Nightwish faz prova de superação em show em mundo virtual

Cerca de 150 mil fãs do mundo inteiro presenciaram, no último dia 28 de maio, a aguardada apresentação virtual do Nightwish, que foi a primeira divulgando o novo álbum Human. :II: Nature (2020). O evento, cercado de mistérios, apresentou Jukka Koskinen (Wintersun) como substituto de Marko Hietala no posto de baixista do sexteto finlandês. 

Logo no início, o cenário da “taverna” feito digitalmente revelou-se menos “espetaculoso” do que fora anunciado, mas ainda assim valeu muito o esforço.

As grandes virtudes e defeitos da trupe de Tuomas Holopainen, entretanto, permaneceram as mesmas. Só mudou o endereço do presencial para a “live”.

Entre os pontos positivos, destaque para o setlist que passeou por diversos álbuns e resgatou músicas esquecidas, como 7 Days To The Wolves.

Entre os negativos, a total falta de interação entre a banda foi evidenciada no formato online e Floor Jansen continua apostando nos vocais mais graves do que em seu potente lírico (o final de Shoemaker que o diga!).

Quanto ao novo baixista, Jukka, é impossível julgar. A ferida da saída abrupta de Marko ainda está aberta, mas o novato cumpriu seu papel. Inclusive, foi um dos que mais interagiu, timidamente, com Tuomas e o guitarrista Emppu Vuorinen.

Dados os devidos descontos por estarem fora de forma devido à ausência de shows, a sensação é que faltou aquele verniz energético que cobre uma banda e transforma cada músico em sua individualidade em uma máquina potente e única.

No âmbito musical, a banda resolveu o problema da falta da voz de Marko com algumas boas sacadas. Logo de cara, Floor Jansen cantou as partes de Planet Hell originalmente interpretadas por Marko. Certamente foi melhor do que dar as frases à voz suave de Troy Donockley, o cara das flautas.

Troy, no entanto, aceitou o desafio de substituir o barbudo finlandês em I Want My Tears Back e simplesmente não rolou. Com sua voz doce, seria mais produtivo colocar ele para cantar The Islander ou The Crow, The Owl and The Dove, dos tempos de Marko.

A roupagem folk de 7 Days To The Wolves, o final dramático de Nemo (com Floor no talo) e escolhas acertadas como She Is My Sin, do Wishmaster, foram alguns dos pontos altos da apresentação.

O lado bom dessa reinvenção forçada que a banda historicamente vem precisando fazer desde que Tarja Turunen deixou a banda em 2005 é a possibilidade de encontrar novos arranjo para as músicas.

Hoje, Troy assume partes que eram de Tuomas, Floor canta partes de Marko e por aí vai. O fato de que o Nightwish (ou pelo menos o Tuomas e o Emppu) é uma banda resiliente, que aguenta as “porradas da vida”.

O grande problema, e não é de hoje, é esse tocar com o freio de mão puxado, se fazendo valer da postura diva de Floor, que não se mexe, apenas bate cabeça. Para piorar, Kai Hahto, baterista que substituiu o performático Jukka Nevalainen, parece que está tocando um rockzinho antigo que não tem perigo de assustar ninguém.

Por fim, valeu a emoção de finalmente ver Noise, Tribal, Harvest e outras canções do novo disco ganharem suas versões ao vivo. A energia foi outra e todas elas ficaram mil vezes melhor com essa nova energia.

Agora, resta aguardar e torcer que os shows marcados para o Brasil não sejam cancelados ou adiados de novo e que todos possam assistir – realmente ao vivo e in loco – à apresentação de forma segura, sem a necessidade de distanciamento social.

(por Gustavo Maiato)