Um bate-papo legal com Sharon den Adel, do Within Temptation

ROCK BRIGADE: Li uma entrevista em que você disse que não tinha certeza se o Within Temptation toparia fazer uma live. Você disse algo como, “se fizermos, terá de ser algo grandioso, inesquecível.” Bem, vocês fizeram uma das lives mais impressionantes desses tempos de Covid. Como foi a experiência para você e qual tem sido o feedback dos fãs até agora?
SHARON DEN ADEL: Foi pura emoção e entusiasmo. Usamos uma tecnologia que era uma combinação de videogame e videoclipe. Tocamos [nossas partes] ao vivo, mas foi [tudo] pré-gravado para evitar possíveis interrupções ou quaisquer percalços técnicos. Muitos de nossos fãs realmente gostaram e ficaram muito felizes, especialmente aqueles que não perdem um show e os que nunca puderam ir a um show nosso antes. A live foi realmente uma boa maneira para eles nos verem tocar ao vivo.

O que rolou de diferente em comparação a um show presencial?
Em primeiro lugar, não havia plateia. Eu estava cercada por um fundo verde, e isso não é lá muito inspirador. Como cada músico gravou sua parte separadamente, havia apenas a equipe técnica ao meu redor. Ao final de cada música, eles gritavam “Boa! Mandou bem!”, o que ajudou bastante! [risos]

Por meio dos cenários, das luzes, dos efeitos e principalmente da escolha do setlist, a mensagem ficou clara: a humanidade está se destruindo. Vocês abriram com Forsaken, uma baita escolha dada a atemporalidade da letra. Por mais que a letra diga “There’s no time anymore” [“Não há mais tempo”], você acha que ainda há tempo para a humanidade mudar e se salvar?
Eita! Pergunte aos cientistas. Se nem eles saberão dizer, quem sou eu para dizer? Não sei, espero que sim, espero que haja tempo. Sou uma pessoa muito esperançosa, e é importante falar sobre assuntos como este.

Como vocês não tocaram nenhuma música dos álbuns Enter (1997) e Mother Earth (2000), Forsaken foi a música mais antiga do setlist. Há um porquê de vocês raramente tocarem músicas dos primórdios da banda ao vivo?
Ainda tocamos coisas do Mother Earth nos shows. Mas para a live nós buscamos músicas que realmente combinassem com a temática do pós-guerra. Eram quatro cenários distintos, então priorizamos as músicas que melhor se encaixassem naquele contexto e as organizamos de modo a manter um fluxo no setlist. A ordem das músicas também é muito importante.

O novo single Shed My Skin compartilha as mesmas preocupações de Forsaken e se encaixou perfeitamente na temática da live. O quanto a participação do Annisokay ajudou a dar vida a essa faixa?
Quando estávamos em busca de inspiração para escrever uma música mais metalcore, eles eram uma das bandas que não paravam de aparecer na nossa playlist. Concluímos que “ok, eles são realmente bons” [risos] Depois que escrevemos essa música [Shed My Skin] com esse sabor metalcore, pensamos que talvez eles quisessem se juntar a nós. Escrevemos a letra antes de convidá-los [para participar], mas demos a eles total liberdade. Só que eles gostaram muito da música como a fizemos, então, não mudou muita coisa. Mas devo dizer, com suas vozes nela, [o resultado] é realmente impressionante. E nós os escolhemos também por causa de suas vozes. São caras muito talentosos e legais. Nos divertimos muito conhecendo-os e essa parceria é motivo de muito orgulho para nós.

Podemos considerar Shed My Skin uma prévia de como o próximo álbum do Within Temptation soará?
Não. Nem eu sei como nosso próximo álbum vai soar. Ainda não o terminamos. As únicas músicas que terminamos até agora são essas que lançamos [Shed My Skin, The Purge e Entertain You] e há uma música que ainda não foi lançada e outra que será o próximo single. Além dessas, ainda temos que compor, então, depois do verão, vamos compor pra caralho! [risos] Ano que vem faremos a turnê com o Evanescence, a Worlds Collide Tour, e precisamos terminar [de compor] mais ou menos antes disso, mas [o álbum] não será lançado antes do segundo semestre de 2022, se é que vai ser lançado até lá.

A qualidade está acima de tudo para nós. Além do mais, já compartilhamos muitas músicas com os fãs. Como eles já têm músicas novas para curtir, então acho que vão poder esperar um pouco mais. Mas faremos o possível para lançar o novo álbum no final do ano que vem.

Essa turnê com o Evanescence teve que ser adiada duas vezes devido às restrições relacionadas à pandemia. Como estão as expectativas para este encontro?
Não sei! [risos] Somos duas bandas semelhantes com influências semelhantes, mas nos desenvolvemos de uma maneira muito diferente uma da outra. Só que nós nos encaixamos muito bem e acho que muitos fãs têm o mesmo amor pelas duas bandas, o que é muito bom. Encontrei a Amy [Lee, vocalista do Evanescence] algumas vezes e senti que houve uma conexão entre nós duas, mas quanto a estar em turnê com eles é algo que ainda preciso experimentar e estou ansiosa por isso. [A turnê] ter sido adiada duas vezes é uma droga, mas tenho fé que em março e abril finalmente faremos isso acontecer. Pronta para isso eu estou; estou pronto há dois anos, aliás! [risos]

Você ouviu o novo álbum do Evanescence?
Ouvi, lógico.

Gostou?
Gostei. Algumas músicas têm aquela vibe meio anos 1980 e as letras são mais diretas e pessoais, o que eu amo.

Gravar com convidados especiais não é novidade para o Within Temptation, mas no álbum Hydra (2014) vocês cruzaram novas fronteiras em uma colaboração com o rapper Xzibit. O que vocês aprenderam a partir desse intercâmbio musical?
Como uma banda, queremos sempre ver o que funciona. Eu me lembro que amava a música que o Aerosmith gravou com o Run-D.M.C. [Walk This Way], era realmente incrível. Então, nós nos perguntamos se seria possível para o Within Temptation fazer um crossover com um rapper. Concluímos que sim, desde que fosse algum artista com quem nos déssemos bem a nível pessoal. Calhou de uma pessoa da nossa equipe conhecê-lo [o Xzibit] e foi assim que o abordamos. Além de ter sido uma boa colaboração, ele também adicionou um pouco de atitude à música [And We Run], resultando num crossover muito bom na minha opinião. Alguns amaram, outros odiaram, mas eu não me importo. Eu amei ― e não fui só eu, a banda inteira amou.

Se você pudesse escolher um artista de fora do rock ou do metal para fazer uma colaboração, quem seria?
Muitos! Tem tanta gente de quem gosto! [risos] Qual é o nome dela mesmo…? Um segundo, por favor… Deixe-me ver… [começa a vasculhar o Spotify] Achei! O nome dela é Kaz Hawkins. Me apaixonei pela voz dela porque ela tem uma música chamada Lipstick & Cocaine que é poderosa, intensa; triste, mas também forte. E ela tem uma voz incrííível. Musicalmente, é totalmente diferente do Within Temptation; é mais blues, mais direto, mais um monte de coisas. Mas realmente me tocou, então é isso. Quem sabe um dia, se ela quiser.

Ainda falando em outros gêneros musicais, quais artistas ou bandas seus fãs ficariam surpresos em saber que você tem na sua coleção?
Meu Deus. Sou uma garota dos anos 1970/80, né? E também dos anos 1990, até porque o Nirvana é a minha banda favorita de todos os tempos. Mas Fleetwood Mac, Santana, Chris Rea e E.L.O. foram os artistas e bandas que cresci ouvindo graças aos meus pais. Eles ouviam música o tempo todo e adoravam ir a shows, não perdiam um show sequer! [risos] Então herdei isso dos meus pais e cresci com essa trilha sonora incrível.

Poucos dias atrás, li alguém chamando a música Mother Earth de “o hino nacional de Valfenda”. Isso faz algum sentido para você?
Eu nunca vi uma Valfenda. O que é uma Valfenda?

É uma cidade de O Senhor dos Anéis.
Sério? [muitos risos] Eu não conheço, então não sei se posso concordar. Mas é aquilo, todo mundo tem sua própria interpretação de cada álbum, de cada música. Algumas pessoas amam certos álbuns e odeiam outros. Vejo um progresso natural de um álbum para o outro. Para nós é muito importante continuarmos nos desenvolvendo. Às vezes as pessoas ficam felizes com a maneira como nos desenvolvemos, mas como cada um tem uma visão diferente sobre tudo, é difícil agradar todos.

Muito da fama do Within Temptation no Brasil se deve às versões que vocês fizeram para músicas de outros artistas. Todas tocavam muito em clubes e boates daqui. De todas as versões que já fizeram, qual é a sua favorita?
Eu realmente gosto da… Ai, meu Deus… qual é o nome deles mesmo? Eu sou muito ruim com nomes de bandas, porque de alguma forma eles simplesmente desaparecem da minha cabeça! [muitos risos] Imagine Dragons! Essa versão [de Radioactive] é a minha favorita. Amo Imagine Dragons, especialmente aquele álbum [Night Visions, de 2013].

Além da Worlds Collide Tour e da possibilidade de um novo álbum, o que podemos esperar do Within Temptation para 2022?
Vamos tocar em muitos festivais ao longo ano, mas o foco é a turnê [com o Evanescence] e conseguirmos compor material para o álbum. Tudo isso vai tomar muito do nosso tempo, mas são coisas que amamos fazer, então acho que vai ser um ano muito bom para nós e não vejo a hora de colocarmos o pé na estrada!

Para encerrarmos, qual é o seu recado para os fãs aqui no Brasil?
Sei que estamos em falta com vocês e sei que o Brasil está passando por uma situação difícil, então torço para que vocês continuem aguentando firme e se cuidando. Amo todos vocês e espero poder vê-los em breve!

(por Marcelo Vieira)