Pestilence mostra técnica e carisma em show excêntrico no Rio

La Esquina, Rio de Janeiro, RJ , 08/04/2018

Era mais um Domingo de Heavy Metal pesado no Rio de Janeiro. Em sua primeira passagem pelo Brasil, o Pestilence prometia um setlist recheado de antiguidades que permearam os trinta e dois anos de carreira da banda. Acompanhavam os holandeses as bandas Carnation, vinda da Bélgica e fazendo tour de divulgação do EP Cemetery of the Insane e os cariocas da DarkTower, que seguem a extensa disseminação do ótimo Eight Spears, lançado em 2016. Seguia também um bom público no La Esquina, que não ficou esperando nada graças à boa logística da produtora.

Não tarda ao DarkTower subir ao palco. Abrindo o show com a devastadora Destroy the House of Há’shem, os cariocas mostram ao que vieram e com um foco específico nas músicas do último lançamento. Infelizmente o show curto não deixou que o grupo mostrasse toda a sua possibilidade e música tão singular, mas músicas como Lord Ov the Vastlands, Eight Spears e a ótima Blood Harvest deram conta do recado. Sem muito descanso, os belgas do Carnation subiram ao palco destilando um death metal com uma pegada europeia dos anos 90, no melhor estilo Entombed e seu Left Hand Path. Músicas como Rituals of Flesh e a ótima The Great Deceiver abriram as primeiras rodas na casa e já deixaram o público quente para o Pestilence.

Abrindo com Non Physical Existent, do recém lançado Hadeon (Mar/2018), o público começou tímido, mas logo tratou de abrir a primeira roda e acertar o microfone nos dentes do vocalista Patrick Mamelli, que ao fim da música tratou de dar uma bronca nos presentes. Continuou falando de como o lugar era pequeno, mas que assim criava uma atmosfera ótima para os shows e tratou de emendar Malleus Malleficarum/Antropomorphia, dos idos anos de 1988. Logo outras rodas trataram de abrir, já com o devido cuidado, mas como o público ficava bem perto da banda, muitas mãos levantadas em dedos em riste iam bem perto dos músicos. Era engraçado? Era. Mas criava uma certa preocupação, dada a intensidade do público. Também pudera: primeira vez em trinta em dois anos, quem não ficaria animado?

Em Dehydrated, um fã (que estava bem perto do lado direito), pediu a música e Patrick informou que a banda iria tocar ela especialmente para ele, inclusive na hora do solo, o vocalista chegou bem perto dele visivelmente feliz com a reação enlouquecida do fã. Inclusive, os fãs estavam bem enlouquecidos, haja vista um senhor de idade com vestimentas bem desarmônicas com as outras e gestos pouco característicos, mas se divertindo muito em músicas como Land Of Tears e Presence of the Dead, nessa ele chegou inclusive a tomar um soco na boca no mosh pit e a sangrar levemente, mas logo foi estancado e o mesmo já estava se divertindo novamente. Mamelli, sempre muito carismático, não perdeu a chance e emendou ao fim da música: “Eu estou me divertindo muito com essa cara. Obrigado por vir ao show e animar muito!”.

Fechando com Mind Reflections (única representante do álbum Spheres, de 1993) e Out of the Body (do registro Consuming Impulse, de 1989), o Pestilence encerra a primeira passagem no Brasil e em solo carioca com saldo positivo e os fãs, com a certeza de terem se divertido, seja com o setlist recheado de clássicos, seja com todas as situações excêntricas que aconteceram na apresentação e só serviram para abrilhantar mais a noite. Em uma próxima passagem, esperamos o mesmo nível de intensidade musical e humor na medida certa, da forma que só o Heavy Metal é capaz de proporcionar.

(Luiz Mallet)