Review e fotos: festival Tropical Riot, em Barcelona

Data: 02/09/2023
Local:  Ullastrel (Barcelona)
Bandas:  Booze & Glory, Bad Nerves, Blowfuse, Sandré, The Gundown, Saim, Antilògic, Bullit, Derbe e Garazi Eta Sala

No calendário, o verão do Hemisfério Norte ainda se faz presente em Barcelona e, para ser sincera, em partes do dia, o calor se faz sentir, embora de forma não muito extrema. No entanto, no dia do Tropical Riot, o que verdadeiramente nos preocupava era o iminente fator chuva. Curiosamente, o propósito do festival era se despedir do verão em grande estilo, celebrando o punk rock, mas nos deparamos com a semana mais chuvosa dos últimos meses. 

A tão esperada “piscina” com trilha sonora punk rock se materializou, com algumas ressalvas. A água estava gelada, mas lá fora, as bandas como Bullit, Derbe e Garazi Eta Sala, encarregada de abrir o evento, aqueceram tanto os motores quanto o público. 

A primeira atração consistia em um duo que apresentou versões acústicas de clássicos de The Clash, Rancid, Social Distortion e Bad Religion. Essa escolha musical foi, sem dúvida, perfeita para a proposta do festival. 

Em seguida, a banda Derbe entrou em cena, mantendo uma abordagem plugada, mas ainda assim, com um toque melódico. O vocal feminino de Nes deu um plus à sonoridade do grupo. Para concluir a sessão de “piscina” e encontro com amigos da cena local, tivemos o prazer de assistir à apresentação da conhecida e apreciada banda Bullitt. Originários de Girona e com uma abordagem musical mais voltada para o rock do que para o punk, eles apresentaram suas melodias e músicas do último trabalho, “B Major”. Essa combinação provou ser perfeita e a escolha ideal para uma manhã/tarde à beira da piscina. 

 

O palco principal abrigou uma variedade de estilos musicais que agradou o público desde o primeiro acorde. A primeira atração da noite foi o grupo local Antilògic, que trouxe à tona o espírito do punk rock melódico dos anos 1990. Com sua energia, riffs e letras em catalão, o Antilògic conquistou o público e inaugurou a noite. 

Logo em seguida, a banda SAÏM subiu ao palco com uma abordagem rock melódico, adicionando um toque de indie. Sua música trouxe à tona lembranças de bandas como Seaweed e Hot Water Music (antigo), mantendo uma identidade própria. SAÏM entregou um bom show, destacando-se pela qualidade musical e diversidade de influências. 

O momento seguinte trouxe The Gundown, outra banda local que conta com membros do renomado CRIM.  A presença de Quim na guitarra é sinônimo de riffs de alto calibre, mostrando que a banda não deixa à desejar com relação à bandas gringas. O destaque foi a música “Dead End Alleyway”, que ecoou com força em Ullastrell.  

Sandré nos lembra em alguns momentos o espírito das icônicas As Mercenárias. Vale ressaltar que praticamente todas as bandas mencionadas oferecem suas músicas gratuitamente no Bandcamp, permitindo que os fãs explorem mais profundamente seus trabalhos. 

No campo das atrações de destaque (dentro do festival), chegamos ao show do Blowfuse, uma banda local que desfruta de grande reconhecimento. Após um período de inatividade, o quarteto retornou com determinação, apresentando um show que esteve à altura das bandas internacionais assim como foi dito do The Gundown acima. 

O Bad Nerves, a banda mais esperada da noite, não decepcionou. Os britânicos, com apenas um álbum lançado há três anos, apresentaram músicas rápidas, refrães envolventes e presença de palco. Em alguns momentos, foi impossível não lembrar de outro quinteto que, duas décadas atrás, revolucionou a música e trouxe de volta o icônico visual dos Ramones, com calças slim fit e tênis All Star e um rock de garagem e despojado. A música do Bad Nerves está ao alcance de um clique, aguardando para ser descoberta e pode ter sido a ultima oportunidade de assisti-los em um “desconhecido” festival. A banda parece estar pronta para decolar e pelo visto tal voo não demorará a acontecer. 

Para encerrar a noite, tivemos o “britânicos” Booze & Glory. O som Street Punk / Oi, conhecido por hinos que faziam pubs tremerem, pode ter perdido um pouco de sua essência, mas ainda manteve sua pegada característica. Mesmo com as mudanças, a banda entregou uma performance sólida, tocando diversos de seus clássicos. 

Com o final da festa, possivelmente também se encerra o verão. No entanto, a espera pela próxima temporada e pelos festivais de 2024 já começou. Esta noite no festival foi uma prova da vitalidade da cena musical local e das interessantes descobertas que o futuro nos reserva.

Por Ana Paula Soares; Fotos: Mauricio Melo (Snap Live Shots)