Robin McAuley não esconde empolgação para show no Brasil

Robin McAuley traz consigo uma jornada marcada por uma paixão incansável pela música. Nascido e criado na Irlanda, sua fascinação pelo Thin Lizzy o introduziu ao mundo do rock, moldando seu gosto musical desde cedo. A descoberta do Free e seu vocalista, Paul Rodgers, desencadeou uma revolução em sua percepção sonora, levando-o a explorar novos horizontes musicais.

McAuley inicialmente almejava ser baterista, mas uma reviravolta do destino o levou ao centro do palco, onde sua voz única encontrou seu lugar. Sua entrada no Grand Prix marcou o início de uma carreira profissional. A transição para o McAuley-Schenker Group, com o renomado guitarrista Michael Schenker, rendeu álbuns poderosos e músicas que ecoam até os dias de hoje. Atualmente, Robin continua a desafiar fronteiras musicais com projetos como o Black Swan.

Prestes a desembarcar pela primeira vez no Brasil, como atração da Hard N Heavy Party em São Paulo (SP), o cantor promete uma noite inesquecível, repleta de energia, paixão e o puro espírito do rock ‘n’ roll.

Rock Brigade: Gostaria de começar falando sobre como você iniciou sua carreira na música. O que te fez querer seguir essa carreira? Houve algum álbum que você ouviu ou algum show que você assistiu que, digamos, mudou sua vida?

Robin McAuley: Eu devia estar louco. Maior erro da minha vida! [Risos.] Não sei se você sabe, mas eu nasci e fui criado na Irlanda. E eu era muito fã do Thin Lizzy. Vi o Thin Lizzy muitas vezes antes de eles fazerem sucesso. Também costumava ouvir muita Motown porque não existia nenhuma rádio rock na Irlanda naquela época. Eu adorava as melodias, as letras. Adorava todas aquelas linhas de baixo, que ainda são ótimas hoje em dia. E então eu descobri o Paul Rogers, do Free, e fiquei tipo, “meu Deus, é isso, eis aqui um cara branco com voz de preto”. Isso mudou completamente minha maneira de ouvir música. E eu fiquei viciado em Free. Depois, me mudei para Londres e tive muito mais exposição ao rock lá. Eu queria ser baterista. Toquei bateria por muitos anos. Não era muito bom, apenas quebrava um galho. E fazia muitos vocais de apoio. Um dia, alguém disse que eu deveria cantar. Eu nunca quis ser cantor. E na minha cabeça, sou um péssimo cantor! [Risos.] Além de muito Free, eu ouvia Led Zeppelin, Black Sabbath e bandas como Boston e Foreigner. E foi isso, realmente. Nunca quis ser cantor. A coisa de cantar veio, acho, em uma das minhas primeiras idas a Londres. Meu cunhado me deixou bêbado e me fez subir ao palco para cantar. E as pessoas disseram que eu mandava bem. Foi assim que começou. Em seguida, entrei no Grand Prix. Eles entraram no pub, e me viram e perguntaram: “ei, você quer vir cantar com uma banda de verdade?” [Risos.]

Qual foi a experiência mais memorável que você teve como vocalista do Grand Prix?

Eu já conhecia o baixista [Ralph Hood] e o guitarrista [Michael O’Donoghue] porque eram habitués do circuito de pubs de Londres. Eles apareceram uma noite e começamos a conversar, e eles disseram que precisavam de um cantor. O som era meio que uma coisa bem freestyle; rock, blues, esse tipo de coisa. Fizemos alguns shows, gravamos algumas demos e… o punk explodiu. Não havia mais espaço para o rock. Passado um tempo, eles começaram a gravar com um vocalista diferente — Bernie Shaw, que hoje canta no Uriah Heep — e conseguiram um contrato com a RCA Records. Lá pelas tantas, decidiram substituí-lo. Me chamaram para ir ao estúdio. Eles estavam gravando um disco, eu lhes ajudei com algumas faixas e então me ofereceram a vaga. E esse foi meio que o começo para mim, em um nível profissional. Gravamos um disco chamado “There for None to See” (1982), e depois fizemos um chamado “Samurai” (1983) e mudamos de gravadora. E foi quando mudamos para a Chrysalis Records que comecei a ter mais contato com o Michael Schenker porque o Michael Schenker Group também estava na Chrysalis Records, e eles foram assistir ao Grand Prix tocar ao vivo. E então recebi uma oferta para me juntar ao MSG e recusei. [Risos.]

Como foi essa transição para se juntar ao Michael Schenker Group?

Não foi fácil. Tive que fazer um teste. Naquela época, eu estava tendo muito sucesso com o Far Corporation, graças ao nosso remake de “Stairway to Heaven”. Acho que vendemos mais de dois milhões de cópias somente no Reino Unido. Calhou de Rudolf Schenker ouvir esse remake no rádio e dizer para o irmão entrar em contato comigo. Michael lhe respondeu: “Esse cara recusou meu convite há quatro anos. Não creio que ele estará interessado.” “Bem, não custa tentar”, disse-lhe Rudolf. Então eles puseram seu management na minha cola. Acabei indo para Hanôver [Alemanha] e fui o último de 17 cantores que foram testados. Quando cheguei lá, me deram uma fita K7 com uma música que não tinha letra, nem melodia. “Ouça e veja o que acha”. No fim do teste, no dia seguinte, Rudolf quis saber se eu tinha pensado em alguma coisa para a música que me dera na véspera. Eu disse que sim. Ele ficou surpreso. “Como você teve tempo para fazer isso? Você chegou às três da manhã e agora é meio-dia!” Respondi: “Não importa, vamos trabalhar nela.” Cerca de uma semana depois, Michael me ligou: “Gostaria que você fosse meu novo cantor e também gostaria de mudar o nome da banda.” “Péssima ideia”, respondi. “O nome já está estabelecido, e o logo do MSG é um dos meus favoritos. Não se mexe em time que está ganhando.” No fim das contas, ele propôs manter o logo, mas adotarmos McAuley-Schenker Group.

Como era a dinâmica de trabalho com Michael durante esse período?

Era ótima. Estávamos numa grande gravadora [Capitol Records] aqui nos Estados Unidos, tínhamos uma empresa de gerenciamento que trabalhava duro para que nos destacássemos no mercado americano. Sabíamos que tínhamos que soar parecido com um Bon Jovi ou um Def Leppard e fizemos isso. Michael cuidava da música e eu escrevia as letras. Gravávamos e apresentávamos para a gravadora, que geralmente achava ótimo, e definia quais seriam os singles. Havia certa pressão para que fizéssemos um som “comercial”, mas tudo bem, porque gosto desse aspecto “vendedor”. Gosto de melodias e letras boas e fortes que grudam. Então a combinação Michael e eu foi perfeita. Ele é um guitarrista incrível. Não fizemos o sucesso que almejávamos, mas nossa parceria rendeu ótimas músicas, que tocam até hoje.

Dos três álbuns de estúdio do McAuley-Schenker Group, qual é o seu favorito?

Acho que o “Save Yourself” (1989), porque tinha um pouco mais de pegada. Nós gostamos do “Perfect Timing” (1987), mas não tinha peso o suficiente. Não tinha energia o suficiente. Não ficamos satisfeitos com a produção. Então, quando começamos a escrever e gravar o “Save Yourself”, realmente pressionamos o produtor [Frank Filipetti] na época para deixá-lo um pouco mais agressivo; ainda comercial, mas mais agressivo. Então eu diria que o “Save Yourself” é provavelmente o meu favorito dos três, embora o último [“M.S.G.” (1992)] traga Jeff Pilson no baixo e o falecido James Kottak na bateria. Esse [terceiro] disco tem muitas ótimas músicas, mas soa excessivamente comercial por causa do produtor responsável [Kevin Beamish].

Houve alguma lição importante ou experiência de aprendizado que você tirou dessa experiência?

Ainda estou aprendendo. Todos estamos! [Risos.] Michael tem uma disciplina incrível, e eu também. Quando nos reunimos, até mesmo para os shows [do Michael Schenker Fest] de hoje em dia, somos pontuais. Não deixamos para resolver as coisas no ensaio; fazemos o dever de casa e nos reunimos só para garantir que esteja tudo certo. Os ensaios são basicamente para fazer alguns ajustes. Conheço cantores que não se preparam direito e isso acarreta horas e horas no estúdio aprendendo as músicas. Isso você faz em casa; você chega ao estúdio preparado. E Michael e eu estamos sempre preparados. Ambos gostamos dessa disciplina, e operamos assim ao longo dos anos. Os demais membros da banda também eram muito disciplinados. Creio que isso crie uma unidade muito poderosa, além de toda a camaradagem envolvida. E isso é muito importante. Se fosse chato, eu não faria parte.

Quais seriam as condições para um novo álbum do McAuley-Schenker Group acontecer?

Condições? Acho que só depende de o Michael querer fazer. Acredito que houve um período do McAuley-Schenker Group em que talvez o Michael tenha sentido que tudo ficou muito comercial, porque houve muitas queixas de que havíamos “nos vendido”. No entanto, estávamos na MTV, e isso nos deu um grande impulso. Estávamos no rádio, algo que o Michael Schenker Group nunca havia conseguido, especialmente na América. Tenho fé de que é apenas questão de tempo. Mas é melhor andarmos logo, porque a idade está chegando!

Como surgiu a ideia de formar o Black Swan e como você se envolveu no projeto?

Antes de mais nada, eu simplesmente amo essa banda. Como tudo aconteceu? Simples. O Serafino Perugino, da Frontiers Records, me ligou e queria que eu gravasse um álbum solo. E eu absolutamente não tinha interesse nenhum em gravar um álbum solo naquele momento; não sentia que era o momento certo e não me sentia pronto. Cerca de um ano depois, eu estava trabalhando em Las Vegas com o show Raiding the Rock Vault, do qual participei por sete anos. Foram quase 1.500 shows, cinco noites por semana. Tivemos um enorme sucesso. Um belo dia, eu estava em Las Vegas, fazendo meu exercício matinal, quando meu telefone tocou e era o Jeff Pilson. Conheço o Jeff desde a época do McAuley-Schenker Group, e ele também foi meu padrinho de casamento. Jeff quis saber o que eu estava fazendo, pois o Serafino havia lhe proposto a montagem de um supergrupo. Nós dois rimos, porque odiamos essa nomenclatura. Ele disse que havia falado com o Reb [Beach, guitarrista] e que ele havia topado, mas faltava um vocalista. Respondi que seria ótimo estar numa banda com eles, mas aí o Jeff disse que só produziria e ajudaria nas composições. “Quero ter um papel mais de supervisão.” Aí eu fui direto ao ponto: “Se não for você no baixo, eu estou fora.” No fim das contas, decidimos tentar compor algo, para ver se dava liga. Escrevemos um monte de músicas, escrevi um monte de letras, e nos reunimos, os três, no estúdio do Jeff. Peguei um microfone e comecei a cantar minha ideia para uma música que tinham me mandado. Tudo ótimo, até chegarmos no refrão. A música se chamava “Big Disaster” [“Grande Desastre”]. “É sério, cara? ‘Big Disaster’?” [Risos.] Acabamos lançando-a como segundo single. Depois de estabelecido o núcleo, convidamos Matt Starr para tocar bateria, e ele foi como a cereja do bolo. E a título de informação, já estamos preparando o terceiro álbum. Começamos as gravações há pouco. Em breve, começarei a gravar os vocais.

Existe a possibilidade de que o Black Swan amplie os limites do projeto e saia em turnê?

Já discutimos a ideia. Se tivéssemos a oportunidade de tocar ao vivo, o melhor cenário para fazer isso provavelmente seriam festivais. Porque dessa forma, poderíamos nos apresentar na frente de um grande público e de pessoas que nunca ouviram falar do Black Swan e ter uma baita exposição. Mas ainda não tivemos a oportunidade. Reb sempre esteve ocupado demais com o Winger e o Whitesnake; Jeff está sempre ocupado demais com o Foreigner; e eu, ou com o Michael Schenker Fest ou com os shows em Las Vegas. E agora também estou trabalhando no meu quarto álbum solo. Sim, há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo! [Risos.]

O que você diria que diferencia seus álbuns solo de tudo o que você fez com outras bandas?

Acho que o principal é que eles me dão a oportunidade de trabalhar com músicos diferentes daqueles com os quais costumo trabalhar. Também me permitem pensar em músicas que não necessariamente se encaixariam no repertório do MSG ou do Black Swan. Trabalhar com gente diferente dá resultados diferentes, e eu meio que gosto disso, desse desafio. Foi assim a abordagem em “Standing on the Edge” (2021), o segundo disco solo. Não tinha ideia do que fazer, então entrei em contato com pessoas com quem já havia trabalhado, caras que haviam escrito músicas com alguns dos integrantes do Survivor — porque cantei no Survivor por seis anos — e caras que haviam trabalhado com o Grand Prix. Escrevi uma música com Phil Lanzon [tecladista, Grand Prix e Uriah Heep] que deu o pontapé inicial em tudo. No “Alive” (2023) eu estava muito mais tranquilo comigo mesmo, então me concentrei muito para torná-lo um pouco mais agressivo, um pouco mais pesado e, suponho, um pouco mais eu mesmo.

Entre todos os trabalhos em sua carreira, qual você diria que melhor representa você como artista?

Não sei dizer. Sabe, muitas pessoas meio que muitas pessoas me colocam um rótulo de cantor de baladas. Muitas pessoas acham que minhas melhores músicas são as power ballads; “Anytime”, “When I’m Gone”, “Never Ending Nightmare” etc. Sei que sou capaz de fazer muitas coisas diferentes, mas as pessoas sempre insistem nisso. Sempre que termino um disco, digo que é o melhor que já fiz, e o motivo pelo qual faço isso é que se não for, eu não deveria tê-lo feito. Meu melhor disco é o último que fiz até agora. E o próximo que fizer passará a ser o melhor que já fiz. É assim que meio que me mantenho energizado, motivado. Cada nova música é um novo desafio, uma nova forma de pensar. É muito fácil depois de tantas músicas que você escreve letras para, repetir a si mesmo. É muito difícil não se repetir se você está o tempo todo criando melodias. Com o Black Swan, é realmente legal porque tenho Jeff Pilson e Reb Beach me ajudando a criar melodias. Então há uma grande troca entre nós. E isso faz você pensar de forma diferente. E é ótimo. E o que sai no final é muito divertido.

Como você se sente em relação ao seu primeiro show no Brasil?

Muito animado! Será um baita evento, com John Corabi, que conheço há anos; Chez Kane, que é uma fera; e Erik Martensson, do Eclipse, uma banda fantástica. A produção me pediu especificamente para cantar muitas músicas do McAuley-Schenker Group que as pessoas não costumam ouvir sempre, mas acho que podemos até incluir uma ou outra do Black Swan. Estou particularmente empolgado para tocar com uma banda com a qual nunca toquei antes. Sei que todos estão trabalhando muito duro agora, ensaiando e se preparando para o grande dia. Soube que os ensaios estão indo muito bem, então mal posso esperar. Sou muito exigente, muito detalhista, mas sei que esses caras vão mandar bem.

Há algo que você gostaria de dizer aos seus fãs brasileiros antes do show?

Olá, Brasil! Estou feliz por estar a caminho. Agradeço o carinho e peço que façam tanto barulho quanto quiserem, porque é isso que planejamos fazer. Estou superanimado. A produção está fazendo um trabalho incrível e, é claro, farei uma sessão de autógrafos na Animal Records [loja da Galeria do Rock (SP)]. Será dia 11 de maio. Não se esqueçam!

Por Marcelo Vieira