Review e galeria de fotos: Festival Cruilla Barcelona 2023

Datas: 07 & 08/07/2023
Local: Parc del Fòrum, Barcelona, Espanha

O festival catalão se consolida como uma data imperdível da agenda cultural de Barcelona e demonstra em números, atitudes e atividades o porque é um modelo de festival diferente. A aposta sempre foi o público local. Os organizadores sempre estiveram preocupados com as questões ambientais e uma das propostas é oferecer um evento para o público local, evitando assim deslocamentos e consequentemente a poluição provocada.

Mais da metade do público reside na cidade, a grande maioria vem da própria província, e apenas uma minoria vem de outras regiões do país.  Um público variado, um festival para todas as idades e com estilos variados.  Artistas latinos, bandas de rock internacionais e nacionais, shows de stand-up, esculturas e grafites também fazem parte do evento.

O Cruilla já é um festival consolidado e com um público fiel e há anos trabalha em iniciativas ambientais. Iniciativas como copos reutilizáveis e retornáveis sempre foram uma bandeira do festival e neste ano todos os veículos utilizados no evento eram elétricos chegando próximo de um festival que gera resíduo zero.

 

Os dois primeiros dias do evento, ainda no meio da semana, acolheram 26 mil pessoas com ênfase em artistas latinos como Rubén Blades, Bomba Estéreo e Miss Bolivia.

Blades tocou na edição passada e parece que a pedidos o renomado artista brindou o público com outra apresentação de alto nível. Dentre os nomes que conferimos o Franz Ferdinand é a banda que mais entende de festivais.  Os escoceses estão na estrada há algum tempo e sabem como jogar essa partida.

Abriram o set com “Do You Want To” e já de cara percebemos que o palco escolhido pela organização não foi o mais adequado. É para estar sempre no palco principal do evento e num palco secundário o colapso era o mais óbvio a acontecer, simplesmente abarrotado. “Evil Eye” com esse groove infalível em qualquer evento e “Walk Away”, um dos maiores hits do quarteto logo na sequência foram responsáveis pela abertura. E não ficou por aí, “Jaqueline”, “The Fallen”, “Michael”, “Take Me Out” foram apenas alguns dos hits que por ali desfilaram antes de encerrarem com “This Fire”.

Antes dos escoceses, os madrilenhos do Carolina Durante – sei que nosso perfil na Rock Brigade passa um pouco distante – é algo entre indie rock e power pop e chamou nossa atenção.  Também passaram por ali no mesmo dia o grupo islandês Sigur Ros.

O sábado foi reservado para o Placebo, banda que estava escalada para o festival na edição de 2020 mas todos sabemos o que aconteceu e três anos se passaram até que os britânicos voltassem a confirmar presença no Cruilla.

Pouco antes tivemos os catalães do Antonia Font e sua reaparição nos palcos após uma década. Ao contrário do Franz Ferdinand, o Placebo fez um show bem seu, ou seja, deixou de lado a fórmula do festival da qual muitos grupos inteligentemente utilizam.

Um festival possui um público muito variado e não um público que especificamente está ali para assistir a determinada banda. Então muitas bandas fazem um seleção de hits, daqueles que levantam multidão, daqueles que boa parte do público conhece a música mas não associa ao artista, que canta tudo e que não deixa pedra sobre pedra. O show foi ruim?  Não! Passa longe disso, mas poderia ter sido emblemático dentro do formato festival.  Tivemos hits?  Claro! E como tivemos como por exemplo “The Bitter End”, “Song To Say Goodbye”, “Beautiful James” e “Running Up That Hill”.

E aonde está o erro?  Deixar de fora “Ashtray Heart” quando o refrão é cantado em espanhol, além de single é um apelo ao êxito além das ausências de “Pure Morning” e “Every You Every Me”.  Chega a ser irônico dizer que o ponto alto do show tenha sido o cover do Tears For Fears, “Shout”, justamente um single de apelo comercial, fazendo referencia à resposta do público, mas nada que apague a grande atuação da banda no festival. Um show à altura.

Texto e Fotos: Ana Paula Soares e Mauricio Melo (Snap Live Shots)