Review e fotos: Bruce Dickinson e orquestra em Porto Alegre
Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre-RS
25/4/2023
Assim que esse evento foi anunciado para a capital gaúcha, sabíamos que seria um espetáculo diferenciado. E desde a confirmação de que faríamos a cobertura para a Rock Brigade, fiquei em dúvida se me isentava de sentimentos e narraria com um texto basicamente técnico ou se, ao contrário, colocaria toda a emoção de um grande admirador de Deep Purple “na ponta dos dedos” quando fosse produzir o conteúdo.
Acertadamente, resolvi encarar a segunda opção, o que me fez deixar de pesquisar os detalhes e de assistir previamente outras apresentações já acontecidas.
Mesmo com a expectativa de presenciar esse fato histórico no Rio Grande do Sul, a ficha só foi cair mesmo quando comecei a me dirigir para o auditório Araújo Vianna, espaço muito apropriado para a grandeza deste evento. Foi aí que um filme passou pela cabeça, e relembrei todas as vezes que peguei um LP do Purple, banda que foi e é um dos tripés da formação não só musical, mas de estilo de vida, desse que vos escreve.
Pensando em tudo isso, ainda me dei conta que também teríamos a cereja do bolo, pois Bruce Dickinson, além de ser uma das mais belas vozes da história do Rock/Metal, é um dos mentores deste projeto, por todo o contexto de amizade com o mestre John Lord. Sem contar com a participação da orquestra da Ulbra, que por si só já é um espetáculo à parte.
Já com as emoções a flor da pele, entramos no anfiteatro e procuramos um lugar onde pudéssemos assistir ao show. De início, o aclamado Bruce Dickinson faz uma breve apresentação da orquestra e da banda ― Tanya O’Callaghan (Whitesnake), John O’Hara (Jethro Tull), Kaitner Z Doka (Jon Lord), Bernhard Welz (Jon Lord), Mario Argandoña (Jon Lord) ― e explica como tudo iria funcionar, com uma primeira parte dedicada ao “concerto para grupo e orquestra”, um intervalo de 20 minutos, e uma segunda parte com músicas que todos ali reconheceríamos, arranjadas também para uma orquestra.
Dito isso, e aos primeiros movimentos do maestro, as notas começam a inundar o ambiente e as emoções também que. Confesso que fazia bastante tempo que não parava pra escutar essa obra (o concerto para grupo e orquestra).
Mas ela ali, na frente dos meus olhos e ouvidos, sendo executada com maestria por músicos e musicistas de nível elevadíssimo, me impactou muito, pois o adolescente que outrora não se atentava aos detalhes, hoje é um músico que consegue perceber toda a genialidade das composições do mestre John Lord.
Todas as nuanças de intensidade e emoções, velocidade e contratempos, colcheias e semicolcheias (mas não apenas elas) e a forma criativa de expressão de sentimentos em notas musicais, foi jogado aos mais de 3 mil presentes no recinto. Quase uma hora de música impecável. E ainda tinha a segunda parte.
Depois do intervalo, e com os músicos já posicionados no palco novamente, soam os primeiros acordes de “Tears of the Dragon” (do álbum “Balls To Picasso”), ovacionada e cantada por um coral de fãs. Seguiram com “Jerusalem”, uma música não tão conhecida mas belíssima, do álbum “The Chemical Wedding”. E depois ? Depois veio a catarse, veio o êxtase, veio o choro.
Emoções de um fã que jamais imaginaria presenciar um espetáculo que lhe trouxesse tantas memórias afetivas de um passado e de uma história que começou quase 50 anos atrás. “Pictures At Home” e “When A Blind Man Cries” (ambas do álbum “Machine Head”), “Hush” (do “Shades of Deep Purple”), e “Perfect Strangers” (do álbum homônimo) com arranjos espetaculares, merecedoras de “rios de lágrimas”.
Mas, como tudo tem um final, os músicos se retiram do palco. Só que ninguém “arreda o pé”, pois todos sabíamos que o encerramento seria com dois dos maiores clássicos do Purple, “Burn” (do álbum de mesmo nome) e “Smoke On The Water” (do “Machine Head”), ambas cantadas a plenos pulmões por uma plateia extasiada. Agora sim, as despedidas finais. “Scream for me, Porto Alegreeee”. Até uma próxima, Mr. Dickinson !
Por Flávio Soares; Fotos: Aline Jechow