Staropoli fala da volta do Rhapsody of Fire à América Latina

Conhecido por sua mistura única de power metal com elementos sinfônicos e temática de fantasia, o Rhapsody of Fire está prestes a lançar seu mais novo álbum. Nesta entrevista, Alex Staropoli, tecladista e um dos membros fundadores da banda, compartilha detalhes exclusivos sobre “Challenge the Wind”, revelando que o trabalho, sem baladas ou introduções, é o mais intensamente heavy metal dos italianos.

Além disso, o Rhapsody of Fire está ansioso para retornar à América Latina, com uma turnê celebrando o 20º aniversário de “Symphony of Enchanted Lands II: The Dark Secret” (2004), programada para maio e que inclui única apresentação no Brasil. A promessa é de um show inesquecível em São Paulo (SP), com um setlist variado que abrange diferentes épocas da carreira da banda.

Rock Brigade: O próximo álbum “Challenge the Wind” está gerando muita expectativa entre os fãs. O que podemos esperar em termos de som e temática deste novo projeto?

Alex Staropoli: Bem, o álbum segue o caminho que começamos com “The Eighth Mountain” (2019) e “Glory for Salvation” (2021). A principal diferença é que não temos uma balada nem uma introdução; são apenas músicas rápidas de heavy metal. Isso é muito empolgante. Tivemos um tempo fantástico no estúdio, com baterias incríveis, guitarras e baixos potentes, muitos coros e harmonias vocais, além de grandes melodias. Mesmo assim, são músicas de ritmo acelerado, cheias de energia.

O título “Challenge the Wind” evoca uma vibe de aventura e superação. Há uma história por trás desse título que você pode compartilhar conosco?

Bem, a história continua. Começamos com “The Eighth Mountain” e, antes de mais nada, devo destacar o trabalho que Robbie [Roberto De Micheli, guitarrista] fez ao criar o enredo e o roteiro da saga. É realmente legal. Anos atrás, estávamos pensando no que fazer, e finalmente concordei em seguir com esta nova saga. Giacomo [Voli, vocalista], devo dizer, especialmente para este álbum, fez um trabalho incrível com as letras e a linguagem, que para mim são realmente importantes. Mais do que a própria saga, as palavras que usamos são importantes. Queremos sempre transmitir uma mensagem positiva nas letras, para que o ouvinte possa aproveitar tanto a música quanto a história ou apenas prestar atenção às letras. Existem muitas mensagens que gostamos de tentar transmitir com as letras, que podem ajudar os ouvintes e funcionar como gatilhos ou sugestões. É possível ser um herói todos os dias na sua vida. Não é necessário ser um herói no mundo da Marvel, sabe?

A letra de “Brave New Hope” parece carregar uma mensagem poderosa de esperança e determinação. Poderia nos contar um pouco sobre a inspiração por trás dessa música e como ela se encaixa no contexto mais amplo do novo álbum?

Essa aqui começa com algo que o Robbie criou com a guitarra. Essa é a abordagem que temos no início. Eu pego material principalmente dos riffs de guitarra do Robbie e de alguns versos ou outras partes que ele tenha. A partir disso, eu começo a ouvir o que gosto e escolho as partes que mais me agradam. Às vezes, algumas peças se destacam realmente, e essas são as que eu mais gosto. Este é um exemplo disso; é um pouco melancólico, mas, no final, o desenvolvimento da música pode mudar tudo. Estou orgulhoso de dizer que a colaboração com o Robbie tem ido bem. Não temos um plano específico para compor músicas específicas. Gosto de ter liberdade nesse sentido. Ainda tenho uma linha guia, mas gosto de me sentir mais livre.

Ao ouvir “Brave New Hope”, “Challenge the Wind” e “Kreel’s Magic Staff”, podemos sentir uma mistura de familiaridade e inovação. Como vocês equilibraram a evolução sonora da banda com a manutenção da identidade do Rhapsody of Fire?

Bem, eu acho que, novamente, um dos elementos mais importantes são as guitarras. E o Robbie, surpreendentemente, consegue manter esse equilíbrio, criando algumas partes que são como um espelho do passado, mas ainda assim com um toque de modernidade, porque ele também ouve música moderna, e isso é importante. O trabalho que faço é bastante clássico; eu ouço trilhas sonoras de filmes, música clássica. Então, para mim, o trabalho de arranjo, a criação dos refrões e das grandes melodias, das linhas vocais, é algo que faço como um pé nas costas. No entanto, é verdade que deve haver um toque de modernidade. E, claro, o mais importante é a mixagem. A mixagem que o Seeb [Sebastian Levermann, engenheiro de mixagem] fez realmente faz justiça à música que criamos. Caso contrário, seria uma bagunça, centenas de faixas sem sentido. Mas com a mixagem certa, você pode realmente desenvolver e apresentar a música da maneira mais definida. Ademais, acho que músicos de metal podem se beneficiar ao ouvir outros estilos de música e incorporar esses estilos no metal para criar algo diferente. Isso pode ser uma regra que se aplica a qualquer pessoa, mas, para mim, é importante manter os ouvidos abertos. Sempre tentamos trazer novos elementos, mas queremos ser fiéis à música que criamos e respeitar a nós mesmos e aos fãs fazendo o que amamos.

Os fãs estão aceitando bem esses novos elementos?

Sim, na verdade, é incrível. Fizemos uma turnê onde tocamos o álbum “The Eighth Mountain” na íntegra. Isso foi um pouco arriscado, porque não é tão comum fazer isso. Mas os fãs gostaram muito, pelo menos aqui na Europa. Foi muito legal. As novas músicas que fazem parte dessa saga têm, devo dizer, ótimas melodias que grudam na cabeça. A música que fazemos é feita com coração, energia e honestidade, e acho que os fãs realmente entendem isso.

“Symphony of Enchanted Lands II: The Dark Secret” foi lançado há 20 anos. Como você vê a influência desse álbum na trajetória do Rhapsody of Fire e no power metal como um todo ao longo dessas duas décadas?

“Symphony of Enchanted Lands II” representa algo importante para a banda, além do uso da orquestra, grandes coros e Christopher Lee. O que mais amo são todos esses elementos juntos. Quando componho, sempre tenho em mente Christopher Lee e os momentos incríveis que passamos com ele. Também penso na natureza, nos filmes e nas grandes paisagens. Todos esses elementos estão sempre presentes na música e sempre estarão, pois fazem parte de nós. O mundo imaginário de fantasia de “O Senhor dos Anéis”, “Conan, o Bárbaro” ou “Game of Thrones” está profundamente enraizado em nós. Adoro o estilo e a forma como essas imagens nos envolvem, e tento fazer o mesmo com a música.

Como você vê a evolução do power metal desde os primórdios do Rhapsody of Fire até os dias de hoje?

Devo dizer que sinto que fomos bastante estáveis no que fazemos. E, é claro, a mudança de alguns membros da banda pode trazer uma inovação, como no caso de Robbie, por exemplo. E, bem, tudo depende da música que você quer oferecer. Acredito que o Rhapsody of Fire pode fazer muito, mas ainda precisa ser fiel à música que criamos. Mas, graças a todos os elementos que podemos usar, desde o clássico até o barroco, das trilhas sonoras ao heavy metal, podemos criar baladas. Há muita coisa acontecendo já, então me sinto bastante sortudo em ainda conseguir incluir instrumentos e outras coisas, o que é muito legal.

Com mais de três décadas de carreira, como vocês mantêm a energia e a paixão pela música, especialmente dentro de um gênero tão exigente como o power metal?

É importante ter um objetivo, e nós temos um objetivo de longo prazo. Olhamos para o futuro e dizemos: “OK, vamos fazer isso em dois anos, faremos aquilo em cinco anos, em 10 anos faremos isto”. Então, é como um jogo, sabe? Fazemos o melhor que podemos com todas as nossas habilidades para criar a melhor música possível, fazer os melhores shows que conseguimos e conhecer o maior número possível de fãs. É realmente simples. Essas são as três coisas que amamos.

Há algum momento específico ao longo da carreira da banda que você considera um ponto de virada ou um marco importante?

Christopher Lee foi, sem dúvida, uma das coisas mais incríveis que poderiam ter acontecido para a banda. No entanto, devo dizer que estou bastante feliz com a formação atual [Staropoli, De Micheli, Voli, o baixista Alessandro Sala e o baterista Paolo Marchesich]. Todos nós somos italianos e, quando subimos ao palco, geramos muita energia que os fãs podem perceber. Estamos na expectativa de, após 12 anos, voltar para a América Latina. Esse é um bom momento para mostrar essa nova formação.

Quais são as suas memórias mais marcantes dos shows do Rhapsody of Fire na América Latina?

Os fãs, os fãs gritando e o amor que recebemos sempre foram uma experiência incrível, e estamos ansiosos para vivenciar isso novamente.

Há algo de especial na energia dos fãs brasileiros que se destaque para você?

Bem, o Brasil é o Brasil. Não existe outro país como o Brasil, e tocar em São Paulo, depois de tantos anos, é uma honra. O clima será ótimo, a comida será fantástica e os fãs, tenho certeza de que eles vão aproveitar muito. O que eu realmente gosto de dizer a todos que comparecerão ao show é que eles terão uma noite inesquecível, isso é certo.

O que os fãs brasileiros podem esperar do show único que vocês farão aqui em maio?

Como 2024 marca o 20º aniversário de “Symphony of Enchanted Lands II”, vamos tocar algumas músicas desse álbum, como “Unholy Warcry”, por exemplo. Teremos um setlist bastante variado, abrangendo diferentes épocas.

Para esses fãs que estão acompanhando a carreira do Rhapsody of Fire desde o início, qual mensagem você gostaria de transmitir neste momento?

Estamos nos preparando, quase fazendo as malas para ir ao Brasil. Esperamos vê-los logo e aproveitar juntos uma ótima noite em São Paulo.

Por Marcelo Vieira; Fotos: Massimo Battista / Divulgação