Entrevista: Doro Pesch exalta fãs e qualidade de novo álbum
No bate-papo que você está prestes a ler, Doro Pesch mergulha em seu novo álbum, “Conqueress – Forever Strong and Proud” (2023), com ousadas 15 faixas na versão regular — distribuída no Brasil pela Shinigami Records — e impressionantes 20 na edição de luxo. Ela compartilha insights sobre seu processo criativo, sua relação com os fãs e a empolgante jornada por trás de seu mais recente trabalho.
Doro fala ainda sobre as dificuldades enfrentadas durante a pandemia e sua abordagem positiva na música, sem deixar de lado os desafios do estúdio. Além disso, ela explora a inspiração por trás de faixas como “True Metal Maniacs” e “Fels in der Brandung”, revelando a história por trás de suas letras poderosas e emotivas.
Enquanto discute sua influência sobre os fãs e seu papel no cenário do metal, também compartilha pensamentos sobre o futuro do Sepultura e o estado do metal brasileiro, com menções elogiosas às bandas Crypta e Nervosa. E o que será que ela achou do novo álbum do Angra?
RB: A primeira coisa que chamou minha atenção sobre o novo álbum “Conqueress – Forever Strong and Proud” foi o número de faixas. São 15 na versão regular e 20 na edição de luxo, certo?
Doro Pesch: Exatamente! A versão de luxo é a versão completa!
Você vem da era do vinil, quando os álbuns geralmente tinham cerca de 10 faixas/40 minutos. Hoje estamos na era do streaming, com muitos artistas preferindo lançar singles a álbuns. Você sente que de alguma forma está nadando contra a corrente ou acredita que essa entrega extensa é o que seus fãs esperam de você?
Sempre sinto que devo seguir o meu coração, independentemente das tendências. Eu tinha muitas músicas que queria incluir neste álbum. A gravadora inicialmente sugeriu menos, mas eu insisti em dar aos meus fãs tudo o que tinha de melhor. A gente nunca sabe o dia de amanhã, né? Optei por incluir 20 músicas na versão de luxo, pois todas eram de alta qualidade e importantes para mim. Acredito que meus fãs apreciem essa entrega extensa.
Em termos práticos, é mais fácil gravar e lançar um álbum hoje em dia do que era há 30 ou 40 anos?
Ah, é diferente. O que gosto agora é que você pode fazer mais coisas sozinho e não depende tanto de outras pessoas. Não precisa mais depender tanto de agências de promoção ou gravadoras. Você pode ser quem você é nas redes sociais. É possível conversar com uma variedade maior de pessoas. Não fica limitado a um único assessor que escolhe quais entrevistas você deve dar. Com a internet, há mais opções disponíveis. Mesmo que sinta falta das revistas, ainda acho emocionante quando um álbum é lançado.
Você escolheu para videoclipe a música “True Metal Maniacs”. Em suas próprias palavras, trata-se de um hino para seus fãs. Você poderia falar um pouco sobre a música e o que ela significa para você?
Como você sabe, eu vivo pelos fãs. Eles são a coisa mais importante para mim. Quis expressar minha gratidão a eles com esse clipe, mostrando momentos especiais, como o show no Brasil [no Monsters of Rock, em 22 de abril de 2023], meu show de aniversário em Düsseldorf [na Alemanha, em 28 de outubro de 2023] e mais. “True Metal Maniacs” é um tributo aos fãs, à energia e à comunidade do metal. É uma forma de agradecer por todo o apoio e pela conexão profunda que temos. Essa música e o clipe refletem essa paixão e essa união entre nós.
“Conqueress – Forever Strong and Proud” é o seu primeiro trabalho após a pandemia. As letras abordam esse assunto?
Na verdade, não. Optamos pelo primeiro single ser “Time for Justice” como uma mensagem positiva diante do caos global. Apesar dos desafios durante a pandemia, conseguimos trabalhar no estúdio de forma adaptada e até fazer alguns shows. Encarei a situação como uma oportunidade para transmitir mais energia positiva e significado através da música.
Em “Fels in der Brandung”, temos uma balada orquestrada com o título e refrão em alemão. É impossível não estabelecer uma conexão com “Für Immer”, o clássico do Warlock. Era essa a ideia ou aconteceu por acaso?
Totalmente por acaso. Vou te contar rapidamente a história. Eu estava dirigindo e surgiu uma discussão acalorada enquanto resolvia problemas pelo telefone. Minha mãe, ao meu lado, mencionou: “fels in der brandung”. Fiquei inspirada e logo cantei a ideia no celular. “Fels in der brandung” significa “porto seguro”, algo no que apegar em tempos difíceis, o que achei um título excelente.
O momento mais curioso é a versão de “Total Eclipse of the Heart”, de Bonnie Tyler, com Rob Halford, do Judas Priest. É uma música extremamente desafiadora de cantar, certo?
Foi um grande desafio, especialmente porque o Rob adora essa música. Nos encontramos no Hellfest no ano passado e concordamos em fazer algo juntos. Quando o Metal God convoca, você precisa estar a postos. Foi a última música que gravamos e mixamos [para o álbum]. Estou muito feliz que o Rob tenha participado, foi como a cereja do bolo.
Quando você era apenas uma jovem fã de rock, quais foram os artistas ou bandas que primeiro chamaram sua atenção?
Kiss, com certeza. Quando eu estava na escola, era uma grande fã do Kiss. Depois, vieram Whitesnake, AC/DC, Dio, Motörhead, Judas Priest, Metallica, W.A.S.P., Venom, todos eles. Tive a chance de conhecer todos ou de fazer turnês junto deles. É incrível. Mas o Kiss, especialmente, marcou minha juventude.
E o que você achou dos avatares do Kiss?
Não tenho certeza ainda. Preciso me acostumar com isso. Prefiro vê-los ao vivo, é claro. Tocamos juntos em muitos festivais recentemente, como no Brasil e na Espanha. Foi incrível. Eu queria ter ido aos últimos shows no Madison Square Garden [em Nova York, nos dias 1 e 2 de dezembro de 2023], mas tivemos um compromisso no México que inviabilizou isso. É triste ver nossos ídolos se despedindo.
Você é uma inspiração para muitas meninas apaixonadas por rock e metal, como Fernanda Lira da Crypta e Prika Amaral da Nervosa. Gostaria que você falasse um pouco sobre elas e as bandas.
Crypta e Nervosa estão fazendo um trabalho incrível, não apenas no Brasil, mas também internacionalmente. Elas estão construindo um nome para si, especialmente na Europa, tocando em grandes festivais como o Wacken. Admiro muito essas bandas, especialmente por serem lideradas por mulheres talentosas. Estou sempre a postos para apoiá-las da maneira que puder. Costumo escolher bandas de abertura que tenham vocalistas ou instrumentistas femininas, como a Liv Sin, com quem já estive em turnê pela América. É importante para mim oferecer uma plataforma para bandas promissoras. Eu mesma tive a sorte de fazer turnê com grandes nomes do metal, como Judas Priest, Dio, Motörhead, entre outros, e sempre recebi muito apoio. Isso é algo pelo qual sou muito grata.
Ainda sobre o metal brasileiro, como você reagiu à notícia da despedida do Sepultura dos palcos?
Putz, cara, foi um baque! É realmente triste. Espero que não seja o fim, muitas vezes essas “despedidas” acabam sendo temporárias.
Você acredita que poderia ser uma oportunidade para reconciliação com os irmãos Cavalera e uma possível reunião da formação clássica para alguns shows?
Seria incrível, mas compreendo que há diferenças de opinião na banda. Às vezes, as relações não se recuperam após divergências. Seria ótimo para os fãs, mas talvez não seja viável. Nunca se sabe, pois é uma situação delicada.
Você teve a chance de ouvir o último álbum do Angra, “Cycles of Pain”?
Ainda não, estive tão imersa no estúdio que mal acompanhei as novidades. Mixar um álbum é um trabalho intenso e demanda total concentração. Trabalhei neste álbum por três anos, e os últimos meses foram particularmente intensos. Mas estou ansiosa para conferir.
Mas essa vida intensa foi a que você escolheu, certo?
Sim, exatamente. Sem reclamações. Estou feliz por poder fazer o que amo e ainda proporcionar alegria aos outros. A agenda é agitada, mas é gratificante.
Somos gratos por você ter escolhido essa vida.
Eu também sou. É incrível poder energizar as pessoas e levá-las junto nessa jornada.
Por Marcelo Vieira; Foto: Divulgação/Nuclear Blast Records