Review: versão brasileira de ‘Crimes of Insanity’, do Tysondog

Relançado em março de 2021 pela parceria Rock Brigade Records/Voice Music, o álbum Crimes of Insanity saiu originalmente em 1986. 

O Tysondog levaria quase dois anos para preparar o sucessor de Beware of the Dog (1984). Quando Crimes of Insanity saiu, o panorama do metal mundial já era outro. Sacando isso — e reforçando a tese de que, nesse ínterim, a Inglaterra passara de criadora a seguidora de tendências —, Clutch Carruthers (vocais), Paul Burdis (guitarra), Kevin Wynn (baixo) e Rob Walker (bateria) se distanciam do heavy elementar quase cópia de Judas Priest do disco de estreia conforme estreitam laços com o emergente thrash estadunidense de bandas como Overkill e Flotsam and Jetsam. 

A ausência de Alan Hunter na segunda guitarra impossibilita que o ataque duplo à la Glenn Tipton e K.K. Downing presente em Beware se repita. Por outro lado, isso faz de Burdis protagonista e o cara entrega ótimos solos. 

Quem também não dá as caras — pelo menos não tanto em comparação — é o registro mais alto, quase halfordiano, de Clutch. O vocalista aqui opta por tons mais baixos e convoca os colegas a contribuírem com gang vocals — outro aspecto chupado do thrash — em todas as faixas que possuem refrão. 

No quesito letras, enuncia-se o fim do mundo (Judgement Day) e invoca-se o demônio tanto na primeira (Blood Money) quanto na terceira pessoa (Smack Attack). E se o alvo em Eat the Rich são os filhos de empresários que viram diretores na empresa do pai e os líderes religiosos que são pura bondade, só que da boca pra fora, a propositalmente anticomercial — não que alguma música aqui seja necessariamente comercial — The Machine é quase uma crônica da separação motivada pela máquina (leia-se a indústria fonográfica) que viria poucos meses depois.

Com o perdão do trocadilho, o único crime de insanidade propriamente dito é o tratamento quase punk dado a School’s Out.

Peço licença a Wilson Dias Lúcio, que assina a resenha publicada na Rock Brigade Magazine em 1987 reproduzida no encarte desta belíssima nova edição em CD, para discordar dele quando ele afirma que essa é uma das melhores versões que já ouviu do clássico de Alice Cooper. 

Passagens subtraídas, seções rearranjadas e um desfecho de vinte segundos que não dizem nada. ou o cara quis ser muito bonzinho no texto ou realmente se deixou levar pela empolgação que faz o VAR do bom senso perder a calibragem. 

(Publicado originalmente em Marcelo Vieira Music)

Fotos: Reprodução