Review: Kreator, Lamb of God e Municipal Waste em Barcelona

Sala Razzmatazz, Barcelona
14/03/2023

Olhando o cartaz do show State Of Unrest 2023 em si, não nos espanta que o mesmo estivesse com a placa de Sold Out! na entrada da sala Razzmatazz.  Já mencionamos por aqui em ocasiões anteriores mas vale sempre repassar.  A sala Razzmatazz é a antiga sala Celeste por aonde todos os grandes grupos que tocaram, tocam e tocarão em Barcelona tem que deixar sua impressão digital, ser batizado pelo local é obrigatório na cidade.  Na mesma o Sepultura gravou Under Siege (Live in Barcelona) e o Ramones registrou o disco Loco Live, só para citar alguns.  

A principio essa turnê organizada pelo festival Resurrection Fest estava marcada para 2020 que, por problemas óbvios, foi remarcada para o final do ano passado e outra vez por imprevistos e incompatibilidade logística voltou a ter uma nova data e finalmente realizada na tarde/noite de ontem em Barcelona. 

As portas do local abriram cedo, às 17:45 e a fila dava volta ao quarteirão.  Como ainda tínhamos luz natural, ver a quantidade de bangers com seus parches e cabelos compridos na fila nos remeteu àqueles vídeos clássicos que víamos no Headbangers Ball da MTV.   

Ainda com horário de matinê os encarregados de abrirem a noite (tarde) foi o bando do Municipal Waste. Thrashers desordeiros, cervejeiros caóticos que nos trouxe de volta o bom e velho Thrash Metal de décadas passadas e o público já dava sinais de insanidade musical. O show não foi tão curto quanto muitos imaginavam e tivemos um setlist bastante recheado de temas que algum dia serão chamados de clássicos do thrash/crossover como “You’re Cut Off”, “Breath Grease” e “Demoralizer” do ultimo lançamento e responsável por abrir o set.  

O palco reduzido com a bateria mais à frente favoreceu a banda e a mesma deu ao público uma merecida abertura.  Voltaremos a nos encontrar em junho, desta vez no Hellfest. 

Já que tocamos no nome do festival faremos referencia a última vez que topamos com o Kreator.  Lá mesmo, em Clisson conferimos de perto o show dos alemães, que na atualmente é composto por dois germânicos, um francês e um finlandês.  Já naquela ocasião tínhamos visto a banda com seu “novo” baixista Frederic Leclercq e todo virtuosismo exigido pela banda.  

Em junho do ano passado o visual do palco foi superior por estarem num open air, já na sala Razzmatazz a “decoração” foi reduzida, contando apenas com apenas com alguns personagens enforcados nas laterais do palco e um par de vezes que tivemos a visita do demônio símbolo da banda vestido em uma túnica e um cetro luminoso ao invés de chamas como em palco aberto. 

A grande realidade é que o Kreator atingiu um nível de apresentação que o coloca entre os grandes nomes do metal. Coincidência ou não, após a chegada do guitarrista Sami Yli-Sirnio a mesma encontrou a formula ideal para suas composições e vem lançando um disco redondo após o outro e de maneira que não soa repetitivo, adicionando novos elementos aqui e ali.  

Estar no show do quarteto é, para um fã de Thrash Metal, um presente e tanto.  Um desfile de clássicos como “Phobia”, “Betrayer”, “Flag of Hate” e Pleasure To Kill”, as duas ultimas já em reta final de apresentação.   

Abriram a noite com “Hate Uber Alles” do disco mais recente e o público respondeu como se de um clássico se tratasse.  “Hail to the Hordes” veio na sequencia pelo caminho foram deixando títulos como “Satan Is Real”, “Hordes of Chaos” e “Phantom Antichrist”, um setlist com mais de uma dúzia de temas que não deixou nenhum pescoço intacto. 

Assim como o Kreator já havíamos estado com o Lamb Of God aqui e ali e sempre acontece a mesma coisa, nos esquecemos como o som do quinteto é ameaçador, provocador.  O público perde a linha, urra, esmurra, surfa por cabeças alheias, sua, sangra, ri…  Abriram a noite com “Momento Mori”, a alternância de ritmos dentro da mesma música, os integrantes passeando pelo palco com um olhar de autoridade, como seres que rodeiam um presa.  

Randy Blythe subido numa plataforma descarregando toda sua fúria vocal, agitando seus dreads e saltando de um lado a outro, elevando o nível de insanidade do publico e fazendo com que os seguranças começassem a suar suas camisas.  

No apertado fosso de fotógrafos, os mesmos se acotovelavam e dividiam espaço com os primeiros “surfistas” e pareciam cair do céu (ou emergir do inferno), trabalho árduo porém divertido. Deram sequência com “Ruin” e a semântica continuava assim como em “Walk With Me in Hell”. Seja como Burn The Priest ou como Lamb Of God, a grande verdade é que o quinteto colhe os frutos de quase três décadas de atividades com uma turnê grande, dividindo palco com nomes históricos como as bandas mencionadas acima e com um show potente, um show a ser visto por qualquer fã do metal, seja da vertente que for.

Texto e fotos: Maurício Melo