na sua cabeça e trazer pro estúdio é outra. É outro jogo. Mas as minhas já tavam ready.

GM: Algumas eu tenho certeza que eu já tinha escutado o desenho delas da boca dele.

PP: Desde a turnê com o André Matos, cara. Não, porque eu tenho essa mania louca de ter uma música doida na cabeça, de ter uma partezinha e depois vai subindo, subindo, subindo, subindo… e aí a gente fez isso. Lógico, uma música não é simplesmente uma ideia só que você tem na cabeça, uma coisinha. É composta depois de muito trabalho com os companheiros que você tem.

GM: Eu não sou compositor, mas eu tive a…

PP: Ah não, é.

GM: Eu tive a… eu não era compositor assim, eu aprendi com o Pit o jeito que ele compõe, e compor uma música em parceria com ele, pra mim é uma honra, assim, é algo que assim, é um aprendizado. Foi uma aula de Viper pra mim.

O título do álbum, “Timeless” aparenta ter um significado muito importante, sobre atemporalidade e tal. Vocês poderiam falar um pouco sobre isso?

FM: Esse nome assim… primeiro ele foi uma das primeiras músicas e tal, e ele acabou virando um nome que foi crescendo assim, em termos de significado, na medida que o disco foi, foi acontecendo. Ele, no começo, “Timeless” é uma coisa atemporal, como cê disse e tal, que é uma coisa, tem tudo a ver com a banda, né, é uma banda antiga, é uma banda que tá voltando e tal, mas depois ele acabou ganhando novos contornos, com, por exemplo, as composições foram se apresentando de maneira que elas englobaram várias fases da carreira da banda, né? Elas bebem várias fontes ali, ao longo da carreira, então esse nome acabou também significando isso, embora não tivesse esse significado no começo, né? Então assim, o disco acabou tendo uma… outras pessoas já nos perguntaram assim: “ah, mas o disco é um disco sobre o tempo? É um disco conceitual sobre o tempo?” na verdade ele não é, mas ele acabou virando por todas as circunstâncias, né? Então… e querendo completar um pouquinho o que cê tinha falado antes, do tempo, que é uma coisa que eu queria falar do Kiko, que essa coisa do disco ter demorado esse tempo todo, também foi muito importante porque o Kiko acabou… o Leandro acabou se consolidando como vocalista e o Kiko entrou na banda também, então em referência a sua primeira pergunta, esse tempo que demorou, vamo dizer, o tempo pra sair o disco, também foi um tempo de incorporação a novos integrantes, né? Então eu acho que isso tudo também contribuiu pro disco demorar mais tempo. Mas em relação… a gente tem falado muito dessa palavra “tempo”, “tempo”, “tempo”, né? E o tempo é o… não tem muito como a gente fugir dele, é uma banda que tem trinta e oito anos, você não era nem nascida quando a gente já tocava e então assim, é impossível a gente não, o tempo não tá presente numa banda tão antiga assim e que tá de volta. Então ele faz parte realmente do disco.

Como vocês sentem que a banda evoluiu desde 2007, ano do “All My Life”, para agora, com o lançamento do “Timeless”?

FM: Ah, assim, eu acho que a parte mais óbvia, né, eu acho que é… bom, no “All My Life” ainda não tinha ainda o Guilherme, o Guilherme também entrou nessa era, de pouco depois, mas acho que o mais forte assim realmente foi a entrada do Kiko e do Leandro, né? O que realmente mudou mesmo a, vamos dizer assim, a formação da banda, porque foram dois caras assim, que vieram com o sangue muito fervendo, assim, que trouxeram uma garra muito forte pra banda, né? Acho que o Kiko pode falar um pouco dessa… o Leandro já tava há mais tempo, né, já tava, acho que cinco anos, quando o André voltou lá pro Shaman e o Leandro entrou, mas o Kiko acho que pode falar por ter sido o último a entrar, fala aí Kikão.

Kiko Shred: Bom, eu conheço o Viper desde, desde a primeira formação, né? Fui apresentado ao Viper por um cassete do “Theatre Of Fate”, que um amigo meu tinha, ele falou “ó essa banda que legal, escuta” e tal, acho que a maioria dos fãs do começo dos anos 90 foi assim, né? Depois eu fui num show do Viper com a formação com o Pit no vocal, que foi a turnê do “Evolution”, isso eu era muito novo. Vi um show da turnê do “All My Life” em Campinas, no Hammer Rock Bar e bom, pra mim é uma honra tá no Viper, é uma honra contribuir pra esse disco, realmente eu acho que o time tá muito entrosado, tá muito legal, todos têm… claro, cada um tem o seu estilo, a sua vertente preferida dentro do rock e do metal, mas todos conhecem mais ou menos as mesmas músicas, né? Às vezes gostam um pouco menos, um pouco mais, mas todos têm basicamente as mesmas influências, né? O Guilherme, por exemplo, curte muito punk rock eu curto mais metal, mas também curto punk rock, conheço muita coisa do punk rock, o Felipe…

PP: Blues, blues…

KS: O Pit compõe pra banda de pop rock, compõe pro metal também, então pra mim foi uma experiência, tá sendo uma experiência muito legal, e participar desse disco foi muito legal, mesmo. A reação do público nos shows tá sendo muito bacana, a gente fez o Angra Fest junto com o Angra e com o Matanza e a galera reagiu super bem, tanto as músicas novas quanto aos clássicos do Viper, então eu acho que a formação, não só o registro em estúdio tá excelente, né? Vale ressaltar a produção do Maurício, Maurício Cersosimo, tanto quanto a performance da banda ao vivo, né? A gente vê através da reação dos fãs que tá muito legal também, tá muito coeso, tá muito… tá pesado. Eu acho que, bom, eu acho que a formação tá bem legal agora e é difícil dizer se houve uma evolução, né? Assim, é difícil dizer se houve uma evolução, porque todas as fases do Viper tem os hits, tem fã que adora o “Coma Rage”, tem fã que adora o “Evolution”, tem fã que adora o “Theatre Of Fate”, tem fã que adora o “Soldiers Of Sunrise”, tem fã que curte, que adora o “Tem Pra Todo Mundo” também, que é uma pegada mais pop, né? Então, é difícil dizer se houve uma evolução, eu só posso dizer que tá muito legal, tá muito boa essa formação, a gente se dá muito bem e a gente tá muito bem tocando no palco também, fora do palco, e é isso aí.

PP: É porque é legal ele falar sob a perspectiva dele de tá no Viper, mas a perspectiva que eu tenho desse cara, bacana pra caramba, tá no Viper, que acrescentou tanto pro nosso trabalho, né? Então isso é bacana dizer, sabe? Tipo, pô é legal tá no Viper, é uma honra, pô, uma honra é tá com um músico tão talentoso quanto você, que todo mundo reconhece no Brasil inteiro, ou talvez no mundo, então sabe, a gente gosta de se elogiar como compositor e tudo mais, mas tu tá aqui com a gente, cara, e é uma honra e muito obrigado por tá aqui.

GM: Obrigado pela sua contribuição. Além do melhor guitarrista solo, é um puta guitarrista base também, que me acompanha aí, que é a minha pista de pouso aí durante as músicas.

PP: E eu não sou?

GM: Não, você é, você é.

PP: Mas ele é melhor, tá bom, tá bom, tá bom, tá bom…

GM: Um diferencial da sonoridade de um disco pro outro, é que o disco passou por uma produção, uma produção… teve um produtor envolvido no disco. O “All My Life” teve a visão da banda, tem músicas fantásticas, cara, é um disco… mas tem a visão única exclusiva da banda. Dessa vez a gente teve um produtor, um sexto integrante na banda, dando um… enxergando coisas na música que a gente não conseguia enxergar. E isso foi muito importante pra sonoridade final do “Timeless”. O Maurício Cersosimo é meu irmão, vale a pena falar…

PP: Ah, agora vai começar a parte… vamo começar com a parte maguila? “Quero agradecer…”

GM: A parte…

PP: “Quero agradecer”, a parte maguila é quando fala “eu quero agradecer a todos que participaram do disco”. Vai, maguila.

GM: Maguilas?

PP: É o maguila não, ó. As crianças maravilhosas que gostam de música, é uma banda formada pelo super Leandro, super Kiko, super Felipe, super Pit e super Guilherme, tudo bem, nós somos os supers.

GM: Maguila?

PP: Agora tem a família, o cabide de emprego, que a gente… não, aí tem o Maurício Cersosimo, Nando Machado, Val Santos, vai continua.

GM: Daniel Matos, André Cortada, alguém me ajuda aí.

FM: Hugo Mariutti.

PP: Natasha.

GM: Fábio Ribeiro.

KS: O Yves também.

FM: O Yves Passarell.

GM: Todo esse pessoal participou do disco e são pessoas… a Natasha, minha esposa também.

PP: Amiga da minha, e a música “Thais” tem a ver com isso, porque elas eram amigas, né?

GM: Não foi aleatório. Os convites não foram aleatórios, assim. Todas as pessoas que foram convidadas tem um envolvimento muito grande com a história do Viper, então assim…

PP: A gente agrega sempre, agregar as pessoas bacanas que a gente conhece e meu… mas esse 20:03 falando das citações agora terminou. Agora vamo falar sobre esse super disco que a gente fez, que as pessoas tão gostando pra caramba e a gente tá tendo um futuro muito promissor com essas coisas que a gente tá fazendo. Dois magníficos músicos que entraram na nossa formação que temos que que agradecer a Deus por isso e manter uma firmeza é tudo que mais queremos, cara. A gente tá sempre pensando no futuro, e já tá compondo uma música, o Kiko, pô. Já? Ele tá compondo uma música e daqui a pouco ele me manda.

E vocês falaram um pouco a respeito da pandemia, como ela impactou de certa forma o disco. A música “Light In The Dark” foi inspirada no período pandêmico?

GM: Sim, sim. Essa música é composta pelo Leandro e realmente, quando ele é questionado sobre essa letra, ele afirma isso daí. Foi inspirada nesse tempo de pandemia, de repressão, de um governo… de repressão, essas coisas. Então ela é bem datada nessa época, a letra é bem datada nessa época que o mundo passou. Sim, é.

A música “The Android” é a minha favorita do álbum. Pit, ela conta com os seus vocais, como foi voltar a cantar em uma música do Viper?

PP: Obrigado. Bem, eu amo essa música, é uma das letras mais legais, “The Android”, primeiro pela atitude que ela tem, em relação a ver como o mundo que tem muita tecnologia e tem a ver com o ser humano, né? Eu sempre repito isso, eu sempre cito, eu falo da Greta Thunberg, que foi uma ativista que sentou e virou… pode não gostar dela e fala “ah, é uma chatinha”, não. E a Malala, que levou um tiro na boca porque tava lutando contra o Talibã, por querer estudar. E o Android simplesmente roda em torno do mundo, então uma das coisas que, tenho até uma camiseta, que é uma caveira, então tipo… e fala sobre tipo… “I’m the river, I’m the lion”, eu sou o rio e o leão, “I’m the elephant and the tiger”, sabe, a gente tem a natureza também. Então o que nós temos é a humanidade, é a natureza e mesmo assim nós temos que conviver com a tecnologia que talvez nos sufoque e nos ajude. Mas assim, “The Android” é… e porrada do caramba, né? Lógico, adoro cantar essa música, que aliás eu canto. E a parte pitoresca é que eu faço um sotaque jamaicano, né? Na música. “I’m everything you desire”.

GM: Quando a gente começou a tá compondo essas músicas, não existia a ideia do Pit voltar a cantar. Isso foi uma coisa natural, foi uma coisa que aconteceu. Quando saiu essa música, quando a gente escreveu a pré-produção dela, a gente olhou e falou “não, quem tem que cantar essa música é o você, porque ela tem tudo a ver com a época que você cantou no Viper, que você era o frontman do Viper”. Eu acho que também, eu achei que isso pros fãs ia ser um presente, uma coisa, porque tem gente que gosta muito da época do “Evolution”, do “Coma Rage”, do Pit como frontman. Então eu acho que depois de tanto tempo, era legal ter surpresa, era legal a gente não seguir uma coisa tão linear, porque o Viper nunca foi linear, né?

A música “Under The Sun” foi o primeiro single lançado e o Pit e o Guilherme são creditados nela. Ela fala a respeito de um grupo de cinco caras que saem de suas casas, dão adeus a seus pais e vão em busca de experiências e vivências novas. Trata-se de uma música autobiográfica? O quanto do que é cantado é real, aconteceu de verdade?

GM: É um multiverso.

PP: É tipo, mais ou menos. A gente foi inspirado um pouco pelo livro do Jack Kerouac que ele fez a letra e eu fiz a música, mas a primeira ideia que eu tive, falei tipo “The Rusty Five” era como se fosse uma banda, que são cascudos pra caramba, “rusty” é enferrujado a gente pensou em enferrujado, são cinco enferrujados que é o que…

GM: A cidade “Rusty Land”, nada prosperava na cidade, então por isso que os Rusty Five resolveram sair, mas ela foi inspirada um pouco no livro “On The Road”, do Jack Kerouac…

PP: É, foi nossa ideia também, não vamo bota o crédito só no Jack Kerouac, vamo botar um pouco da gente.

GM: Inspirada, eu digo inspirada. Ela foi inspirada um pouco de Hooligan Punk, um pouco no 22:00 tipo, toda a… a gente tem um nível de cultura pop antiga muito grande, com as referências, né? Então tudo isso foi juntando e foi dando vida aos Rusty Five, durante a música.

PP: Os Rusty Five é banda, tinha dois caras, duas minas, depois foi a banda e a única coisa que a gente… a gente tentou alugar um carro parecido, né? Aí eu falei: “quem vai dirigir o carro?” aí eu falei “eu”.

GM: Daí a gente tirou essa ideia.

PP: Aí roubava um posto de gasolina, aí ele virou… ele fez a letra, é um compositor. Eu fiz a música aí falou: “meu, The Rusty Fives, The Rusty Fives, Rusty Five” a gente é mau. “Bad to the bone”.

GM: Mas não aconteceu assim, mas ela poderia virar o roteiro de uma graphic novel, assim, porque… tanto que a capa do single um pouco, né, ela é… são cinco caras, um Cadillac no meio deserto, aquele ambiente que a gente quis dar com um clipe que o Caio Cobra produziu ali, as cinco silhuetas somos nós cinco ali, os Rusty Five, tudo em sombra, mas a ideia original é ser os cinco integrantes do Viper.

PP: Diz por você, que não é real, só que no meu caso não foi um Cadillac, foi um Ford Ka.

GM: Besourinho.

Esse álbum conta com participações especiais dos músicos Hugo Mariutti, Yves Passarell e Daniel Matos. O Yves foi guitarrista do Viper lá no comecinho. Como foi tê-lo no álbum e o que quer dizer 4/5 da formação original do Viper junta de novo numa música?

FM: Qual participação? A do Yves? Ah, a do Yves foi na Angel Heart.

GM: Eu e o Pit, a gente tava num estúdio, é o estúdio Wolf, esse estúdio onde a gente…

PP: Wolf Studio.

GM: O estúdio Wolf é na casa do Pit, né? Imagina como é que deve ser o estúdio, né? E nesse dia a gente, meu… a gente chamou o irmão dele, a gente não sabia o que ia sair, mas a gente falou “olha, você vai participar do disco” aí a gente botou a pré produção da música, ali a música nem tava pronta, nem tinha sido gravada, e ele fez o solo dele. E cara, ele botou a cara dele. O Yves botou a cara dele, que ele punha nos solos do Viper das antigas, e o resultado a gente não podia deixar de colocar, né?

PP: É mais ou menos essa história. A gente pega o cara, a gente pega pelo laço, o laço mesmo. “Mermão, tu vai toca no solo com essa guitarra, né?”, ai eu chamei o cara, porque fui eu que fiz a música aí chamamo ele. Mas é mais ou menos assim, por isso que foi bacana, de todas as coisas que q a gente fez. Muita coisa a gente foi feita no estúdio, na hora, mas muita coisa foi feita de improviso. Pô, cê tá aqui. Meu, vai tocar. A gente grava de algum jeito e depois vai pro estúdio fazer direito e foi muito lindo assim, mas essa música é tão bonita assim, tipo… eu amo, foi uma das primeiras que eu fiz, todas… acho que tem três anos essa música.

GM: Não, que três anos. Você já tocava essa música na época da turnê do André Matos, cara. Tem mais de dez anos.

PP: É, tô véio 26:18 ah, “The War”.

Para vocês, o documentário “André Matos – Maestro do Rock” faz jus a quem foi o André e à trajetória dele no Viper?

GM: Eu acho que sim, cara. Eu assisti, eu participei do documentário, participei… tive a honra de ter o André junto comigo como músico e como amigo, assim… na primeira parte, que é, vamo dizer que é a parte alegre do documentário, vamo dizer assim… eu acho que faz jus sim, eu acho que o André era tudo aquilo, realmente. Por trás daquela parte do André maestro, super centrado, aquela persona que ele tinha, ele era um cara muito divertido. O André era um grande amigo. Ele era um cara debochado, a gente dava muita risada com o André.

PP: O André me levava pra vários… bonito e legal, a gente entrava na roubada pra caramba, ele era um cara legal, ele passou por quantas bandas, vai? Shaman, Angra, a banda solo dele, o Virgo, 27:50 , o Viper… então sabe, a gente não tem que falar tão bem dele só como grande maestro… grande amigo, né? É isso que o Guilherme tá falando, cara. Ele era debochado, ele era legal, é lógico. Ele era um arrombado que nem “nóis”, meu! Ele era mano que nem “nóis”.

GM: Teve um show engraçado…

PP: Cuidado com o que você vai falar.

GM: Foi em Salvador. Aqueles shows que sabe quando falam que dá merda? Mas deu merda desde a passagem de som. Pegou fogo, e não sei o que, o André comeu um acarajé que ele achou que não ia entrar no palco. Ele entrou no palco… tipo, chegou atrasado, verde no palco, daí cara, tudo dando tudo certo. Daí, no meio do show, a gente discutiu e todo mundo naquele calor do show todo mundo ficou puto um com o outro, não sei o que, cada um pra um lado, não sei porque. Eu não sei porque, cara, quando a gente chegou no hotel, a gente conversou, e o que eu lembro, é de todo mundo abraçado na rua de Salvador de madrugada, dando risada e lembrando da história.

PP: Uma coisa: o André tinha isso, cara. A gente podia tá no caos. O André chegava e dava paz. Isso que era legal.

GM: Ele era um gentleman. Ele era um gentleman.

PP: Ele chegava e falava “pô, posso tá com diarreia, mas vamos passar o som? Vamos passar o som?” É muito bacana.

GM: O Kiko conviveu com o André também. Kiko, você pode falar um pouco mais da parte profissional que você viveu com o André, não foi isso?

KS: Eu participei dum projeto chamado “Metal Singers” que foi em dezembro, foram cinco ou seis shows em dezembro de 2018. Esse projeto da Open The Road, eles colocaram quatro vocalistas, então eram mais ou menos cinco, seis, sete músicas de cada um. Era o André Matos, Doogie White, que foi do Rainbow, o Blaze Bayley que foi do Iron Maiden, e o UDO Dirkschneider, do Accept, que cada um tocava umas sete músicas, né? E a mesma banda tocava com os quatro. E a gente teve a oportunidade de passar uns cinco dias assim, com o André, claro, obviamente, dos… com o Doogie White a gente também conversava bastante, mas dos quatro vocalistas, por ser brasileiro, é claro que a gente ficou mais amigo do André, né? Então a gente viajava na van, e conversando com ele, perguntando tudo. Como tinha sido o começo do Viper e aí a gente lembrou que o Angra começou como um Iron Maiden cover pro resto da galera pegar experiência de palco, né? Ele contou tudo isso, pô, foi muito legal, muito legal mesmo. Muito profissional, conseguia sempre, como todo mundo sabe, conseguia sempre ter o público na palma da mão, né? Eu via gente, assim… talvez, exista artistas, assim, talvez, sei lá, mais famosos, brasileiros mais famosos que o André Matos, artistas brasileiros mais famosos que o André Matos, ou talvez, sei lá. Mas eu nunca vi, e eu acredito que não tenha ninguém que consiga despertar o entusiasmo, a paixão que o André despertava no público. Era algo muito, assim… claro, cê pode ter um músico brasileiro tocando numa puta banda gringa, etc, mas o entusiasmo, a paixão, a emoção que o André despertava no público, era algo que, é algo que eu nunca vi, né? Em nenhum artista. Porque eu lembro que a gente tava tocando no Paraguai, no Chile, tinha menina chorando na plateia, era tipo uma beetlemania, assim. O cara tinha um carisma, sem falar só da voz, né, tudo, de tudo isso que a gente já sabe. Mas ele tinha um carisma com o público que é algo assim, muito raro, muito raro mesmo.

PP: Ele era contido, né? Ele era contido assim, ele era tão bom. Porque ele chegava e acalmava. A gente chegava e… tem uma história que a gente tava… foi em Aracaju, que a gente saiu andando pela praia, aí eu ficava lá e ele ficava amigo dos caiçara em dois segundos, cara.

GM: Mas, respondendo a sua pergunta: eu acho que faz jus, sim. Foi um trabalho lindo do Anderson. Inclusive, o Anderson, ele me ajudou a dar vida ao single de “Spreading Soul Forever”, né? Que é aquela música que no meio da pandemia aconteceu aquela homenagem pro André, né? Então, com certeza eu acho que o que faz jus e o trabalho do Anderson é maravilhoso.

PP: Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, temos que lembrar que nós sempre vamos, quem tocou com o André sempre vai querer fazer uma homenagem. Nós temos o Leandro, que tá fazendo um super hiper, hiper, hiper, hiper, hiper trabalho e a gente tem que seguir em frente. Acho isso importante, dá valor ao nosso vocalista que tá tocando com a gente, e é legal.

GM: Sim!

PP: Então eu sei que todos concordam, né? Nem preciso falar. E eu também cantei, né? Eu tive que segurar a onda um tempinho, e a mesma coisa, o Yves saiu entrou o Kikão. Pô, então é aquela coisa, cara. A gente tem que seguir em frente com o futuro do Viper, e o futuro do Viper é muito promissor, com esse disco maravilhoso que nós fizemos, temos grandes expectativas de tocar fora do Brasil pra mostrar o nosso trabalho.

Por Beatriz Cardoso