Review e galeria de fotos: festival Summer Breeze em SP

26, 27 e 28 de abril/2024
Memorial da América Latina, São Paulo-SP

Mal completou um ano da histórica e primeira edição do Summer Breeze Brasil, festival de origem alemã, que fez a sua estreia no país nos dias 29 e 30 de abril do ano passado. A segunda edição, que aconteceu recentemente nos últimos dias 26, 27 e 28 de abril no Memorial da América Latina, em São Paulo, veio com mais força do que a primeira. 

Pouca coisa mudou comparado a antiga e a mais recente edição, uma delas é a adição de mais um dia, em plena sexta-feira. O plus rendeu a presença de mais bandas, o que é ótimo. Porém, por ser um dia útil, a maioria acabou tendo dificuldades de tirar um dia de seus compromissos profissionais para curtir o dia de shows. Outra coisa bastante legal de destacar é a Signing Sessions (sessão de autógrafos em tradução livre) com algumas das atrações escaladas, sendo algo inédito para nós brasileiros e que só acontece nos tradicionais festivais europeus, incluindo o Summer alemão. 

A Signing Sessions foi gratuita para todas as modalidades de ingresso, só que quem quisesse participar tinha que comparecer cedo, pois tinha um limite máximo de participantes. Todas as sessões, que também deu direito a uma foto, foram bem organizadas, só a do Sebastian Bach e do Gene Simmons que teve uma concorrência absurda, segundo comentários dos seguranças que esteve presente na ocasião. De resto, as mesmas características foram mantidas: dois palcos principais (Ice Stage e Hot Stage) um do lado do outro, e mais dois (Sun Stage e Waves Stage) localizados no outro lado da avenida. 

A famosa Horror Expo, as lojas de CDs, vinil e camisetas, espaço de tatuagem e mais uma infinidade de coisas, marcou presença novamente trazendo experiências que vão além da música. E já que o assunto é shows, vamos falar deles nas próximas linhas. Shows O primeiro dia reuniu bandas dos mais variados estilos, desde Hard Rock, Thrash Metal, Power Metal e o mais clássico. Algumas veteranas e novatas, principalmente, marcaram presença pela primeira vez no Brasil, casos do Nestor e do Flotsam And Jetsam, responsáveis por abrir as duas primeiras horas de festival nos dois palcos principais, respectivamente. 

Formado por Tobias Gustavsson (vocalista), Johnny Wemmenstedt (guitarra), Marcus Âblad (baixo), Martin Johansson (teclado) e Matthias Carlsson (bateria) – quinteto que compõem o Nestor – vem conquistando cada vez mais espaço nessa nova geração do Hard Rock desde que retornou a ativa em 2021. As composições, que remetem muito às das bandas americanas dos anos 80 e que poderiam se encaixar facilmente em qualquer filme da época, alegraram o baixo público, que assistiu uma apresentação divertida e para lá de impecável. 

O café da manhã iniciou em grande estilo com “Kids in a Ghost Town”, faixa que, inclusive, dá nome ao até então único álbum, lançado em 2021. Nos primeiros minutos teve um pequeno problema na guitarra do Johnny, que foi resolvido rapidamente. Boa parte de quem viu o show já acompanha a banda há um bom tempo. Na pista vip tinha pessoas com camisetas verde e amarela com o logo da banda e os óculos listrados que o vocalista Tobias usa no clipe da “On The Run”, que foi um dos pontos altos com seu refrão vigilante ao lado das sensacionais “Stone Cold Eyes”, “These Days”, “Firesign” e “1989”. Além das músicas do primeiro álbum, que fizeram até o público do Flotsam And Jetsam vibrar, também teve a nova “Victorius”, do álbum “Teenage Rebel”, a ser lançado em breve. O encerramento com a promessa de uma nova vinda veio com “I Wanna Dance With Somebody”, cover da saudosa cantora Whitney Houston. 

Os americanos do Flotsam And Jetsam debutaram no país, às 12h, no Ice Stage. Foram longos anos de espera para ver o vocalista Erick A.K. (vocal) e o guitarrista Michael Gilbert (únicos membros da formação original) ao vivo. Além deles, a banda conta hoje com o baixista Bill Bodily e o baterista Ken Mary, que já teve passagens por Accept, Alice Cooper, Impelliteri e entre outros. Foi um show matador, trazendo toda a essência do Thrash ‘old school’. Erick continua em ótima forma e cantando excessivamente; Michael é um exímio guitarrista que destila riffs mega pesados e solos arrebatadores. Canções como “Hammerhead”, “Desecrator”, “Dreams of Death” e “She Took an Axe”, dos aclamados “Doomsday for the Deceiver” e “No Place For Disgrace”, fez a alegria dos fãs que suportaram o sol quente. Também tocaram, as recentes “Prisoner Of Time”, do “The End Of Chaos”, e a thrash “Brace for Impact”, do último disco “Prisoner Of Time”, que teve sua capa exibida no telão ao fundo do palco. 

Mais para o final, teve a indispensável “Suffer the Masses”, “I Live You Die” – que introdução de baixo – e “No Place For Disgrace”, que pôs fim no primeiro show do Ice Stage de forma matadora. Um dos pontos que causou preocupação foi a situação do Erick, que estava trajado de colete e calça de couro e mostrando sinais de cansaço em alguns momentos devido ao calor. Perto do final, ele até brincou falando que, assim que encerrasse o compromisso, iria em algum bar para beber Jack Daniels para recuperar as energias. 

A brasileirada mostrou serviço em dose dupla por volta das 13h00 e 13h10. Edu Falaschi e sua banda puseram ponto final na Eldorado Word Tour no palco irmão com um pouco do cenário utilizado no último show de São Paulo, que aconteceu em janeiro último no Tokio Marine Hall. Sem a presença do renomado Aquiles Priester, que não pode estar tocando no festival por conta de outros compromissos, Jean Gardinalli cumpriu o seu posto à altura. Após curtir “Live And Learn” e “Acid Rain”, músicas da época que o Edu fazia parte do Angra, fui ao Sun Stage ver o Dr. Sin. 

O power trio, liderado pelos irmãos Andria (baixo/vocal) e Ivan Busic (bateria), continua surpreendendo todo mundo com o seu Hard Rock cheio de virtuosidade. Nesses 30 anos de história, a banda participou dos principais festivais de Rock do Brasil, entre eles o Monsters Of Rock, Hollywood Rock, Rock In Rio e, claro, o Summer Breeze, e a escolha por assisti-los foi justamente por essa razão. A atmosfera deles tocando nesse tipo de ambiente é, realmente, diferente dos shows que fazem em locais comuns. 

Como era momento de celebração pelas três décadas, o set reuniu diversas obras do passado como Sometimes, Fly Away, Miracle e Emotional Catastrophe. Antes teve “Time After Time”, a qual o público é convidado para puxar o tradicional ‘oh,oh’. Mais adiante, “Fire” – música que Yngwie Malmsteen não fez – combinou perfeitamente com o clima do dia, enquanto “Isolated” arrancou a atenção de todo mundo com um dos melhores solos da história do Hard Rock nacional e que o guitarrista Thiago Melo executou com perfeição. Falando nele, a cada dia que passa, o acreano vem mostrando que vem sendo a escolha certa em ocupar o lugar deixado pelo mestre Edu Ardanuy. Antes de chegar, o trio tocou, em primeira mão, a nova “Only the Strong Survive”. Infelizmente não consegui pegar a música toda, chegando bem no finalzinho. 

Uma equipe de filmagem filmou a atuação dela para um futuro videoclipe, que será lançado em breve. Quando se está num mega festival como o Summer Breeze é necessário tomar decisões drásticas de escolher as bandas que quer ver. Pior é quando as duas estão tocando no mesmo, o que nos faz ficar mais indecisos. Por mais que eu goste do Tygers Of Pan Tang, lendária banda da NWOBH e que tocou no Sun Stage às 14h30, fui ver mais uma banda vinda da terra do Tio Sun, estou falando do Black Stone Cherry. A escolha acabou não sendo em vão! Chris Robertson (vocal/guitarra), Ben Wells (guitarra), John Fred Young (bateria) e o novato Steve Jewell Jr. (baixo) fez o show mais brutal do Hot Stage que faltou o palco ir abaixo, um bom exemplo disso foi logo nas duas primeiras “Me and Mary Jane” (a mais conhecida) e Burnin’. A energia dos integrantes era tanta que Chris precisou trocar de guitarra, a correia do baixo do Steve escapou e os pratos da bateria do John caindo de tanto que o esmurrava. 

Não tão nova no cenário, muitos que assistiram não conheciam bem a banda. O comportamento foi percebido pelo vocalista e guitarrista Chris, que perguntou quem viu e quem não o Black Stone Cherry ao vivo. Lembrando que a banda já esteve anteriormente no Brasil, quando tocaram na primeira edição do extinto Maxximus Festival, em 2016.  Diria que o estilo deles passeia por várias nuances, mas é o Hard Rock, e um pouquinho de Souther, que define bem a personalidade. Voltando ao show, a banda foi ganhando o público em várias músicas. 

Em “In My Blood”, que teve a única aparição de Jeffrey Boggs tocando bongô e que deu uma estendida, a galera tentou cantar os principais versos mesmo não sabendo direito a letra. “Cheaper to Drink Alone” fez movimentar os nossos pescoços, seguido de um solo de bateria do ignorante John Fred Young. O final com “Blame It On the Boom Boom”, “White Trash Millionare” e “Lonely Train” conquistou os presentes graças ao vocalista e guitarrista Chris Robertson, que incentivou a puxar vários ‘hey,hey’, principalmente na primeira que citada. Do novo álbum (ótimo por sinal), “Screamin’ At The Sky”, apenas “Nervous” e “When The Pain Comes” entrou no set. “R.O.A.R.”, a minha favorita e também do novo disco, acabou ficando em falta. O Thrash Metal tomou território com um dos mais importantes nomes do subgênero, Exodus, que entrou para galeria de coleção de bandas de Thrash que o Summer Breeze já trouxe, que foi a maioria, diga-se. Esperamos que para a terceira edição, traga as demais para fechar o pacote. 

Quem sabe Slayer como headliner no próximo? Não custa pedir, não é mesmo? Com uma formação já consolidada, Steve Zetro Souza, Gary Holt e Lee Altus (guitarras), Jack Gibson (baixo) e Tom Hunting (bateria), sempre costuma marcar passagem no nosso país, mas tocando em casas fechadas. Mas a energia deles é diferente quando eles tocam em festivais, faltando espaço para pegar um lugarzinho para vê-los no Ice Stage, às 15h50. Na ocasião, era a minha primeira vez vendo o Exodus ao vivo. Muitos, após o show, declaram que foi um dos melhores shows deles aqui no Brasil. E assinei embaixo em tudo que disseram, pois tudo foi da maneira como imaginava: som, desempenho e repertório perfeito! Gary Holt é muito mais do que o melhor guitarrista de Thrash Metal da história, e sim o Thrash em carne e osso. Já o Zetro Souza, nem se fala. Quanto mais ele envelhece, melhor a sua voz fica. “Bonded by Blood”, “Piranha”, “A Lesson in Violence”, “Fabulous Disaster” e “The Toxic Waltz” já vale todo dinheiro gasto pelo ingresso, pois até hoje são músicas atemporais. 

Mas coloco “Deathamphetamine” como o melhor momento deste show, que foi uma verdadeira aula de como ser violento sempre precisar partir para a agressão, no bom sentido, já que não há carinho e piedade quando se está no meio da roda. O Ice Stage e Hot Stage foram de muito Hard Rock. Às 17h30, no segundo palco, o lendário vocalista Sebastian Bach abrilhantou o fim de tarde e começo de noite com os sucessos de sua antiga banda, Skid Row, que tocou na primeira edição ano passado. Não vou entrar na questão quem está melhor hoje em dia, cada um tem suas particularidades e todos acabam aceitando tanto um quanto o outro. 

Há quatorze anos, tive a oportunidade de vê-lo ao vivo abrindo para o Guns N’ Roses, que ofuscou totalmente o show daquela formação genérica. Agora, em 2024, vemos um Sebastian (ou Tião como os brasileiros gostam de chamar) tirando um pouco o pé do acelerador. Em “Big Guns”, “Piece of Me” e “Rattlesnake Shake”, por exemplo, o cantor jogava o microfone para o público cantar alguns versos, levando a entender que ele não pode estar fazendo muito esforço na voz. Mas independente das condições, Sebastian, que hoje se encontra aparentemente mais magro e com a mesma cabeleira dos seus tempos áureos de Skid Row, alegrou os seus fiéis fãs com  um show memorável. 

A formação, que hoje conta com Brent Woods (guitarra), Clay Eubank (baixo) e Wade Murff (bateria), também se mostrou coesa até o último minuto, mas acabei sentindo a falta de uma segunda guitarra. Acredito que o som ficaria ainda mais redondo se tivesse mais alguém tocando ao lado do Brent. No próximo mês de maio, Sebastian vai lançar o seu novo álbum, “Child Within the Man”. Deste novo trabalho, só tocaram “What Do I Got to Lose?” e “Everybody Bleeds”, que não teve muita reação. Agora “18 And Life”, “Slave to the Grind”, “Monkey Business”, “I Remember You” e “Youth Gone Willd – antecedido por Children of the Damned do Iron Maiden – foi totalmente o oposto. Outro destaque foi “Wasted Time”, cantado a capela e emendada com outra balada, “By Your Side”, do primeiro álbum solo, “Angel Down”. O que achei desnecessário é o cover de Tom Sawyer, do Rush, que não ficou muito bom. Pulando para o Ice Stage, o Mr. Big trouxe o seu Hard Rock cheio de virtuosidade e capricho. 

No mesmo momento, os Gothic Rock do The 69 Eyes se apresentaram no Sun Stage. Por ser a última turnê, conforme vem sendo anunciado, optei por ver Eric Martin (vocal) Paul Gilbert (guitarra), Billy Sheehan (baixo) e Nick D’Virgilio (bateria), que vem ocupando muito bem o posto do saudoso Pat Torpey. De cara, o trio saca “Addicted to That Rush” e “Take Cover”, que estão no ‘debut’ homônimo e no quarto álbum, Hey Man, que são ótimos trabalhos comparado ao “Lean into It”, que foi quase que tocado na íntegra. Não sendo muito fãs de Mr. Big , não vi muito excesso de técnica por parte do Paul e do Billy. Os dois conseguem equilibrar as partes mais complexas para não tornar o show cansativo. Para quem esteve presente só para ver o Paul usando a clássica furadeira não precisou esperar muito, e ele apareceu palhetando as cordas com ela em “Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)”. 

Várias das composições do “Lean into It”, explicadas a pouco, ocuparam praticamente todo set. Afinal, é um dos discos mais badalados da história do gênero. Porém, poderiam ter colocado mais músicas do “Bump Ahead” como “Price You Gotta Play”, “What’s It Gonna Be” e “The Whole World’s Gonna Know”, a melhor na minha opinião. Do terceiro e mencionado disco, só a radiofônica “Wild Rose” – que fez mais alarde com o Mr. Big do que com o Cat Stevens – e “Colorado Bulldog”, intercalado com solos de guitarra do Paul e os solos de baixo do Billy. Mas de qualquer forma, foi prazeroso ver obras-primas como “Alive and Kickin’ Green-Tinted Sixties Mind” e “Never Say Never”, além das baladas “Never Say Never” e “To Be With You”, essa última eu vi e cantei com a simpática vocalista Leather Leone, que também se apresentou no terceiro dia de festival no show do Torture Squad. Ainda sobre o show do Mr. Big, o mais engraçado é que a maioria preferia prestar atenção no que Paul e Billy faziam nos seus instrumentos e imitando tudo o que eles faziam ao invés de cantar com o bem-humorado Eric Martin, que também enfrenta certas limitações na sua voz. 

O encerramento veio com “Baba O’Rilley”, do The Who. Enfim, a atração mais esperada do primeiro dia apareceu, às 20h15, no Hot Stage. Gene Simmons, lendário baixista e vocalista do Kiss, que encerrou as atividades em dezembro do ano passado, trouxe um show mais simples ao lado da sua Gene Simmons Band, que não fazia shows desde 2018. Gene viu na sua banda solo a melhor maneira de continuar fazendo shows, mesmo que não seja de forma esporádica. Sua voz ainda continua intacta comparado ao seu amigo, Paul Stanley, que nos últimos anos precisou recorrer ao temido playback. Gene, também, se sentiu mais à vontade para se comunicar e fazer graça diante do público, coisa que não dava para ele fazer quando usava maquiagem e roupas pesadas: dancinhas e outros tapinhas na bunda rendeu o cômico elogio de ‘bunda linda’. 

Sem brincadeiras, foi um show muito do que o Kiss fez aqui em São Paulo nos dois últimos anos pela honestidade e de não precisar se submeter às correções tecnológicas. Só o setlist que me desapontou um pouco, pois esperava que os lados B do Kiss como Unholy, Domino, Charisma, Plaster Caster e entre outros fossem executados. “Parasite” e “Let Me Go, Rock ‘n’ Roll”, que o Kiss não tocava há um bom tempo, foram as surpresas ao lado de “Are You Ready”, música que nunca foi lançada em nenhum material. De resto, eram as mesmas músicas da última turnê do Kiss. “Detroit Rock City”, “Lick It Up”, “Love Gun” e “100,000 Years”, músicas as quais Paul Stanley cantava, foram interpretadas pelo guitarrista Jason Walker, que também cantou “Communication Breakdown”, do Led Zeppelin. 

Além do Jason, a banda com o guitarrista Brent Woods – que já havia tocado cedo com o Sebastian Bach – e o experiente baterista Brian Tichy, que emprestou sua voz em “Ace Of Spades”, do Motörhead, em homenagem ao saudoso Lemmy Kilmister. Para cantar “I Was Made for Lovin’ You”, Gene convidou Mariana Kassin, cantora brasileira com forte influência de música pop e soul music. O encerramento com o “Rock and Roll All Nite” teve a presença de várias garotas no palco, chamado pelo próprio Gene. Um ótimo início de festival, marcada por apresentações inéditas e históricas. Nenhuma queixa quanto a organização, pelo contrário. Tudo dentro dos conformes e sem nenhuma reclamação ouvida, só mesmo a questão do dia, que impediram muitos de terem devido a compromissos profissionais.

Por Gabriel Arruda; Fotos: Patrícia Patah

Fotos: Patrícia Patah