Entrevista: Chez Kane comenta trajetória no hard rock

Nos últimos anos, Chez Kane tornou-se uma figura familiar para os fãs de hard rock, inicialmente fazendo backing vocals para o Tyketto em seu DVD de 2019, “We’ve Got Tomorrow, We’ve Got Tonight”. No entanto, desde 2021, ela fez uma transição corajosa para uma carreira solo, explorando novos territórios musicais e desafiando-se como artista.

Nesta entrevista exclusiva, mergulhamos na jornada de Chez para entender as complexidades dessa mudança e como suas raízes nos anos 1980 moldaram sua identidade sonora e visual. Desde seu amor pelo Def Leppard até o lançamento de seu mais recente álbum “Powerzone” (2022), ela revela os detalhes por trás de sua evolução artística.

Além disso, compartilha sua perspectiva única sobre os desafios enfrentados pelas mulheres na cena do hard rock e oferece palavras de encorajamento para aspirantes a artistas que desejam seguir seus passos. Com uma carreira em ascensão e uma apresentação aguardada na Hard N Heavy Party em São Paulo, a cantora continua a surpreender e inspirar os fãs, demonstrando que a paixão pela música é atemporal e universal.

Rock Brigade: Como tantos outros, conheci você na época do Kane’d; mais especificamente, fazendo backing vocals para o Tyketto no DVD “We’ve Got Tomorrow, We’ve Got Tonight” (2019). Como tem sido para você transitar para uma carreira solo e qual a maior diferença que você encontrou nesse novo caminho?

Chez Kane: Tem sido uma loucura, obviamente, porque cresci cantando com minhas irmãs. Quando nasci, minhas irmãs, que são mais velhas do que eu, já cantavam, e depois comecei a cantar com elas. Cantar com minhas irmãs sempre foi minha vida. Mas sempre quis fazer algo por conta própria. Na época, minhas irmãs estavam tendo filhos, se dedicando a serem mães incríveis. Decidi então iniciar meu projeto solo. Foi uma mudança e tanto, mas algo que eu sempre quis fazer. Tenho certeza de que minhas irmãs e eu acabaremos cantando juntas em algum momento no futuro. Mas, por enquanto, sou apenas eu.

Você sempre menciona que tem uma paixão pelos anos 1980. Como essa paixão influencia o seu som e o seu visual?

Meu primeiro amor no rock foi o Def Leppard. Em seguida, acabei me apaixonando por outras bandas dos anos 1980. E assim que ouvi e vi o Vixen, pensei: “Sabe de uma coisa? Quero ser como elas.” Robin Beck também foi uma grande influência para mim. Colocar isso no meu som e no meu visual faz todo sentido para mim.

Recentemente tivemos mais uma prova dessa paixão, já que você lançou um cover da música “No Easy Way Out” de Robert Tepper. O que te inspirou a escolher essa música para fazer um cover?

A música em si, pois é uma música icônica. Adoro os filmes do Rocky [Balboa] e essa é uma música que sempre que toca na academia, me faz sentir como se estivesse em um filme do Rocky! Era uma música que eu sempre quis gravar. E, finalmente, consegui e fiquei muito satisfeita com o resultado.

Já são dois álbuns solo lançados. Você mencionou que “Powerzone” é mais ousado e expandido em relação ao seu primeiro [“Chez Kane”, de 2021]. Pode falar sobre os novos elementos que introduziu nele?

O primeiro álbum foi feito quando Danny [Rexon, vocalista do Crazy Lixx] me descobriu no YouTube e começamos a trabalhar juntos. Ele me perguntou se eu queria fazer parte deste projeto, e quando ouvi as músicas [que ele tinha escrito], me apaixonei instantaneamente e soube que eram para mim. Começamos a trabalhar juntos, mas ele não me conhecia direito ainda. No “Powerzone”, por termos já trabalhado juntos no primeiro álbum, ele me conhecia um pouco melhor e as músicas foram escritas pensando na minha voz. Sinto que o primeiro álbum é o bebê, e estamos crescendo a partir dele.

Como você descreveria o processo criativo dessa colaboração com Danny e a importância dele na artista que você se tornou?

Logo que começamos o primeiro álbum, veio a pandemia. Então, tivemos que pensar fora da caixa, e ele começou a me enviar bases sobre as quais eu, felizmente, consegui gravar as vozes em casa e depois enviar de volta. No final, ele mixou tudo na Suécia. Então, foi uma troca constante de arquivos. Mas, quando começamos a fazer videoclipes e fotos, felizmente houve uma brecha entre os lockdowns que me permitiu viajar para filmar e fotografar na Suécia. Foi complicado, mas demos nosso jeito. Acho que isso foi muito importante, porque cresci um pouco insegura e nem sempre acreditei em mim mesma. Trabalhar com minhas irmãs é diferente, pois quando há três cantoras à frente, você pode dividir o foco entre todas, não é apenas uma pessoa em destaque. Trabalhar com Danny foi bastante intimidador no começo. Mas sinto que ele me deu a confiança extra que faltava ao longo dos anos. Trabalhar com ele foi a melhor coisa [que aconteceu] para me transformar na artista que sou hoje.

Um terceiro álbum já está a caminho?

Estamos conversando a respeito. Planejamos começar mais tarde este ano. Ainda não definimos uma data oficial, porque Danny está trabalhando em algumas outras coisas no momento. Assim que todos pudermos nos reunir adequadamente, começaremos.

Você está inserida em um gênero musical, hard rock, que já foi amplamente associado à misoginia. Como você navega por esse ambiente e desafia essas percepções?

Tem sido difícil. É mais difícil para as mulheres se destacarem, pois [o hard rock] ainda é dominado por homens. Acho que isso melhorou bastante nos últimos tempos, e as mulheres estão sendo mais aceitas agora, como sempre deveriam ter sido. É bom ver que há mais mulheres fazendo barulho na cena. Acho que as pessoas não conseguem mais fugir disso como antes, quando o domínio masculino era mais presente. O mundo mudou, e as coisas estão diferentes agora. Então, sim, evoluímos muito desde os anos 1980, quando havia todo aquele machismo.

Dá para dizer que a sua música se preocupa em abordar questões de empoderamento feminino?

Todas as minhas músicas foram escritas pelo Danny. Então, isso talvez seja algo para perguntar a ele.

Você chegou a ser alvo de preconceito ou comentários maldosos devido a ser uma mulher cantando hard rock?

Quem nunca…? Sim, rolam uns comentários aleatórios de vez em quando. Mas o que você precisa lembrar é que, no fim das contas, os haters são apenas fãs incubados.

O que você acha que pode ou deve ser feito para tornar a cena hard rock ainda mais inclusiva para mulheres?

Não sei dizer. Só espero que muitas mulheres leiam esta entrevista e, se elas têm medo de se expor e fazer as coisas, simplesmente percam esse medo e façam. Não se questionem tanto. É muito intimidador no início, mas tenham confiança. Superem essa pequena barreira onde você sente que não dá conta. Façam. E quanto mais de nós fizermos barulho, mais fácil será para todas nós.

Você tem algum conselho para jovens mulheres que desejam seguir uma carreira na música, especialmente no hard rock?

Sempre siga seu sonho. Continue em frente. Porque, obviamente, quando eu era mais nova, era apenas um sonho que comecei a transformar em realidade. Nunca pensei que seria capaz disso. Mas nunca ignorei meus sonhos e continuei lutando por eles.

Qual o seu maior sonho ainda a ser realizado?

Viver de música é algo estranho. Quando você é jovem, obviamente, quer ficar mais velho, quer ser famoso e se tornar uma grande estrela do rock e coisas do tipo. Mas, ao envelhecer, o que prevalece é a paixão pela música. Adoro cantar e, enquanto puder continuar cantando, seja em um pequeno clube, no [Estádio de] Wembley ou em um grande festival, estarei feliz. Então, o sonho é apenas poder continuar cantando.

Como você descreve a sua jornada musical até agora?

Tem sido uma montanha-russa. Acho que essa é a melhor descrição. Na indústria da música, é uma constante montanha-russa de altos e baixos. É desafiador física e mentalmente, mas os momentos bons são incríveis. E é isso que nos mantém seguindo em frente.

Quais foram os momentos mais marcantes para você?

Provavelmente os shows que fiz no ano passado. Lançar meu primeiro álbum solo foi demais, mas tocar no Sweden Rock [Festival], no Monsters of Rock Cruise, no Rock Imperium Festival na Espanha? Foi épico.

Você está se preparando para se apresentar na Hard N Heavy Party em São Paulo, aqui no Brasil. Como está se sentindo em relação a esse evento?

Muito empolgada e um pouco nervosa. [Risos.] Não vou levar minha banda, então vou me apresentar com músicos brasileiros, o que é muito empolgante. E, claro, o lineup [do evento] é bastante incrível.

Esta será sua primeira vez tocando no Brasil. O que você já sabe sobre o país?

Não sei muita coisa. Então, vou ter que sair e as pessoas vão ter que me levar para passeios e me mostrar as atrações.

O que os fãs brasileiros podem esperar de sua performance na Hard N Heavy Party? Você planeja incluir alguma surpresa especial para eles?

Ainda não ensaiei com a banda. Então, eu mesma ainda não sei. Obviamente, definimos um setlist e há algo nele que nunca fiz ao vivo. Então, sim, há essa pequena surpresa, mas nada de spoilers! [Risos.]

Se eu te pedisse para me indicar cinco discos de hard rock, podem ser dos anos 1980 ou atuais, quais você indicaria?

Ok, agora você me pegou. [Pensativa] Nossa, isso é tão difícil. São tantos! [Risos.] Certo, para começar, eu adoro o álbum [homônimo] do Steelheart (1990). Também adoro o [primeiro] álbum do Vixen. Na verdade, os dois primeiros álbuns do Vixen [“Vixen” (1988) e “Rev It Up” (1990)] são incríveis. “Hysteria” (1987), do Def Leppard, obviamente. E “Blackbird” (2007), do Alter Bridge, que eu tenho tatuado nas costas.

Para encerrarmos, o que a Chez Kane de hoje diria para aquela que estava ao lado das irmãs fazendo backing vocals para o Tyketto?

Eu diria para aproveitar a jornada e acreditar em si. “Aproveite o que está por vir, porque essas coisas passam muito rápido.” Às vezes, eu exagero ou fico pensando demais ou me preparando demais para as coisas. Então, eu diria a mim mesma para desacelerar e aproveitar.

Por Marcelo Vieira