Jesse Dupree fala sobre Jackyl e parceria com Brian Johnson

Fiel às suas raízes rock and roll, sem se importar com tendências passageiras, Jesse James Dupree, líder do Jackyl, inaugura um novo capítulo em sua trajetória solo com “Breathing Fire” (2023). O álbum ganhou vida sem grandes planejamentos, a partir de jam sessions espontâneas inspiradas por um álbum do AC/DC. 

E por falar em AC/DC, o principal colaborador na nova empreitada é o vocalista Brian Johnson, cuja presença elevou o projeto a outro patamar. Além disso, na entrevista que você está prestes a ler, Dupree comenta os trinta anos de “Push Comes To Shove” (1994), ainda o único álbum do Jackyl lançado no Brasil. Boa leitura!

Rock Brigade: O que inspirou você a começar a gravar este novo álbum, “Breathing Fire”, especialmente considerando que não era algo planejado?

Jesse James Dupree: Essa é uma ótima pergunta, porque eu realmente não estava planejando fazer um álbum. Eu me sentia culpado, pois percebi que fazia muito tempo desde que eu tinha ouvido um álbum inteiro. Sério, quando foi a última vez que você colocou um álbum e o ouviu do começo ao fim? Eu costumava fazer isso quando era mais jovem, mas fazia tempo que não fazia. Então, fui ouvir o álbum “High Voltage” do AC/DC e o escutei duas vezes. Isso me inspirou, porque esse é o tipo de música que eu cresci amando. E uma coisa levou à outra. Eu estava sentado no meu sofá, tocando e compondo no violão, quando meu filho entrou. Ele é um músico em início de carreira, mas tem todo o meu apoio. Ele mora em Nashville, Tennessee, e eu estou em Atlanta, Geórgia. Ele disse que tinha vindo “filar a boia”. Então, eu disse para ele ir montar a bateria. Ele montou a bateria, e eu chamei o Roman [Glick], o baixista do Jackal. Ele veio e [nós três] começamos a tocar. Nos divertimos muito, muito mesmo. E, novamente, eu não estava realmente planejando fazer um álbum, estava apenas me divertindo. Quantas pessoas têm a chance de tocar com o filho? Sou uma das poucas, e acho isso muito legal. Daí, cerca de dois dias depois de gravarmos as músicas, meu telefone tocou e era o vocalista do AC/DC, Brian Johnson. “Ei, Jesse, como você está, meu filho?” Começamos a conversar sobre família, uísque e essas coisas. E já que ele ligou, pedi ajuda para escrever algumas letras. Ele disse: “Manda pra cá”. Então, quando você tem o vocalista do AC/DC ajudando a escrever algumas letras, você lança um álbum, certo? E foi assim que tudo aconteceu.

Trabalhar com seu filho Nigel afeta a dinâmica da banda e o processo de gravação de alguma forma?

Afeta sim, porque em uma banda você pode ter discussões sobre várias coisas e precisa superar isso para conseguir realizar algo. Mas é uma dinâmica diferente quando você está insistindo em algo e o baterista joga as baquetas no chão e diz: “Mas, pai…” [Risos.] É um pouco diferente. Mas, neste álbum, foi algo muito divertido. Nós realmente nos divertimos muito.

E quanto ao trabalho com Brian Johnson? Como é colaborar com alguém que você admira há tanto tempo e que é uma grande influência para você?

É uma honra. Sinceramente, foi uma honra imensa trabalhar com Brian. Ele é o vocalista do AC/DC, cantou “Back in Black”. Isso ninguém tira dele. Mas ele é a pessoa mais simples e acessível do mundo. Quando você está com ele por mais de um minuto, ele se torna seu melhor amigo. E ele sempre foi muito solidário comigo. Eu simplesmente o adoro.

A música “Stranded” trata de sentimentos de isolamento e adversidades pessoais. Pode nos falar um pouco mais sobre o processo de composição dessa música e como suas experiências pessoais influenciaram as letras?

Prefiro não contar as histórias sobre o porquê escrevi a música, porque quero que ela signifique algo para você. Quando você a ouvir, quero que ela tenha o significado que você der a ela. No YouTube, já há comentários legais de pessoas dizendo o que ela significa para elas, e isso é muito gratificante. Não subo no palco para falar de política. Nunca fui de falar de política. As pessoas não vão a um show para ouvir suas opiniões políticas. Elas querem uma fuga, querem rock and roll. A música significa algo para mim, espero que signifique algo para você. Mas não sou como Bruce Springsteen ou Bono. Não acho que minhas músicas vão curar o câncer. Gostaria que pudessem, mas deixo isso para esses dois, que acham que suas músicas podem fazer isso. Não sou tão pretensioso. No fim das contas, é apenas o bom e velho rock and roll.

O clipe de “Stranded” foi filmado nas planícies do noroeste dos EUA. Como foi filmar em um ambiente tão isolado e o que você queria transmitir visualmente com essas paisagens?

Foi muito poderoso porque estava um frio de rachar. Congelamos. Não planejamos a presença dos búfalos. Eles simplesmente apareceram. Foi legal, mas também assustador, porque os búfalos machos podem atacar se você se aproximar dos filhotes.

 Quais são seus planos futuros em termos de turnês e divulgação deste novo álbum que você possa antecipar?

Estamos fazendo algumas coisas legais. Ter Brian Johnson como coautor algumas das músicas no álbum foi um grande chamariz para as pessoas conferirem. Estamos nos aproximando de 500 mil streams nas plataformas digitais. Então, assim como a criação do álbum, tudo está acontecendo de forma orgânica.

Este ano marca o trigésimo aniversário do “Push Comes to Shove”. O álbum foi gravado em Vancouver e produzido por Bruce Fairbairn. Como foi trabalhar com Bruce e gravar neste local específico?

Foi uma honra trabalhar com o Bruce, que, infelizmente, já faleceu. Ele fez discos incríveis com bandas como Loverboy e Aerosmith. Era uma lenda, mas não estava presente o tempo todo. Grande parte do álbum foi gravada e produzida por Mike Fraser. Eles eram parceiros de longa data. Fraser é um gênio; trabalhou com AC/DC, Metallica e muitas outras bandas de sucesso. Gravamos em Vancouver, no estúdio do Bryan Adams [The Warehouse Studio]. Muitas bandas, como Mötley Crüe e Guns N’ Roses, também gravaram lá.

Vocês utilizaram uma motosserra como instrumento musical novamente neste álbum. Gostaria que você falasse sobre essa escolha pouco convencional.

Qual instrumento tem mais cara de rock and roll? Uma motosserra, é claro! Ela é barulhenta, agressiva, abrasiva, destrutiva. É tudo o que o rock and roll deve ser. Então, por que não usar uma motosserra? [Risos.]

A faixa-título teve um desempenho notável, alcançando a sétima posição na Billboard. Como você se sente sobre o sucesso dessa música em particular?

“Push Comes to Shove” foi o primeiro single do álbum. Ela foi lançada e ganhamos Disco de Ouro imediatamente. As pessoas adoraram.

“My Life” lamenta que as estações de rádio rock não toquem músicas de bandas novas. Como você vê a evolução da rádio rock desde então?

Nos Estados Unidos, as rádios rock estão respirando com ajuda de aparelhos, porque esqueceram a coisa mais importante: valorizar a prata da casa. Elas esqueceram que deveriam ser a voz da comunidade. Com todas essas grandes empresas comprando as estações, elas se tornaram genéricas e perderam suas personalidades. As estações de rádio nos EUA estão lutando para recuperar sua identidade.

Como você vê a evolução do Jackyl desde o lançamento de “Push Comes to Shove” até agora?

Nos tornamos cada vez mais ligados às pessoas que trabalham duro. Nunca tentamos ser algo que não somos. Pertencemos às pessoas que trabalham 40 ou 50 horas por semana. Elas trabalham duro e, quando chega a hora de curtir, querem fazer isso alto e bom som, e é isso que elas encontram no Jackyl.

Vocês tocaram no Woodstock ‘94 e fizeram turnês com bandas icônicas como ZZ Top e Aerosmith. Quais são algumas das memórias mais marcantes dessas experiências?

O Woodstock ‘94 foi incrível. Tocar para um milhão de pessoas é algo surreal. Tivemos experiências incríveis em nossa carreira. Ter Brian Johnson no palco cantando “I Stand Alone” e “Locked and Loaded” juntos, além de “Back in Black”, foi muito significativo para mim.

Como você tem conseguido manter a relevância e o sucesso ao longo de tantos anos, tanto com a banda quanto em seus projetos solo?

Acho que sendo honesto sobre quem somos. Nunca tentamos ser a novidade do momento ou algo forçado. Temos sido sinceros sobre nossa crença, e acho que isso é grande parte do motivo pelo qual temos sido bem-sucedidos.

Você tem vários empreendimentos, incluindo o Jesse James American Outlaw Bourbon e a consultoria para a Harley-Davidson. O que o motiva a diversificar seus interesses e investir em diferentes áreas de negócios?

As coisas simplesmente aconteceram. Mas tem sido uma jornada louca. Eu amo motocicletas Harley-Davidson e é uma honra trabalhar com a Harley-Davidson Motor Company. Temos várias parcerias e fazemos muitas coisas legais juntos.

Com tantas responsabilidades e projetos diferentes, como você gerencia seu tempo e energia para garantir que cada um receba a atenção necessária?

Eu não durmo! [Risos.] É sério! Acordo e não paro.

Depois de tantos anos no setor, o que você diria que ainda o mantém apaixonado pela música e pelos negócios?

Eu simplesmente amo isso. Sou apaixonado pelo que eu faço. Não acordo todos os dias sentindo que vou trabalhar; acordo feliz por fazer o que faço. Seja trabalhando com a Harley-Davidson, fazendo música ou produzindo uísque; eu adoro. Como não amar motocicletas, uísque e rock and roll? É difícil não gostar.

Se pudesse dar um conselho a alguém que está começando na indústria da música ou nos negócios, qual seria?

Meu conselho para quem está começando na música é: ninguém vai aparecer e realizar todos os seus sonhos por você. Cabe a você tornar seus próprios sonhos realidade. Não conte com ninguém além de si mesmo.

Para encerrarmos, qual a melhor maneira de lidar com críticas?

Hoje em dia, com as redes sociais, como Instagram e Facebook, todo mundo já sabe como lidar com críticas. Sempre há alguém para dar sua opinião sobre o que você faz. Acho que todos ficaram um pouco mais resistentes a críticas. Há pessoas que lerão esta entrevista e dirão o que não gostam, e eu respeito isso. Afinal, eu mesmo não gosto de tudo o que faço. Celebro os fundamentos do rock and roll, e espero que, mesmo que alguém não goste do que eu faço, respeite minha paixão por isso. Fui muito abençoado na minha vida e espero que todos encontrem suas próprias vocações e coisas que os façam felizes. E espero que encontrem isso na música, que é algo incrivelmente poderoso. Você perguntou como mantenho minha paixão: eu amo isso. Vivo para isso. As melhores duas horas do meu dia são quando estou no palco.

Por Marcelo Vieira; Fotos: Divulgação / SKH Music Management