Eric Gales fala sobre Brasil, blues e álbum indicado ao Grammy  

O virtuoso guitarrista Eric Gales se junta ao time de estrelas do Best of Blues and Rock, um dos maiores festivais do gênero no Brasil. Em uma conversa exclusiva com a Rock Brigade, Gales fala sobre sua quinta vez no país, a energia contagiante do público brasileiro, seu mais recente álbum “Crown” e a importância de festivais como o Best of Blues and Rock para a cena musical.

Rock Brigade:  Bem, Eric, antes de mais nada, como é fazer parte do Best of Blues and Rock, um dos maiores festivais que reúne blues e rock no Brasil?

Eric Gales: É incrível, cara. Estou honrado em participar disso com dois bons amigos meus, Zack [Wylde] e Joe [Bonamassa]. É sensacional.

Esta é sua quinta vez no Brasil. Com base no que você já sabe, o que pode ser dito a respeito do público brasileiro?

 Uma energia incrível que sinto toda vez que venho aqui. É viciante, sabe? É algo tão poderoso que, quando chega a hora de voltar para casa, eu não sinto vontade de ir embora! [Risos.] É o povo, a energia, a cultura. Na minha opinião, o Brasil tem as pessoas mais bonitas do mundo. Eu e minha esposa achamos tudo maravilhoso – a comida, a cultura, a energia, a hospitalidade. Tudo isso é incrível e é por isso que estamos muito, muito empolgados em estar de volta ao Brasil.

Como você descreveria o seu show?

 Eu apenas faço o que faço, cara. Apenas deixo o palco ser o palco e o resto se encarrega de si mesmo. Dou sempre um milhão por cento. E tudo o que vem com isso. Muita gritaria, incentivando o público a me dar energia e eu devolvendo essa energia para eles. Muita emoção e intensidade. Esse é o tipo de show que eu faço.

Festivais como o Best of Blues and Rock são uma grande oportunidade para os fãs descobrirem novos artistas e expandirem seus horizontes musicais. Como você vê a importância desses festivais na promoção da música ao vivo e na conexão entre artistas e fãs?

 Acho muito, muito importante. É a conexão, é o canal que os fãs têm com os artistas, o que é muito importante. A importância da conexão é fundamental, sabe? Você tem a música e tem essa rede, mas dar ao fã essa conexão mais próxima com um artista que eles realmente admiram é vital. Quanto mais próximo eles se sentem do artista, não apenas com a música, mas também com coisas íntimas e regulares, é essencial para a necessidade desse meio de conectar fãs com artistas.

Você teve chance de explorar um pouco da cena musical brasileira?

 Um pouco, sabe? Das outras vezes que estive no Brasil, ouvi alguns artistas brasileiros e coisas do tipo. Contei ao último entrevistador sobre um riff específico que é tocado durante a capoeira. Eu toquei esse riff e a plateia enlouqueceu. Todos sabiam exatamente o que eu estava tocando e foi incrível ver a reação de todos.

Existe algum aspecto da música brasileira que te atrai ou que você gostaria de conhecer mais?

 Gostaria de mergulhar mais profundamente em alguns estilos mais regionais da cultura brasileira. Quero uma observação mais próxima, sabe, ouvir de perto e observar a música brasileira que está acontecendo fora dos grandes centros.

Gostaria de falar sobre o álbum “Crown”. O que você acha que o diferencia dos seus trabalhos anteriores?

 É um pouco diferente. Todos os meus álbuns falam sobre coisas que vivi, mas este é um pouco diferente. A participação de Joe e Josh [Smith] e a composição elevaram o nível. Minhas vocais e o canto foram mais o ponto focal do disco do que a guitarra. Queríamos definitivamente fazer com que este disco se destacasse. Dos 19 álbuns, queríamos que este fosse um dos que as pessoas dissessem “uau, ele se esforçou mais”. Não que eu não tenha me esforçado nos outros, mas neste realmente fomos além.

O álbum aborda temas como a luta contra o abuso de substâncias, esperanças de sobriedade e reflexões sobre o racismo. Quão pessoal foi o processo de composição para você?

 Foi muito pessoal em todos os aspectos. Tudo o que foi dito é algo que cruzou meu caminho em algum momento da minha vida. Foi terapêutico poder cantar e tocar sobre isso. Sim, foi muito terapêutico.

Qual mensagem você espera que seus ouvintes levem deste álbum?

 Apenas que todos são iguais, cara. Todos são iguais. Trate os outros como você gostaria de ser tratado. Leve um dia de cada vez, não há pressa para tudo. Apenas relaxe e trate todos bem, e acho que o mundo poderia ser um lugar muito melhor.

Há alguma música ou letra no álbum que seja particularmente significativa para você?

 Sim, todas elas. Cada uma toca em diferentes coisas. Cada canção traz uma lição e é um grande feito pensar na quantidade de coisas sobre as quais consegui falar no álbum. Cada música tem uma mensagem de positividade e não de negatividade, para tentar fazer minha parte em tornar o mundo um pouco melhor.

“Crown” alcançou o número um na parada de álbuns de blues da Billboard e lhe rendeu sua primeira indicação ao Grammy de melhor álbum de blues contemporâneo. Como foi receber esse reconhecimento, especialmente considerando a jornada pessoal refletida no álbum?

 Foi incrível. Foi enorme. Ter o álbum reconhecido dessa forma foi… ainda estou flutuando com isso. E levar isso adiante, o próximo nível é ganhar o Grammy no próximo projeto. Só saber que isso pode ser feito, depois de todos esses anos, é uma sensação gratificante. Não desistir e continuar em frente, porque se eu desistisse, não saberia o que estava pela frente. Então, apenas continue.

Você nasceu e cresceu em Memphis, uma cidade com uma rica tradição musical. Como foi crescer em um ambiente tão influente para o blues e como isso moldou sua abordagem à música?

 Foi muito essencial estar em uma cidade conhecida por seu patrimônio musical. O gospel também teve um grande papel nisso. Memphis está integrado em quem eu sou como pessoa e definitivamente é uma grande parte da apresentação de quem eu sou. Tudo o que faço tem um toque de Memphis. Então, foi muito essencial, tanto musicalmente quanto como pessoa para mim.

Você sente uma responsabilidade especial como músico de Memphis para continuar essa tradição e inovar dentro do blues?

 Sim e não. Acho que minha responsabilidade é manter o que sinto que vem de dentro de mim. Sou uma pessoa muito livre, então o que vier na hora é o que será. Naturalmente, isso estará integrado em quem eu sou, sendo de Memphis. Esse é o ingrediente disso. Como eu disse ao último entrevistador, meu principal compromisso é ser o mais autêntico possível para mim mesmo. O resto vai se resolver.

 Para finalizar, o que você espera alcançar em sua carreira musical e qual legado você espera deixar para as futuras gerações de músicos?

 Apenas que dei tudo de mim. Que deixei tudo no palco e dei cada grama de emoção e paixão em cada nota, cada vocal e cada show. Esse é o tipo de legado que eu gostaria de deixar, algo que as pessoas possam ler sobre muitos anos depois e saber que esse cara deu tudo de si.

Por Marcelo Vieira