Andy Boulton celebra os 40 Anos de obra-prima do Tokyo Blade

Em meio à efervescência da New Wave of British Heavy Metal no começo dos anos 1980, o Tokyo Blade surgiu como uma força singular, desafiando as expectativas e deixando sua marca indelével no cenário musical britânico. Fundada por membros que compartilhavam uma paixão em comum por peso e melodia, a banda rapidamente se destacou com sua abordagem distinta do hard rock e heavy metal, inspirada por ícones como UFO, Thin Lizzy e outros pioneiros do gênero. E “Night of the Blade”, que completa 40 anos desde seu lançamento, permanece como um marco na jornada do grupo, representando um momento crucial em sua carreira.

Nesta conversa exclusiva, Andy Boulton nos transporta para os bastidores da formação da banda e os desafios enfrentados durante os anos de ascensão. Desde os humildes primeiros passos como membros de uma atração local até o sucesso internacional e as inúmeras reviravoltas ao longo do caminho, o guitarrista compartilha insights reveladores sobre os altos e baixos que moldaram a trajetória do Tokyo Blade. Além disso, ele revela detalhes sobre a gravação de “Night of the Blade”, incluindo a controversa decisão de substituir o vocalista Alan Marsh.

Rock Brigade: Vamos começar falando sobre as origens do Tokyo Blade. Quando começaram a tocar rock and roll, tinham em mente viver o sonho e conquistar tudo o que conseguiram, ou era apenas um hobby que acabou se tornando algo mais sério?

Andy Boulton: Eu, [o baterista] Steve Pierce e [o baixista] Andy Robbins tocávamos em uma banda chamada White Diamond. Nos juntamos com Alan Marsh e um guitarrista chamado Ray Dismore, e o Tokyo Blade foi formado. Acho que todos nós só queríamos tocar e acabou crescendo mais do que esperávamos.

Como era a cena na época? Quais bandas estavam fazendo sucesso? E quais locais eram seus objetivos?

Iron Maiden, Def Leppard, Saxon etc. estavam todos indo muito bem. Nossas influências eram mais ou menos as mesmas que as deles: UFO, Thin Lizzy e bandas mais antigas como Deep Purple e Led Zeppelin. Não tínhamos objetivos, porque nunca esperávamos realmente tocar em locais grandes! [Risos.]

De onde vem o fascínio pela cultura japonesa? Quem trouxe toda essa influência oriental para a banda?

Veio a partir do nome, na verdade. Alan queria chamar a banda de Blade Runner e eu queria chamar de Tokyo. Sugeri Tokyo Blade como um meio-termo e foi isso.

Na sua opinião, qual foi a principal diferença do Tokyo Blade em comparação com todas as outras bandas na época?

Não sei dizer. Acho que só queríamos tocar hard rock/heavy metal, mas com melodia. Sempre fizemos o que queríamos e, se os fãs gostavam, isso era suficiente para nós.

O que foram os festivais Aardschok e Earthquake, na Holanda, e qual a importância de ambos na história do Tokyo Blade?

Ambos os festivais foram os maiores eventos de que já participamos, então para nós foram muito importantes. Além disso, o Venom foi a atração principal do Aardschok, acima do Metallica, que acabou se tornando uma das maiores bandas de heavy metal do mundo. James [Hetfield] e Lars [Ulrich] costumavam vir regularmente ao Reino Unido e frequentemente ficavam na casa do [baixista] Andy Wrighton, então costumávamos sair para beber com eles.

O que Andy Wrighton trouxe para a banda que o antecessor Andy Robbins não havia trazido ou tinha pouco em comparação?

Andy Robbins era um bom baixista e um amigo meu da época da escola. Ele teve alguns problemas de saúde, e precisou se afastar.

Representantes da gravadora compareceram ao show no Aardschok e decidiram que Alan era um vocalista fraco para a banda. Mas em que sentido? E o que exatamente eles queriam?

Basicamente, eles queriam remover Alan da banda e substituí-lo por um amigo deles. Citaram a falta de confiança de Alan no palco como o principal motivo, mas agora sabemos que não era o caso. O amigo deles veio fazer um teste conosco, mas saiu antes mesmo de começarmos a tocar, então ficamos na mão, desesperados, precisando de um substituto.

Como foi o momento em que vocês deram a notícia para Alan? Qual foi a reação dele?

Alan ficou compreensivelmente chateado. Perguntamos a ele se ele queria que lutássemos contra essa imposição, mas ele acabou decidindo sair da banda naquele momento.

Vic Wright apareceu na última hora. Não era o cara mais adequado, mas, como você disse, vocês estavam desesperados. Qual foi a primeira impressão de vocês sobre ele?

Nossa primeira impressão de Vic foi que ele era muito jovem e inexperiente. Era determinado, mas não tinha exatamente o visual que esperávamos. Mas o desespero falou mais alto, já que a turnê com o Mama’s Boys estava iminente.

O que você lembra sobre essa turnê com o Mama’s Boys?

Ah, Deus, essa foi uma turnê de que nunca esquecerei. Cinco membros da banda e três membros da equipe, além de todo nosso equipamento, amontoados em uma pequena van. Quando chegamos à França, todo o nosso merchandising foi confiscado pela alfândega francesa e o dinheiro da venda desses produtos seria usado para nossa alimentação na viagem. Na primeira noite, nossa van foi arrombada e alguns instrumentos foram roubados, além de todos os nossos cigarros e do meu Walkman, que o Vic estava usando para aprender as músicas, já que nem tínhamos ouvido ele cantar ainda! Fomos obrigados a dormir na van e tivemos que roubar comida, pois não tínhamos dinheiro. Felizmente, os caras do Mama’s Boys foram muito gentis e, quando souberam da nossa situação, nos alimentaram e permitiram que alguns de nós dormíssemos no ônibus deles. Foi uma turnê difícil e longa, mas sobrevivemos.

De volta à Inglaterra, Vic regravou os vocais de Alan em “Night of the Blade”. A contribuição dele para o disco se restringe a isso? Houve algum registro de Alan na mixagem final?

Sim, ele apenas regravou os vocais principais de Alan e, apesar de nossas objeções, os backing vocals de Alan foram mantidos no disco. Achamos que essa foi uma decisão muito injusta da gravadora, mas estávamos de mãos atadas.

Quanto tempo levou essa regravação vocal? Isso resultou em novas despesas e atrasos no processo?

Levou cerca de cinco dias e sim, resultou em despesas extras e atrasos.

O que você achou do álbum quando ouviu pela primeira vez com os vocais de Vic?

Para mim, particularmente, não soava tão bom. Alan havia sido o vocalista praticamente desde que fundei a banda, então não era a mesma coisa para mim.

Você sente que de alguma forma, mesmo ele não sendo o cara mais adequado, a voz e a aparência de Vic ajudaram o Tokyo Blade de alguma forma?

Sim, acredito que sim. A força de Vic era sua presença de palco; ele era um ótimo frontman, mas não um grande cantor, na minha opinião. Ele escreveu as letras para o álbum seguinte [“Black Hearts & Jaded Spades” (1985)] e queria levar a banda em uma direção diferente, o que inicialmente eu estava disposto a fazer. Olhando para trás agora, foi um erro e acredito que nos custou caro.

O que você pensa sobre “Night of the Blade” hoje? Quais músicas se destacam, na sua opinião, e por quê?

Essa é uma pergunta difícil de responder, já que não volto a ouvir nenhum de nossos álbuns depois de terminá-los. Estou sempre ansioso para passar para o álbum seguinte. “Night of the Blade” foi claramente um álbum muito popular e não tem como não sentir orgulho dele. As músicas que se destacam para mim são “Night of the Blade”, puramente por sua força motriz, e “Lightning Strikes”. Também gosto de “Dead of the Night”.

Qual foi a coisa mais importante que vocês conseguiram graças “Night of the Blade”?

Sucesso internacional. Temos muito orgulho de que ele e o primeiro álbum [“Tokyo Blade” (1983)] se tornaram clássicos da New Wave of British Heavy Metal.

Li que Vic se apaixonou pelos Estados Unidos na turnê de “Night of the Blade” e decidiu que iria morar lá de qualquer maneira. Isso é o que realmente aconteceu?

É, sim. O irmão de Vic já morava lá e ele também queria liderar sua própria banda, já que sempre viu o Tokyo Blade como minha banda.

Considerando o resultado que a parceria com Vic teve — ele deixando a banda para ir para os EUA se juntar ao Johnny Crash —, você avalia o tempo dele como positivo ou negativo?

Eu diria que positivo, pois fizemos muitas turnês com o Vic durante o tempo que ele esteve na banda e isso definitivamente nos ajudou a avançar em nossa carreira.

Você tem alguma opinião sobre a música do Johnny Crash?

Nunca ouvi, para ser honesto.

Quando vocês decidiram lançar “Night of the Blade” com os vocais originais de Alan?

Essa foi uma decisão do Alan e foi tomada antes dele se juntar novamente ao Tokyo Blade. Fico feliz que ele tenha feito isso, é claro, pois acho que é a versão definitiva.

Qual é a melhor coisa sobre a versão com Alan em comparação com a versão com Vic?

Não acho que você possa superar a versão original de qualquer coisa que seja.

O Tokyo Blade teve alguns vocalistas além de Vic e Alan. Para você, qual ou quais deles melhor traduz a identidade vocal da banda?

Somente o Alan. A voz do Alan é a voz do Tokyo Blade.

“Night of the Blade” retorna ao mercado brasileiro em uma edição dupla com “The Night Before” [a versão com Alan] no CD 2. O que você acha disso?

Acho ótimo para os fãs brasileiros e nós amamos muito nossos fãs brasileiros. Na verdade, foi a melhor turnê que já fiz.

Adoraria ouvir suas impressões sobre a experiência.

Literalmente os melhores shows da minha vida. Eu não podia acreditar na recepção calorosa dos fãs brasileiros. Já viajei o mundo e até tocar no Brasil, nunca vi fãs literalmente chorando de alegria ao nos ver. Adoro nossos fãs em todo o mundo, mas nenhum mais do que nossos fãs brasileiros. Valeu a pena até mesmo o voo extremamente longo. EU AMO O BRASIL! A propósito, as mulheres brasileiras são as mais bonitas do mundo inteiro!

Por Marcelo Vieira