Entrevista: Russell Gilbrook comenta novo álbum do Urial Heep

Rock Brigade: O novo álbum “Chaos & Colour” traz a música “Save Me Tonight”, escrita em parceria com Jeff Scott Soto. O que você achou do resultado?
Russell Gilbrook: Essa música foi composta pelo Jeff e nosso baixista Davey Rimmer. No nosso álbum anterior, eles dois já tinham feito a música “Grazed By Heaven”. Para nós não é problema esse tipo de colaboração. Eles gostam de trabalhar juntos e na pandemia conseguimos criar tempo para que todos na banda pudessem contribuir. Eu me juntei a um amigo guitarrista para compor quatro músicas para o novo disco. O que fazemos é tentar escolher as melhores ideias de cada um e colocar no álbum.

Existe algum tema por trás de todas as músicas do novo álbum ou cada uma fala de algo diferente?
Elas funcionam de maneira independente. São histórias sobre diferentes visões que cada um de nós temos. A “Save Me Tonight”, por exemplo, é sobre a luta que todos nós passamos na pandemia. Já “Hail the Sunrise”, que eu fiz, é sobre a Stonehenge, mas pode ser sobre qualquer estrutura antiga que não se sabe como foi movida de um continente para outro. Levou um tempão para chegar lá e se tornou um lugar icônico para as pessoas visitarem.

O nome do disco é “Chaos & Colour”. Como a banda chegou nesse título?
O Mick Box que teve a ideia e todos nós amamos. Tem a questão do caos que todos nós passamos nos tempos da pandemia. Em oposição, temos a cor, que é a conexão entre as pessoas e a música. Nós no Uriah Heep sempre buscamos essa conexão com nossos fãs ao redor do mundo. Então, a cor é nossa música que escrevemos durante a covid. Esperamos que ela possa levar alguma mensagem nessa dificuldade toda.

A música “One Nation, One Sun” tem uma letra muito bonita de esperança e me lembrou “Imagine”, do John Lennon…
Essa música é do Mick e do Phil Lanzon, então não consigo te dizer exatamente sobre o que eles falam. Nós lançamos agora em janeiro, mas o disco foi gravado mais de um ano e meio atrás. Foi quando começou a acabar o lockdown. Ficou na gaveta um ano até a gravadora decidir lançar. Não tivemos muita oportunidade internamente de perguntar um para o outro sobre as músicas que fizemos. Agora, sempre entendemos que as músicas são abertas para intepretação. Eles podem significar algo diferente para um e para outro.

Vocês lançaram um vídeo animado da “Save Me Tonight”. O que achou do resultado?
Foi nosso primeiro single e a gravadora decidiu que queria um videoclipe para acompanhar o lançamento. Não queríamos que fosse com cenas de nós tocando no palco ou algo assim. Seria o típico vídeo, né? Queríamos algo diferente, mais interessante para os fãs antigos. Então, surgiu essa sugestão de fazer a animação. Contamos a história da letra na animação e todos nós curtimos muito o resultado.

Falando um pouco sobre o passado, qual foi sua primeira reação ao ouvir o clássico “Lady in Black”?
Essa música é um das mais legais da história do Uriah Heep. Acho que ouvi pela primeira vez uns 30 anos atrás, só que não saquei de primeira que era do Uriah Heep! [risos]. Acho que devido ao fato de ela ser bem grudenta. Ela é hipnótica, sabe? Principalmente a maneira que o refrão é cantado. O mais inteligente é que a letra é só “lá lá lá”, então qualquer pessoa no mundo consegue cantar junto! Acho que essa abordagem mais simples foi crucial para a música se conectar com as pessoas. Tem um groove muito bom também, ela é fácil de escutar. Funciona muito bem em festivais e shows menores. Dá para tocar só com o violão! Não podemos deixar de tocar essa nos shows nunca!

O Uriah Heep é famoso pela presença dos teclados nas músicas. Como você enxerga o papel do teclado no rock de maneira geral e no Uriah Heep?
Lá atrás tinha o The Who, Status Quo, Deep Purple e outras bandas que estavam fazendo experimentações com suas músicas. O Black Sabbath, por exemplo, foi para o lado mais metal e sinistro. Já o Uriah Heep, foi para o lado mais mágico e fantástico. Já que as bandas naquela época estavam fazendo experimentações, elas não necessariamente tinham duas guitarras. Às vezes podia ser apenas uma e um teclado junto. Muitas possibilidades surgiram. O Vanilla Fudge, dos EUA, influenciou muito o Uriah Heep e o Mick Box particularmente. Ele amava muito essa banda e foi certamente uma grande influência. Ele adorava o som do Hammond com a guitarra e não queria duas guitarras. Quando ele começou a compor, ficou muito bom, tipo o Jon Lord com o Deep Purple. No caso do Iron Maiden, eles preferiram colocar duas guitarras lá atrás. Essas bandas estavam pensando em maneiras de compor. A diferença entre o Uriah Heep e o Deep Purple é que nós tínhamos cinco vocalistas e o Deep Purple apenas um!

O Deep Purple está celebrando meio século de música. Qual sua opinião sobre eles? Como é a relação do Uriah Heep com eles?
Nós somos grandes amigos e nos conhecemos há um tempão! No ano passado, fizemos uns oito festivais com eles. Sempre nos divertimos quando nos encontramos. Existe um respeito mútuo muito grande entre as duas bandas. Agora, eles já escreveram mais singles de sucesso, como “Smoke on the Water” e “Black Night”. Nós temos “Easy Livin’” e “Lady in Black”, mas eles progrediram muito nessa questão. Nós ficamos mais progressivos e apostando em temas fantásticos. Somos amigos e estamos tocando ainda, o que é ótimo!

Em 2020, o baterista clássico do Uriah Heep, Lee Kerslake, infelizmente morreu. Qual sua opinião sobre ele de uma maneira geral? Você foi influenciado por ele?
Eu não digo que fui influenciado por ele, mas ele devia ter tido mais reconhecimento como baterista naquele começo. Ele era fenomenal e um baterista poderoso. Conseguia tocar de maneira bem rápida mesmo com um bumbo apenas. Ele compôs vários grooves icônicos para o Uriah Heep e tinha muita habilidade. Ainda era um ótimo cantor e compositor. O problema é que ele foi ofuscado pelo John Bonham e pelo Ian Pace. Essa é minha visão. Obviamente, ele mandou muito bem também no álbum “Blizzard of Ozz”, do Ozzy Osbourne.

Como foi sua experiência tocando bateria no álbum “The Mistery of Time”, do Avantasia?
Foi fantástico! Adoro tocar com pessoas diferentes. Gosto de colocar minha personalidade na música dos outros. O Tobias estava tocando com o Edguy na Hungria e eu estava lá com o Uriah Heep. Ele é muito fã da banda e viu nosso show. Ele entrou em contato comigo e disse: ‘Quero que você toque no meu próximo álbum!’. Encontrei ele na Alemanha e foi difícil gravar, porque não estou acostumado a tocar nessa velocidade com pedal duplo! [risos]. Precisei aquecer bem no estúdio antes e praticar um pouco. As músicas do disco são ótimas e gostei muito de tocar. Ainda falo com eles e sou muito orgulhoso do resultado.

Quais são os 5 discos que mais te influenciaram na vida como baterista?
Eu vim de um contexto de jazz e no começo tocava muito esse estilo. Então, começo citando o álbum ‘The Driver’, do Buddy Rich e “The Children of Sanchez”, do Chuck Mangione. Adoro tudo nesse trabalho. Também o “Spectrum”, do Billy Cobham. Quando ele lançou, foi fantástico. O trabalho de bateria é excelente. Provavelmente, colocaria o “Rising”, do Rainbow, que é uma obra-prima. Por último, colocaria o “Firepower”, do Judas Priest. Adorei as músicas nesse disco. É como deve ser o Judas no século 21.

(Texto: Gustavo Maiato)