Blind Guardian em São Paulo: review e galeria de fotos

Data: 26/11/2023
Local: Terra SP

Com um show “sold out” no dia anterior (25/11), e com casa lotada em pleno domingo cinzento, a instituição do Metal alemão fazia sua segunda data na cidade de São Paulo em sua The God Machine Tour. Foram 8 datas no Brasil, que teve início no Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, São Paulo, indo pra Brasília e se estendendo até o norte do país (Manaus), em divulgação de seu último álbum do mesmo nome, lançado em 2022, além de seus clássicos, nesses mais de 35 anos de carreira. 

Com abertura a cargo do Trend Kill Ghosts, banda paulista que vem se destacando no cenário nacional, com seu Power Metal muito bem influenciado pela escola alemã, tradicionalmente popularizada pelo Helloween mundo afora, e com vários discípulos, além de um toque de prog no som. A mesma conta com 2 full lengths, além de vários singles, desde sua formação em 2018, vem chamando bastante atenção, abrindo vários shows internacionais, e tem tudo pra ser uma das promessas do que o Brasil tem de melhor para mostrar mundo afora, com muita técnica e musicalidade, em perfeita sincronia. 

A banda que já havia sido a abertura na noite anterior, a pedido segundo eles, do próprio Blind Guardian,  mostrando ser a escolha certa para esta celebração do Power Metal. Sem a controvérsia pista VIP (ou Premium se preferir), apenas mezanino de dois andares, e pista normal (ambos lotados),  e em pleno domingo, ao menos o calor deu uma trégua para nós, meros mortais. O que ajudou na combustão natural dos fãs presentes, em um ambiente agradável e arejado, em um local bom, apesar das pilastras no meio do salão, o que dificultava um pouco a visão, dependendo de onde você estivesse. Com banheiros bem limpos e localizados, e um cardápio com preços não tão acessíveis assim, algo que se tornou uma constante em casas de shows. 

A casa em si, é bem estruturada, apesar de eu achar que o som não estava 100% perfeito, além de um ótimo jogo de luzes durante todo o espetáculo, por conta da produção do evento. Os telões estavam desligados, mas creio que isso não atrapalhou muito, já que a visualização do palco era bem acessível, até para os mais baixinhos. 

Com a casa cheia e um belíssimo pano de fundo do álbum novo, o Blind Guardian começa o show pontualmente as 20h, mandando logo de cara, o clássico “Imaginations from the Other Side”, faixa título do mesmo álbum, de 1995, um dos responsáveis pela popularidade do grupo. Dando sequência a “Blood of the Elves”, do novo álbum, em um começo de show perfeito, energético e cheio de sincronia. 

 

Com um set list um pouco diferente da noite anterior, a banda fez um apanhado geral da carreira, estreando músicas novas, e não faltando os clássicos, decorrentes de todas as fases. A banda que já havia se apresentado aqui em abril, no Summer Breeze Fest, provou para todos que é digna de tocar 3 vezes no mesmo ano no país e cidade, com a casa cheia e vários shows “sold out”, como uma verdadeira constatação de ser uma das mais renomadas do estilo, algo pra poucos. 

“Time stands still (at the Iron Hill)”, do renomado álbum “Nightfall in the Middle-Earth” dá continuidade ao show, honrando com maestria, todo o legado e influência de Tolkien, não só no som do Blind Guardian, mas em todo esse universo de magia e fantasia que o Heavy Metal herdou como parte de sua ampla contracultura artística e musical. 

“Ashes to Ashes”, do álbum “Somewhere far beyond” de 1992, fez jus ao título de deuses do Power Metal. “Violent  Shadows”, do último álbum, resgatando aquela aura do passado que colocou a banda no topo da elite do Metal alemão. Apesar da saída de seu baterista original, Thomes Stach, já, há alguns anos, e com a adição de novos músicos. 

O Blind Guardian foi uma banda que manteve a sua essência e genuinidade, pelos membros originais, composto pelos dois guitarristas André Olbrich e Marcus Siepen, além do carismático vocalista Hansi Kürsch (também baixista em outrora). Compondo essa cozinha pesada, o ótimo baterista Frederik Ehmke e o baixista Johan Van Stratum, além do tecladista Michael Schüren, dando o toque mágico na atmosfera musical. 

O espetáculo segue com “Skald and Shadows”, no melhor estilo “Senhor dos Anéis”, criando aquele clima único, que só o universo Tolkiano pode nos proporcionar na alma. “Born in a Morning Hall”, do “Imaginations from the Other Side”, mantém o público em êxtase, em um show energético, mostrando o porque eles são uma das principais bandas do estilo que se consolidaram e se fixaram no cenário mundial. 

“Olê… olê… olê… olê…. Guardian…. Guardian” A plateia exaltava com vontade em pulmões latinos, provando que os fãs daqui são puro “feeling” e realmente vivem aquilo que curtem e acreditam. “Secrets of the American Gods”, passando pela já popular “The Bard’s Song (in the forest)”, uma das baladinhas épicas e mágicas que marcaram o estilo do “Guardião Cego”, com todos cantando bem alto e em uníssono. Aplausos, aplausos e mais aplausos! 

Esse feeling que emociona a todos, e que só o Blind Guardian tem, muito mais do que fãs, e sim seguidores. “The Quest for Talelorn” é iniciada e o carismático vocalista Hansi Kürsch, em total domínio do público, que aplaudia junto o início da música em sua introdução. “Lost in the Twilight Hall”, do álbum “Tales from the Twilight World” de 1990 é executada com muita energia, com um baterista tocando com muita pegada e um vocalista com muita garra, enquanto as guitarras muito bem entrosadas enfeitavam a música. 

Um time impecável no palco, com arranjos sofisticados, aliados  ao peso e muito bom gosto, todos muito cirúrgicos, em perfeita sintonia. Com os músicos dando uma pequena pausa, e voltando a todo vapor com “Sacred Worlds”, e toda sua orquestração, energizando todos os presentes. E com Hansi mostrando toda sua versatilidade vocal, algo que talvez o limitasse quando tinha que dividir as duas funções, de vocalista e baixista anos atrás. 

“Blood Tears”, do álbum “Nightfall in Middle-Earth” de 1998, com a plateia interagindo a cada segundo. Impossível esse que vos escreve não se emocionar com a inesperada “Wizard’s Crown”, resgatando seus primórdios de Lucifer’s Heritage, de quando essa música ainda se chamava “Halloween”, e também em seu clássico álbum de estreia “Battalions of Fear” de 1988. O hit “Welcome to Dying” seguido de um dos 5 maiores hinos do grupo, a grandiosa “Valhalla”, do segundo álbum, o mais do que clássico “Follow the Blind” de 1989, entoada por todos em puro êxtase, e que teve o refrão estendido por uns minutos, com a plateia cantando em uma festa continua, celebrando a alegria de estarem ali presentes, naquele momento único e mágico. 

O clássico “Mirror Mirror”, sempre presente nos shows do Blind, dá indícios de que o espetáculo com quase 2 horas de duração chegava ao fim, com todos presentes extasiados, porém, não satisfeitos ainda, pedindo enlouquecidamente e em voz alta, o clássico absoluto “Majesty”, do primeiro álbum “Battalions of Fear”, talvez o primeiro hit da banda, que coleciona hits, ao longo dos anos. Sem perder sua força, “Ooooooh oooh Majesty…”, é entoada por todos, inclusive eu, já que sempre esperei ouvir essa música em especial, ao vivo, coisa que não ocorreu, nos únicos shows que fui do Blind Guardian, em sua primeira vinda ao Brasil em 1998, no saudoso Olympia na Lapa, e no Aramaçan em Santo André. 

A banda saúda os presentes, e encerra o show, com a sensação de missão cumprida, de ambas as partes (músicos e público), e é ovacionada por todos.

Por Igor Lopes; Fotos: Leandro Almeida